Opinião
Independência ou Morte
Artigo de Rogerio Londero Boeira, da Cultman - Management & Education
A independência é algo que buscamos durante toda nossa evolução, seja como seres humanos, seja como células organizacionais ou sociedades, como o título sugere. Porém, o que esquecemos ou o que nem refletimos a respeito é que toda a independência é mais do que limitada, é utópica.
A valorização da individualidade e da intimidade de cada um não pode ser confundida com independência em nenhuma ocasião. O ser humano evolui sendo dependente não só da sociedade em que habita, mas dos outros, enquanto indivíduos. Desde que nascemos, dependemos dos pais, da família e de amigos para nutrir-nos e salvaguardar-nos física, emocional e moralmente. Desse meio, consolida-se a consciência, ferramenta que irá orientar nossas ações de contribuição para formação, como também de consumo das riquezas humanas, materiais e sociais.
O alcance da maturidade demonstra que é precisamente na dependência que o desenvolvimento humano está baseado. Essa dependência já é explicitada nas limitações para o desenvolvimento das competências humanas. É veridicamente impossível que uma pessoa seja, no mínimo, muito boa em múltiplas e não correlatas atribuições e especializações que a humanidade necessita. Há vários casos em que pessoas se destacam em várias atribuições correlatas. Mas um excelente jogador de basquete não será tão exímio ao jogar beisebol, como já provou um renomado atleta há não muito tempo. E por que isso? Porque na maioria absoluta das vezes a competência está aliada à dedicação com que se aplica à mesma. Mesmo em casos de genialidade, só se desenvolve e se consolida a competência a qual se dedica para isso. Como na estruturação de problemas, de acordo com a abrangência de nossas responsabilidades, precisaremos de maior ou menor nível de competência para sustentarmo-la. E a capacidade de se encarregar com deveres e obrigações é diretamente proporcional à experiência direta ou indireta com essa atribuição.
Em outras palavras bem conhecidas: é preciso muito mais transpiração do que inspiração, que só inicia o processo da criação. Logo, é de fácil compreensão que há exigência de dedicação, tempo envolvido, para se conquistar tais competências. Esse tempo encontra-se longe de estar disponível quanto mais avançamos na carreira. Existe de fato a necessidade do balanceamento entre a vida pessoal e profissional. Inclusive para que o desenvolvimento de ambas seja proporcional. Mas será que esse equilíbrio se acha na oferta de cursos e metodologias ainda distantes da realidade do mercado oferecidos pelas universidades brasileiras, que não conseguem ser classificadas entre as cem melhores do mundo? E não é por falta de investimento em educação.
Em um país em que a pseudo-independência de energia ou de financiadores é extremamente alardeada e propagada por seus líderes e celebrada pelos seus cidadão, demonstra-se um descompasso na conquista de maturidade individual e coletiva. Menos de dois anos depois de o governo federal anunciar tamanhas independências, a situação real mostra que tal objetivo é fantasioso. Da mesma forma, também o é um país em que todos possam ter nível superior sem terem nunca aprendido de fato, como o sistema atual de ensino brasileiro permite. Chega a ser cruel iludir uma pessoa ao longo de toda a sua vida, do maternal à graduação, demonstrando para ela que está tudo bem se ela não se dedicar mais, porque mesmo assim ela conseguirá um diploma de nível superior. Atrocidade sem limites que desperdiça talentos inatos que formariam um país pensante em um futuro próximo, onde se exigiria cadeia para todos os corruptos e não se permitiria o nível de desrespeito e descaso que a classe política chegou. No entanto, atualmente, tal classe bem representa a falsa sensação de independência que o conforto sedutor da ignorância oferece em contrapartida ao encargo obtido e menos atraente da responsabilidade na busca contínua pela aprendizagem.
Rogerio Londero Boeira é especialista em desenvolvimento de pessoas da Cultman – Management & Education