Opinião

O limite da competência ameaça?

Artigo de Rogerio Londero Boeira, especialista da Cultman – Management & Education

Por Redação

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O apagão de mão de obra nacional, vivenciado há tempos por setores como o de petróleo e gás, está no cerne da motivação do Estado ao propor a modificação da regulamentação da emissão de vistos de trabalho para estrangeiros e o projeto de lei que trata da terceirização e altera a legislação trabalhista brasileira. Pela quantidade e complexidade de empreendimentos em desenvolvimento no país, a disponibilidade de profissionais experientes e com excelente base, capazes não apenas de acompanhá-los e gerenciá-los, mas de  liderá-los de forma responsável e eficiente, é mais do que urgente.

Experiência, contudo, pede tempo de vivência, participação em projetos e envolvimento em problemas reais. E tempo é um bem escasso quando se necessita cumprir demandas imperativas. Assim, qual seria a real disponibilidade de nossos profissionais para se dedicar à aprendizagem contínua, que amplia e consolida a experiência?

As responsabilidades aumentam proporcionalmente quando a competência para responder eficientemente a um maior número de problemas cresce. Daí vem a pergunta: o limite da competência ameaça? Tal questão, colocada como diálogo, não pode nem deve perturbar a ordem estabelecida, mas sim reorientá-la. E essa reorientação pode estar em três vertentes.

A primeira: as instituições responsáveis pelo estabelecimento das políticas e a execução das diretrizes de desenvolvimento devem refletir não só sobre o que está sendo proposto, mas principalmente sobre como está sendo executado. O limite da competência, nesse caso, poderia ser um empecilho, ao serem priorizadas ações políticas em detrimento de soluções técnicas? A chave pode estar também na falha de planejamento ou na falta de revisões periódicas para correções de rota.

A solução pode estar ainda na admissão de que há erros, mas que se primará por sua correção. Vale observar o local onde os maiores empreendimentos do setor de petróleo e gás estão sendo realizados. Essas regiões primam pelo crescimento ordenado? A formação profissional leva em conta aspectos que vão além da qualidade necessária apenas para o estabelecimento de tais empreendimentos? A violência nessas localidades vem diminuindo?

A segunda vertente se refere às corporações e à maneira como lidam com as limitações de competência. A finalidade justa e natural da existência de toda organização é o lucro. No entnato, nessa busca, independente da condução ética e do compromisso que assuma com a sustentabilidade do negócio e da sociedade, nem sempre os valores defendidos nos estatutos são colocados em prática. A responsabilidade das empresas não se restringe à contratação de pessoas ou à relação com clientes e fornecedores, mas precisa estar presente também no incentivo à formação profissional, na estruturação da maturidade de todos os públicos de interesse. Essa atitude perpassa as equipes e torna tanto o colaborador, alvo do desenvolvimento, como seu líder responsavelmente solidários ao esforço do grupo. E a vontade individual de autodesenvolvimento do colaborador deve superar a expectativa das suas limitações para que ele seja capaz de ampliar a capacidades de entrega de suas atribuições. 

Por fim, a terceira vertente levanta o papel das escolas e universidades. O sistema de ensino brasileiro está notadamente distante dos melhores do mundo. Um questionamento interessante seria o percentual de projetos de inovação em curso que trabalham com a multidisciplinaridade nas universidades, conjugando esforços de diferentes escolas, como engenharia, economia, comunicação ou química. Essa interação é priorizada nos países que despontam como os tecnologicamente mais avançados no mundo. 

“Como se aprende?” é uma pergunta que jamais deve deixar de ser feita. Por isso, a permissão à dúvida deve acompanhar o desejo de aprender. Mas quanto os profissionais brasileiros, seja no governo, nas organizações ou nas escolas, estão comprometidos com a aprendizagem genuína e incorporam essa permissão ao processo de aprendizagem?

 

Rogerio Londero Boeira é especialista em desenvolvimento de pessoas da Cultman – Management & Education

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