Novo ciclo do offshore: inovação orientada a dados e valor

Opinião

Novo ciclo do offshore: inovação orientada a dados e valor

Mantendo disciplina operacional e investimento contínuo em inovação, o Brasil pode afirmar-se como referência internacional de engenharia offshore responsável, atraindo capital, retendo expertise local e ampliando oportunidades em toda a cadeia

Por Rogerio Salbego

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O Plano Estratégico 2025‑2029 da Petrobras, que prevê investimentos de US$ 111 bilhões, sinaliza uma fase de expansão sustentada pela busca de produtividade e eficiência nas bacias de Santos e Campos — o núcleo da produção nacional. Mais que volumes de óleo e gás, o que se redefine agora é o padrão operacional: plataformas de grande porte, processos digitais e métricas rígidas de desempenho técnico‑ambiental.

Nas últimas duas décadas, o Brasil consolidou competências singulares em águas profundas. Operar um FPSO (unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência) capaz de processar 225 mil barris de petróleo por dia e 12 milhões de m³ de gás por dia deixa de ser façanha isolada para se tornar referência recorrente. Essa maturidade abre espaço para avançar em três frentes complementares:

Excelência operacional contínua: Com a concentração de investimentos em Santos e Campos, cada incremento em confiabilidade, logística ou manutenção converte-se em retorno direto. Inteligência de dados, inspeção remota e integração em tempo real entre plataforma e base em terra deixam de ser tendência para se tornarem pré‑requisitos competitivos.

Inovação orientada a valor: Robótica submarina, monitoramento avançado de integridade, modelagem digital e projetos pilotos de redução de emissões elevam a reputação do País como laboratório tecnológico offshore. Parcerias entre operadoras, universidades e fornecedores aceleram a transformação de pesquisa aplicada em resultado industrial.

Preparação para oportunidades emergentes: Embora o foco atual permaneça nos polos consolidados, novas áreas — como a Margem Equatorial — entram gradualmente no radar regulatório e geológico. Estar preparado não é produzir já, mas antecipar requisitos de engenharia, diálogo comunitário e licenciamento. A cadeia de suprimento monitora esses sinais para replicar eficiência onde a demanda surgir.

Esse movimento traduz uma mudança de mentalidade: passamos da corrida por reservas para a corrida pela performance integrada - confiabilidade operacional, redução de impacto e geração de conhecimento caminham juntas. Quem dominar dados, processos e talentos tende a definir o ritmo do setor.

Ao mesmo tempo, a experiência acumulada permite redesenhar a lógica de desenvolvimento: uma engenharia mais digital, mais territorializada e mais inclusiva, que articule polos regionais de pesquisa e formação técnica desde a concepção dos projetos, ampliando densidade tecnológica e retenção de capital humano.

O Brasil entra neste ciclo em posição vantajosa, mas a consolidação não virá apenas da escala dos investimentos, e sim da qualidade das soluções. O que está em jogo ultrapassa a produção imediata: trata-se de construir um modelo energético alinhado a maturidade institucional, compromisso com o desenvolvimento e visão de longo prazo. Mantendo disciplina operacional e investimento contínuo em inovação, o país pode afirmar-se como referência internacional de engenharia offshore responsável, atraindo capital, retendo expertise local e ampliando oportunidades em toda a cadeia.

 

*Rogerio Salbego, engenheiro e técnico Mecânico, possui MBA em Administração de Negócios pela PUC-Rio e é presidente da Seagems, empresa brasileira especializada em engenharia submarina.

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