Opinião

Os pinguins da produção de energia

Por Redação

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Acredita-se que há milhões de anos os pinguins eram capazes de voar, em nada se diferenciando dos mais diversos tipos de aves que conhecemos. Hoje esses animais perderam tal capacidade, mas souberam se adaptar ao ambiente transformando suas asas em nadadeiras, a ponto de serem considerados exímios nadadores. Assim como na natureza, o setor de produção de energia tem passado por diversas transformações e adaptações. Hoje, a mesma turbina que coloca um avião comercial no ar pode gerar a energia necessária para a extração e refino de petróleo em navios-sonda, plataformas offshore, em refinarias, em termelétricas. A essas turbinas – que, como os pinguins, hoje são encontradas na terra e no mar – dá-se o nome de aeroderivadas.


Era 1969 quando a primeira turbina de avião foi utilizada sem o intuito de colocar uma máquina no ar. Pelo contrário, sua utilidade seria em pleno mar para propulsão do navio Admiral Callahan, da marinha norte-americana. De lá para cá, as turbinas aeroderivadas vêm desempenhando um papel cada vez mais importante em diferentes segmentos da economia global. Mais compactas quando comparadas a outros tipos de motores utilizados pela indústria, elas podem gerar até 100 MW de energia elétrica, o suficiente para abastecer cidades de até 500 mil habitantes ou pequenas ilhas artificiais, como as plataformas offshore. Nessas aplicações, o próprio gás gerado na extração do petróleo é processado pelas turbinas e então transformado na energia que sustenta toda a operação da plataforma.


Em uma atividade em que a produção se dá de forma ininterrupta e as margens de lucro não podem apresentar grande variação, a alta disponibilidade dos equipamentos e a facilidade para realização de manutenções desempenham papel fundamental. Em média, uma turbina deste tipo opera por até 25 mil horas sem necessitar de nenhum reparo. 


No Brasil, as turbinas aeroderivadas já são utilizadas em diferentes aplicações, inclusive em refinarias, plataformas e termelétricas da Petrobras. O mercado ainda deve ser expandido com a retomada das chamadas “rodadinhas”, leilões realizados pelo governo para ofertar pequenas áreas de exploração a pequenas e médias empresas. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), dez áreas nas bacias do Recôncavo, Espírito Santo, Tucano Sul, Paraná e Barreirinhas poderão ser leiloadas caso haja interesse do mercado, o que abriria mais uma janela de oportunidade para os pinguins da produção de energia.


A América Latina é outro mercado promissor. Atuam na região outras gigantes mundiais do petróleo, como a venezuelana PDVSA ou a mexicana PEMEX. Estima-se hoje que o subcontinente concentre um quinto do total de reservas comprovadas de petróleo em todo o planeta.
Apesar do potencial de mercado apresentado pelas aeroderivadas em atividades relacionadas à extração de petróleo, a tecnologia também pode ser aplicada em sistemas geradores de energia nos mais diferentes empreendimentos. Nos Estados Unidos, elas geram energia para os mais de 6 milhões de pacientes que são atendidos a cada ano no Houston Medical Center, o maior complexo hospitalar do mundo. Em Nova York e na cidade do México, elas estão instaladas nas regiões urbanas das cidades, espalhadas, para aumentar a confiabilidade e disponibilidade das redes de energia em grandes centros. Apenas nessas cidades, são 25 turbinas aeroderivadas instaladas em áreas menores que um posto de gasolina, que aumentam substancialmente a resiliência do sistema elétrico.


Casos desse tipo demonstram o potencial da tecnologia no mundo contemporâneo e seu potencial de expansão em atividades estratégicas para o desenvolvimento global. Do mesmo modo, também fica demonstrado que o setor de produção de energia passa pela sua própria Teoria da Evolução, fazendo com que uma tecnologia antes limitada aos céus possa ser aplicada em atividades diversas em terra ou no mar.

John McNeill Ingham é
diretor Técnico da GE Power & Water 

Outros Artigos