Opinião
A nova palavra de ordem para o Gás Natural Liquefeito
Brasil passa a despontar como alternativa atraente para produtores de GNL em busca de novos mercados
A conferência GNL-18 realizada em Perth, Austrália, de 11 a 15 de abril foi muito prestigiada, com a participação do Primeiro Ministro da Austrália, governadores e ministros australianos e os CEOs das principais empresas petroleiras, os quais reafirmaram a importância do gás natural para a economia australiana e mundial. Apesar das restrições e cortes orçamentários, a conferência reuniu quase dois mil delegados.
Em 2015 o comércio internacional de GNL atingiu quase 245 milhões de toneladas por ano (MTPA), um crescimento de 1,9% com relação a 2014. Atualmente existem 20 países exportadores e 33 países importadores. Alguns países como o Egito, Malásia e Indonésia, acumulam o papel de
exportadores e importadores
.Porém, o setor passa por um período de “soul-searching”. A queda nos preços de GNL no mercado internacional é resultado da queda dos preços do petróleo e ainda do excesso de capacidade de liquefação, devido à contração da demanda asiática e super-oferta de novos projetos na Austrália e
nos EUA. A maior parte das apresentações sobre oferta e demanda concluiu que o mercado estará super-ofertado até 2022-2023. Ou seja, entramos em um período de mercado bom para o comprador. Em março de 2016, o preço spot de GNL na Ásia era da ordem de USD 4,0-4,5/MMBtu, contra um preço médio de USD 15,60/MBtu em 2014.
Nesse sentido as novas palavras de ordem para a indústria podem ser resumidas nos quatro Cs: custos, colaboração, criação de nova demanda e competitividade.
No capítulo custos, além de renegociação de contratos e descontos nos preços dos EPCs, a indústria tem discutido como estandardizar os projetos, construir unidades de liquefação menores e mais baratas, de 2-3 MTPA, em contraposição aos mega-trens da década passada (5 a 7,8 MTPA). Além de uma revisão nos conceitos dos projetos. Por exemplo, existem três projetos de liquefação em Queensland, no nordeste da Austrália, cujas plantas de liquefação estão localizadas praticamente lado a lado, cada uma alimentada por um gasoduto independente, quando a lógica econômica apontaria para um gasoduto compartilhado. A indústria manifestou a preocupação de que o corte excessivo nos preços dos supridores de equipamentos e construção pode resultar em ganhos no curto prazo, mas destruir a capacidade técnica no longo prazo, daí a necessidade de maior colaboração entre produtores e supridores de equipamentos e construção.
No capítulo colaboração muito se discutiu a possibilidade de colaboração entre vendedores e compradores, com preços e condições contratuais mais flexíveis, por exemplo, contratos sem cláusulas de destinação fixa, volumes flexíveis de acordo com a sazonalidade do comprador, e ainda
preços refletindo as condições específicas de cada mercado. Falou-se muito sobre colaboração entre vendedores, mas ainda não se desenvolveram casos práticos em tal sentido.
No campo da criação de nova demanda, os produtores manifestaram interesse em criar novas aplicações para o GNL, particularmente no mercado veicular e de cabotagem marítima. Além disso, diversos produtores manifestaram interesse em investir no mid e downstream para ajudar a reduzir
as barreiras de financiamento para compradores de menor porte e com baixa notação de crédito. A nova realidade é a entrada no mercado importador de países como o Egito, Paquistão, Jordânia e Lituânia, que além de menores, possuem notação mais baixa que compradores no norte da Ásia e Europa. Diversos estaleiros estão se propondo a construir navios de transporte e de regaseificação de GNL de menor porte, embora os prazos de construção desses navios ainda beire 48 meses.
Quanto à competitividade, a indústria está consciente que a queda no preço dos competidores do GNL, carvão e petróleo, torna mais díficil a penetração em novos mercados, daí a necessidade de competitividade em preços e condições de oferta. Diversos palestrantes abordaram a necessidade de inovação no campo técnico, comercial e regulatório, enfatizando que os governos também precisam colaborar na implementação de regime fiscal mais atrativo e remoção de barreiras burocráticas.
Nesse momento em que os produtores de GNL estão buscando novos mercados, o Brasil passa a despontar como uma alternativa atraente, particularmente para os projetos em construção nos EUA. Nesse sentido uma das grandes petroleiras anunciou publicamente que estará suprindo um projeto de geração termoelétrica no nordeste do Brasil, tendo destacado seu objetivo de oferecer condições mais flexíveis.
A retirada parcial da Petrobras do mercado de GNL no Brasil, com a anunciada venda de terminais de regaseificação e a indefinição sobre a demanda de eletricidade, fruto da recessão porque passa o Brasil, são fatores de incerteza, em um momento em que o Brasil poderia vir a se beneficiar de
condições mais flexíveis e competitivas para a importação de GNL. Em 2015 o Brasil importou 5,2 MTPA, constituindo-se no nono importador em escala mundial. Tal situação dificilmente virá a se repetir em 2016, com o desligamento das usinas termelétricas mais ineficientes e com a
desaceleração do consumo de gás no setor industrial, que caiu cerca de 10% desde o final de 2015.
Os novos projetos termelétricos a GNL estão previstos para entrar em operação a partir de 2019, ou quando o mercado ainda deverá estar sobre-ofertado, o que deve contribuir para a maior competitividade da geração termelétrica no Brasil.