Opinião

Novos exportadores

A coluna bimestral de Armando Cavanha Filho

Por Redação

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Nos últimos anos, os EUA têm consumido cerca de 18 milhões de barris e produzido perto de 6 milhões de barris de petróleo por dia (indexmundi.com). “Por volta de 2020, prevê-se que os Estados Unidos da América serão o maior produtor mundial de petróleo (ultrapassando a Arábia Saudita), época em que o impacto das novas medidas de eficiência no consumo de combustível começará a ser notado no setor do transporte. A consequência deverá ser uma redução drástica das importações de petróleo pelos Estados Unidos, até a América do Norte se tornar um exportador líquido de petróleo, por volta de 2030” (iea.org).

Se a previsão da Agência Nacional de Energia (IEA) for certeira, então, em 15 anos, os EUA deverão produzir 12 milhões de bbl equivalentes por dia a mais do que atualmente, sem considerar o crescimento interno de consumo ou eficiências energéticas em curso. Assim, se atualmente a Arábia Saudita, a Venezuela e outros países produtores exportam volumes expressivos de petróleo para os EUA e sobrevivem com esses recursos de exportação, em menos de duas décadas não mais terão a entrada de divisas provenientes dessa venda contínua. A não ser que outros importadores venham a substituir no futuro os volumes importados hoje pelos EUA. 

O Brasil também deverá se tornar um exportador de petróleo, pois em 2020, por conta das reservas encontradas no pré-sal, o país poderá estar produzindo cerca de 6 milhões de barris por dia, enquanto o consumo deverá estar na faixa de 3 milhões de barris/dia, conforme o texto “Produção de petróleo no Brasil deve atingir 6,1 milhões de barris em 2020”, do Portal Brasil (brasil.gov.br).

Por isso, algumas perguntas podem ser feitas: Como ficarão as licitações de blocos no Brasil, tanto por concessão como por partilha de produção? O compromisso da Petrobras em investir 30% em todas as atividades no pré-sal, determinado pelo modelo de partilha, permanecerá viável? É possível para a Petrobras se manter operadora única do pré-sal por longo tempo? O modelo produtivo de pequenos campos e operações em terra terá uma nova distribuição empresarial? Quais serão as consequências para as fábricas locais de bens (equipamentos e materiais) e serviços? Como evitar rupturas de investimentos em bens e serviços com possíveis descontinuidades de licitações de novos blocos? Haverá maior ou menor relevância para a política de conteúdo local no país? Como estarão preços e disponibilidade de equipamentos e serviços críticos para essa nova fase? 

Essas e inúmeras outras questões sugerem a necessidade de simulações e discussões. Seria recomendável planejar esse futuro próximo, pois ele poderá desequilibrar a atual maneira de se fazer as coisas. A previsão de volumes a consumir e a produzir, bem como as consequências em recursos, devem estar nas agendas de governo, indústria, instituições e trabalhadores. 

Vale a pena estudar as influências e os redirecionamentos nos fluxos financeiros entre países, no fornecimento de equipamentos, serviços e mão de obra locais. Tanto por conta do aumento da atividade brasileira como pelas novas atividades americanas. E também novos equilíbrios energéticos, novos fluxos de transporte mundial de óleo e gás, novas iniciativas tecnológicas de bens e serviços para a cadeia de petróleo.

Merece detalhamento e confirmação a sustentação dos volumes futuros de produção dos EUA, tão distintos dos atuais. Por quanto tempo estarão capacitados a produzir essas enormes quantidades de forma contínua? Quais as tecnologias substitutas que forçosamente virão para tomar espaço quando essa produção de petróleo começar a declinar, tanto por força da exaustão de reservas como por preços ou variáveis estratégicas mundiais?

As relações geopolíticas entre países deverão mudar, não se sabe ainda para qual situação, tanto no campo político, financeiro, como no campo produtivo e fabril. Tudo com influência significativa na indústria de bens e serviços. Novos fluxos, nova relação de forças e ajustes importantes poderão acontecer.

 

A coluna de Armando Cavanha Filho é publicada a cada dois meses
E-mail aocava@gmail.com

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