Opinião

A Petrobras e a importância do conteúdo local

O Brasil, inegavelmente, alcançou a soberania no setor energético ao conquistar reservas de petróleo que garantiram o consumo interno

Por Redação

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A Petrobras não se tornou monopolista à toa. As lutas que levaram ao monopólio estatal do petróleo foram travadas com o objetivo de dar ao Brasil a possibilidade de encontrar óleo, abastecer o país de derivados e criar uma indústria em torno da companhia.
As dificuldades enfrentadas para encontrar petróleo, concentrando todo o esforço exploratório na costa, muito dificilmente teriam sido vencidas se não houvesse o monopólio. A Bacia de Campos e a posterior descoberta do pré-sal são evidências extraordinárias do sucesso daquele modelo.

O Brasil, inegavelmente, alcançou a soberania no setor energético ao conquistar reservas de petróleo que garantiram o consumo interno, impediram crises de desabastecimento de derivados e levaram à construção de uma indústria capacitada a atender aos requisitos de um setor tão complexo e sofisticado tecnologicamente.

Os tempos mudaram. A abertura ocorrida no governo Fernando Henrique fortaleceu a companhia. A competição, ao contrário do que saudosistas bem-intencionados previam, tornou a Petrobras mais sólida. Os músculos enrijecidos no tempo do monopólio colocaram a companhia entre as maiores e mais admiradas do mundo.

Todo esse processo vitorioso foi comprometido, entretanto, pelo uso político da empresa. Além de ser acionada para controlar a inflação, praticando preços muito abaixo daqueles do mercado internacional, a petrolífera foi sangrada de forma inapelável. A sangria, implacável, usou os parceiros da Petrobras como seu estilete. O conceito de conteúdo local, “politicamente correto”, foi utilizado como o modus operandi do sangramento.

Não podemos, porém, demonizar a tese da oportunidade e necessidade de desenvolver uma indústria nacional em torno do setor petróleo, do qual a Petrobras é e será, por muito tempo, a principal protagonista. Dentro da sístole e diástole dos processos sociais, compreender que a petrolífera deve adquirir, em qualquer lugar do mundo, os equipamentos de que necessita pelo menor preço é desprezar a história e o compromisso da companhia com a sociedade brasileira.

A Petrobras não pode ser responsável, é claro, pela ineficiência da cadeia produtiva do setor petróleo no Brasil, comprando por preços não competitivos. Não é possível que a empresa arque com a “farra dos estaleiros” que, distribuídos politicamente entre os estados, geraram um sem-número de “sites” sem a menor possibilidade de prover competitividade em nível internacional.
Há, claramente, um ponto intermediário. As empresas de petróleo lutam, por causa das contingências atuais da queda abrupta do preço da commodity, pela redução de custos. A Petrobras, à semelhança do que fez quando precisou desenvolver capacitação para explorar águas profundas, precisa montar uma rede nacional e internacional de fornecedores que atendam à específica problemática da exploração dos campos offshore brasileiros, com o objetivo de desenvolver tecnologia para reduzir custos.

Apostar em empresas e universidades nacionais para compor essa rede é uma obrigação. É preciso agilidade nesse processo, uma vez que o ecossistema formado por Petrobras e fornecedores está sendo destroçado como consequência da crise financeira e ética.
Há de se garantir à Petrobras o poder de gerenciar esse processo. Muito mais importante do que a Lei 8.666, controles, governança, compliance ou coisas do gênero, é contar com gente honesta no comando da companhia. Hoje, a honestidade e excelência técnica já são realidade na empresa. Agora, é arregaçar as mangas e recuperar o tempo perdido.

Júlio Bueno é funcionário de carreira da Petrobras e foi secretário de Fazenda e Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro. 

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