Opinião

Monitoramento de reservatórios

A coluna bimestral de Armando Cavanha Filho

Por Redação

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Os levantamentos sísmicos têm sido a principal ferramenta para mapear as estruturas geológicas de subsuperfície, com foco na exploração de hidrocarbonetos. Entre os principais avanços tecnológicos na geofísica estão a gravação e o tratamento digital dos dados, seguidos pelas obtenções em 3D. Além disso, nas últimas décadas os levantamentos sismográficos passaram a ser usados como uma ferramenta de gerenciamento da explotação dos campos de petróleo. Os levantamentos 3D de alta resolução, repetidos em diferentes fases da vida útil do campo (gerando o 4D), permitem, então, um acompanhamento ao longo do tempo. Um requisito importante para esta sistemática é que a repetição da obtenção de dados mantenha os parâmetros iniciais, incluindo a localização de emissores e receptores das ondas acústicas, o que permite verificar mudanças ocorridas no reservatório. Para operações em mar isso é um desafio, pois o próprio conjunto barco e cabos receptores chega a ocupar uma área de cerca de 80 km2 na superfície marinha.

Um campo de petróleo offshore é uma área movimentada, com várias operações simultâneas e restrições à navegação nas proximidades das unidades fixas e móveis. Isso torna complexa a repetição de levantamentos sísmicos 3D convencionais (barco mais conjunto de cabos receptores). Já levantamentos com receptores autônomos (nodes), que podem ser colocados no fundo marinho, têm grande flexibilidade em relação ao posicionamento e se adaptam às áreas com desenvolvimento da produção, pois o fundo do mar é bastante habitado por equipamentos e linhas de produção. Esses receptores autônomos, contudo, dependem de baterias para permanecerem ativos, necessitando também serem recolhidos de tempos em tempos para fazer a captura dos dados adquiridos. O ideal seria que eles pudessem ficar em posição durante toda a vida útil do campo. 

Uma alternativa promissora e que começa a ser testada no campo de Jubarte de maneira pioneira em águas profundas é a utilização de cabos de fibra ótica para conexão entre os receptores permanentementes instalados no fundo marinho e o FPSO responsável pela produção. Esse método permite que os dados sejam transmitidos diretamente para a plataforma sem precisar recolher os receptores. E como o material condutor é a própria luz, dispensa-se o uso de baterias.

O crescimento do número de campos em produção no Brasil e o tempo de vida de cada reservatório estão tornando viáveis tecnologias e os custos dessas soluções. Potencialmente há 138 campos offshore, em sete diferentes bacias sedimentares, que podem ser beneficiados com o monitoramento contínuo.

Entre as vantagens dos sistemas de monitoramento permanente estão a tendência de maior razão de recuperação de óleo dos reservatórios e melhoria sensível do gerenciamento do risco operacional e ambiental. Além disso, podem ser acompanhados os movimentos de fluidos e possíveis acomodações estruturais, dados úteis na prevenção e no apoio em vazamentos e controle de acidentes. Quem sabe alguns dos desastres dos últimos anos fossem mais facilmente e mais qualificadamente evitados, acompanhados e resolvidos se esses sistemas já estivessem instalados.

O incentivo ao domínio definitivo dessa tecnologia pelo Brasil poderá tornar o país centro difusor de materiais e serviços nas próximas décadas. Seria a forma de viabilizar operações constantes e contínuas em nossas águas, aumentando a confiabilidade dos sistemas próprios e exportando serviços para os que não ainda iniciaram esta solução.

Tanto a ANP como federações de indústria, entidades de classe e associações de fornecedores e de operadoras poderiam juntar forças e plantar esta semente, criando uma atividade de pesquisa e fabricação local, como tantas outras linhas de trabalho instaladas na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro. Utilizando recursos devotados ao desenvolvimento de tecnologia de tributos e taxas de petróleo no país.

 

A coluna de Armando Cavanha Filho é publicada a cada dois meses
Email: aocava@gmail.com

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