Opinião
Os riscos da elevação de preços
O óleo de xisto deverá ser a nova referência de mercado
A elevação dos preços do petróleo parece ser um desejo de todos os agentes do mercado. Os países produtores buscam maiores saldos comerciais, as companhias de petróleo almejam mais negócios e mais lucros e as pessoas sonham com mais empregos e melhores salários. Cresce, no entanto, a percepção de que foram justamente os altos preços do produto, sustentados por um período demasiadamente longo, que deram origem ao ciclo de baixa atual.
Os preços elevados estimularam a exploração de fontes até então não rentáveis, como o óleo de xisto e as reservas em águas profundas e ultraprofundas, e muitas empresas de O&G passaram a investir agressivamente no aproveitamento desses recursos. O grande volume de investimentos criou um ambiente favorável para desenvolver e aplicar tecnologias mais avançadas, aumentando a extração de petróleo a partir daquelas fontes e reduzindo drasticamente os seus custos de produção.
Na esteira deste processo, ocorreu um expressivo aumento da produção de petróleo dos produtores não OPEP, em especial dos EUA, onde a extração de óleo de xisto cresceu 4 milhões de bpd em apenas 6 anos. A percepção de que esta nova produção constituía uma ameaça à preservação do seu market-share levou a OPEP a abandonar a velha política, até então adotada, de equilibrar o mercado em níveis de preços elevados. Para defender as suas quotas de participação, os produtores do Golfo aumentaram a produção de petróleo e criaram uma condição de excesso de oferta no mercado. Em meados de 2014, os preços entraram em queda acentuada e iniciaram o ciclo de baixa com o qual convivemos ainda hoje.
Após dois anos de queda, os preços do petróleo tiveram uma ligeira recuperação. Altas mais expressivas, no entanto, parecem preocupar a maioria dos produtores. Isso ocorre porque, na avaliação dos membros da OPEP, o ambiente de preços elevados, embora lucrativo para eles, criou condições favoráveis para que os seus rivais, em especial os produtores não convencionais de óleo de xisto, aumentassem a produção e se transformassem em uma ameaça real para a manutenção das suas quotas de mercado. Para neutralizar esta ameaça, o preço do produto deve permanecer abaixo dos preços de breakeven dos seus rivais não convencionais.
Parece claro, hoje, que US$50/barril ou abaixo é onde os membros da OPEP pretendem manter os preços do petróleo, para evitar que os produtores rivais tenham condições de elevar a sua produção de forma significativa e permanente.
Por seu lado, os produtores de óleo de xisto, embora ansiosos por alguma recuperação de preços, sabem exatamente o risco que uma alta mais expressiva pode representar. Se os preços aumentarem para um nível elevado, muitos produtores de óleo de xisto retomarão as suas atividades de perfuração e produção, elevando a oferta no mercado mundial. Sem um correspondente aumento da demanda, esta condição poderia dar origem a uma nova deterioração dos preços do produto.
A preocupação da OPEP, hoje, é proteger o seu market share e, assim sendo, não se vislumbram cortes de produção expressivos, para regular o mercado. Já os produtores de óleo de xisto não desejam experimentar outra crise, considerando que eles foram os mais atingidos pela baixa iniciada em 2014. Essa é a razão pela qual eles também receiam altos preços para o petróleo.
Parece, portanto, que todos os produtores, sejam OPEP ou não OPEP, concordam que os riscos de manter preços elevados podem superar os benefícios do negócio. Tudo indica que os preços permanecerão contidos em uma faixa de US$40 a US$60/ barril no futuro previsível, a menos que um evento geopolítico ou de mercado seja capaz de alterar o quadro aqui sugerido.
A estratégia de exploração das reservas brasileiras do pré-sal terá que considerar essa possibilidade. Os desafios continuarão sendo os ganhos em tecnologia e produtividade e a redução dos custos de exploração e produção, de forma a garantir a comercialização dos volumes que serão produzidos pelos novos projetos. O óleo de xisto deverá ser a nova referência de mercado.
Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro aposentado da Petrobras. Também ocupou cargos de direção nos ministérios de Minas e Energia e do Planejamento, de 1991 a 2005. Atualmente, exerce a função de Mediador Extrajudicial, capacitado pela Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem – CCMA/RJ.