Opinião

O timing e a reputação

Na comunicação, o momento escolhido para a realização de uma ação tem um impacto muito relevante em seu resultado final

Por Redação

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Na comunicação, o momento escolhido para a realização de uma ação tem um impacto muito relevante em seu resultado final. Esse momento, conhecido pelo termo timing, é a chave de alguns fatos da história, e nos ajuda a entender por que uns ou outros acontecimentos apresentaram ou não êxito, em função do momento em que foram realizados.

Nos mercados se entende que, para definir com clareza quando é melhor executar uma operação, é importante entender qual a oferta de valor e qual a percepção que rodeia essa oferta. É mais do que sabido que um contexto complexo pode impactar negativamente a reputação de uma boa oferta, afetando, consequentemente, o objetivo esperado.

Próximo à 13a rodada da ANP, esta pergunta torna-se inevitável: seria este o timing mais adequado para realizá-la, considerando o contexto da reputação do país e o cenário internacional? Com 38 empresas pré-qualificadas, oriundas de 17 países, a nova rodada prevista para 7 de outubro reserva boas ou más surpresas para a aquisição dos 266 blocos (22 setores) em dez bacias, localizadas em dez estados brasileiros. Tomara que a coincidência dos dez perdure!

A queda do preço do barril no último ano mudou uma realidade até então de vento a favor das companhias do setor. Impacto tão relevante que as obrigou a uma profunda revisão de seus planos de negócio para os próximos anos, e a uma drástica redução de investimentos. Diferentemente de outros segmentos, a indústria de óleo e gás não via uma crise tão preocupante desde a Guerra do Golfo, em 1991.

E o certo é que a realidade dos baixos preços do petróleo se manterá por um tortuoso tempo. Novas técnicas de produção (fracking); a decisão dos países pertencentes à OPEC de não reduzir sua produção, e a incorporação de novos países produtores, como o Irã, após o encerramento do embargo internacional, somam-se à queda das perspectivas de crescimento do consumo mundial, especialmente com a drástica freada da China, o segundo consumidor mundial. Mais uma vez percepção e realidade...

Esta situação externa se amplia com as novas e diferentes oportunidades de investimento que se abrem para as companhias internacionais em outros mercados até então fechados. Não há como não citarmos o México, onde a primeira rodada de blocos após 70 anos foi tão decepcionante que exigiu uma modificação das garantias financeiras, para que a segunda rodada se tornasse mais atrativa à participação das companhias estrangeiras.

A outra pergunta não dispensável está relacionada à atual reputação econômica do Brasil. A 13a rodada ocorre no momento em que o país atravessa um dos mais graves cenários econômicos internos dos últimos 20 anos, culminando com a redução da nota de sua dívida soberana no grau especulativo pela Standard & Poor’s, e o mais provável descenso da qualificação das outras agências de rating. Este impacto virá em duas vias. Por um lado, vai limitar a entrada de capitais devido às restrições de alguns fundos para investir no Brasil, e, por outro, encarecerá as fontes de financiamento para captação de capitais destinados à realização de projetos por parte das companhias. É um golpe no crescimento do país, mas sobretudo também na sua reputação como mercado atrativo para os negócios.

O governo e a ANP estão conscientes do cenário complexo e das percepções sobre esta nova rodada. E até se esforçaram e adaptaram algumas condições ao novo contexto. O mercado reagiu, deu mostras de interesse aparente, e o número de empresas inscritas superou a rodada anterior, porém o resultado econômico ainda é incerto.

Todas essas questões nos levam a pensar que estamos em uma licitação na qual o êxito dependerá não só do grau de influência dos diferentes fatores que compõem o contexto sobre a percepção da proposta de valor, mas também da avaliação do mercado de como o Brasil atua para mitigar os impactos da sua atual reputação internacional.

Assim poderemos definir se o timing escolhido foi o adequado, alcançando resultados positivos, ou talvez se com uma proposta de mudança das condições econômicas da oferta, assim como fez o México, o país melhore a percepção de valor na rodada. Consequentemente, influirá para mostrar seus esforços na recuperação de sua reputação de sexta maior economia do mundo. Rumo novamente ao crescimento.


Yeray Carretero é diretor-executivo da Llorente e Cuenca no Brasil

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