Opinião

Oportunidades e desafios para a indústria de óleo e gás brasileira

Artigo de John Galante, analista líder para a América Latina da ESAI Energy

Por Redação

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O Brasil vem experimentando uma verdadeira revolução no setor de óleo e gás. Em oposição à situação pela qual passou no fim da década de 70 e início dos anos 80 – quando a dependência da importação de óleo cru prejudicou a situação fiscal, monetária e a balança comercial do país, levando-o à década perdida de 1980 –, o Brasil registrou, nos últimos dez anos, um aumento de 25% na produção líquida de petróleo, alcançando o patamar de 2,1 milhões de barris/dia e alçando a sua indústria petrolífera ao status de propulsora de seu crescimento econômico e desenvolvimento industrial.

Hoje, contudo, a indústria petrolífera brasileira e seu principal player, a Petrobras, estão diante de um momento chave em que terão de definir o caminho a ser trilhado nos próximos dez anos. Se há, por um lado, a expectativa de que a produção de recursos em águas ultraprofundas – incluindo as desafiadoras reservas do pré-sal – passe por um período de crescimento, sendo objeto de novos investimentos, por outro a extensão desse crescimento e o volume de tais aportes permanecem obscuros. Isso dependerá das condições internas do país, bem como de complexos fatores internacionais que poderão impactar a Petrobras e todo o setor petróleo brasileiro.

A despeito de tudo o que já foi realizado no Brasil e das oportunidades que assomam no horizonte do país, o setor petróleo brasileiro está envolto em riscos e incertezas. Os resultados frustrantes e a alavancagem excessiva da OGX alertaram a indústria sobre os perigos da sobre-exposição e os riscos associados a negócios offshore em menor escala. Atrasos na construção de importantes empreendimentos, como as novas refinarias da Petrobras, também vêm abalando a confiança de investidores estrangeiros e do setor privado. O leilão da área de Libra exigirá que esses atores superem um ambiente regulatório oneroso, a fim de se comprometer com a difícil e cara missão de explorar e produzir no pré-sal. 

Até o momento, a Petrobras tem conseguido superar com sucesso diversos obstáculos, em termos de construção e desenvolvimento tecnológico, em seus esforços pelo aumento da produção de óleo e gás no Brasil e se mantido firme, apesar das incessantes alfinetadas por parte de seus críticos. Hoje a petroleira brasileira é um modelo para a Pemex, sedenta por uma reforma, e para companhias de mercados emergentes da América Latina e outras regiões. Um importante vetor do sucesso da Petrobras foi a integração da indústria petrolífera com o boom econômico brasileiro na última década.

O ritmo constante de expansão e a crescente sofisticação da economia brasileira apontam para um futuro de sucesso para a Petrobras. Ciclos econômicos à parte, a ESAI Energy estima que a demanda brasileira por derivados de petróleo subirá mais de 20%, de 3,1 milhões de barris/dia em 2013 para 3,8 milhões de barris/dia em 2023. Até lá, a capacidade de processamento das refinarias brasileiras terá um acréscimo de 500 mil barris/dia, o que garantirá mercado para a já elevada produção de petróleo offshore no Brasil. Essa é uma boa notícia para uma petroleira integrada ao mercado doméstico como a Petrobras.

No entanto, para atingir as principais metas e conquistar um lugar de destaque em escala global, a estatal, o governo brasileiro e a indústria em geral terão de ser cautelosos em seu posicionamento no altamente competitivo e sempre em transformação mercado petrolífero internacional. Muitas previsões ambiciosas sobre o setor florescem a todo momento, especialmente nas Américas – das areias betuminosas do Canadá ao shale da Argentina. Várias delas, porém, podem se mostrar frustradas. Afinal, até mesmo o crescimento da demanda asiática por petróleo tem limites, sem contar o fato de que os produtores do Oriente Médio podem ajustar a produção e os preços para manter seu market share de leste a oeste.

A perspectiva de aumento do abastecimento global de petróleo significará uma pressão negativa sobre os preços nos próximos anos. Os preços mais baixos vão expor como nunca ineficiências no processo de produção, bem como problemas regulatórios e operacionais, particularmente no que se refere aos reservatórios não convencionais. Somente projetos de E&P, ambientes de negócio e empresas mais competitivos serão bem-sucedidos no cenário internacional.  

Para a Petrobras, portanto, o sucesso seguramente virá, desde que ela siga aproveitando a onda de contínuo crescimento da economia brasileira nos próximos anos, crescimento este que não enfrentará nenhum “armagedon” econômico, apenas obstáculos cíclicos. Entretanto, para se tornar uma petroleira capaz de competir por market share em escala global, a Petrobras precisa se transformar em uma companhia de classe mundial no que tange às suas operações. Para isso, precisará maximizar eficiências, minimizar custos e, sobretudo, dar lucro a seus acionistas, que são, no final das contas, o povo brasileiro.

 

John Galante é analista líder para a América Latina da ESAI Energy

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