Opinião

Petrobras reorganizada

Companhias de O&G focalizam esforços na seletividade de ativos de exploração e produção. Não se concentram tanto em construir

Por Redação

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Um novo desenho da organização da Petrobras foi apresentado no final de janeiro de 2016. Apesar da grande expectativa de que a empresa fizesse um realinhamento com as melhores práticas mundiais, visando a sua recuperação e ajustes estratégicos necessários, permanecem discussões do lado de fora sobre as escolhas realizadas e sobre a ausência de definições táticas explícitas da corporação.

A presença de uma área de Terra e Águas Rasas na Exploração e Produção certamente deve ter rendido debates internos intensos, pois pode apontar para a visão da manutenção de esforços importantes em regiões com campos menores, nem tão produtivos, quem sabe pouco compatíveis com o tamanho e custos de estrutura da empresa. Como operador único do pré-sal, cuidar ao mesmo tempo de campos pequenos em terra pode parecer inconsistente. Consequências diretas poderiam ocorrer na gestão e resultados, tanto pela menor ênfase sobre essas diminutas áreas quanto pela competição delas com fontes altamente produtivas e rentáveis.

Outro possível debate pode ter sido em torno da separação de uma área de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia do conceito unificado de Upstream, o que poderia desalinhar os objetivos e trazer uma demanda de gestão aumentada, interfaces complexas, ou até mesmo dubiedades. Este modelo de Engenharia, nos anos 1970-2010, teve papel importante de arraste do desenvolvimento do país através de incentivo e proteção da atividade local. Poderia demonstrar a intenção da companhia de permanecer fazendo o que em outros lugares do mundo muitas vezes é feito por investidores e construtores. Empresas de O&G afretam, alugam, fazem leasing dos bens disponíveis no mercado para suas campanhas, sejam temporais como sondas, ou de mais longo tempo como FPSOs operados por terceiros. Fazem mais Opex do que Capex. Não é uma questão de ideologia, mas de negócios e competitividade.

Companhias de O&G focalizam esforços na seletividade de ativos de exploração e produção, descobertas, reservas, reservatórios, concessões, parcerias, contingências. Não se concentram tanto em construir, com aço e solda, unidades, equipamentos, sistemas e partes.

A área Recursos Humanos, SMS e Serviços, contendo sete atividades completamente distintas, não sendo elas sequência ou similares, pode causar a percepção de uma intermediação desnecessária, podendo se tornar uma Petrobras diferente do restante da organização, um pouco desconectada. A sua gestão será um desafio.

A junção do Gás e Energia ao Refino parece ser um ponto bem positivo e fruto da maturidade do debate interno. Uma integração interessante e que certamente deverá trazer benefícios diretos para a empresa ao longo do tempo.

Quem sabe em breve a empresa estaria deixando explícito, por exemplo, que não deseja ser operador único do pré-sal, que não imagina para o futuro estar compromissada com o mínimo de 30% de qualquer investimento no pré-sal, que aceita, sim, reduzir sua participação no market share de produção no país de 90% para 70% ou 80% em cinco anos.

Poderia afirmar que iria sair da produção em terra para reservas inferiores a um determinado volume. Que os campos maduros poderiam ser de maior interesse para outras operadoras de porte menor, com tamanhos inferiores a determinado limite, pois alguns investimentos em recuperação secundária poderiam não ser recompensadores para seu perfil.

Que deseja concentrar esforços onde possui reservas e reservatórios significativos e em campos e poços com alta produção diária. Que, por seu domínio das escolhas tecnológicas de águas profundas e sua especialidade reconhecida em subsea, tem interesse em atuar em outros lugares do mundo como Costa da África, Golfo do México, etc. Também, que iria ajustar sua força de trabalho, aplicando forte especialização em óleo e gás para o seu pessoal próprio.

Que só poderiam assumir cargos gerenciais pessoas com experiência de campo prévia. Que passaria a contratar também pelo Custo Total, que iria afretar mais do que comprar, que estoques de peças e partes de equipamentos não seriam mais seus objetivos, deixando-os para o mercado fornecedor. Muito provavelmente deve estar analisando e discutindo estes e outros assuntos e quem sabe em breve poderíamos ter declarações claras de direção estratégica e tática da empresa.

Com o trabalho de casa feito, é certeza que iremos novamente nos orgulhar de nossa Petrobras.

Armando Cavanha F.
é professor da FGV/MBA
 

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