Opinião

Saber contratar ou saber fazer?

A coluna bimestral de Armando Cavanha Filho

Por Redação

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Diversas atividades no setor de petróleo no Brasil são executadas por empresas estrangeiras e, por vezes, também por pessoal vindo do exterior. A imposição de índices de conteúdo local pelo governo faz com que essas companhias executem suas atividades no país de forma estratégica, iniciando por operações, logística e manutenção, e passando, quando indispensável, para fabricação de partes, peças e sistemas complementares.

Quando dizemos que o país domina a tecnologia de águas profundas não significa dizer que sempre “sabemos fazer”. Por vezes esse domínio significa que sabemos especificar, solicitar e supervisionar. Ou seja, “sabemos contratar”. “Saber fazer” envolve pesquisa, criação, desenvolvimento, desenho, construção, instalação e ajustes, bem como fazer a próxima versão. Exceção a isso é a Petrobras, no seu centro de pesquisas, onde concentra inteligência em áreas específicas, conseguindo ativar o circuito até o “saber fazer”.

Controlamos, portanto, a contratação e a gestão de uso das tecnologias demandadas. Não necessariamente sabemos fazer os bens e executar os serviços mais sofisticados. Para os temas mais complexos, não temos tantas empresas nacionais. Nos EUA, por exemplo, apesar de um momento acanhado na produção de óleo e gás em relação ao consumo, os provedores de tecnologias e serviços complexos são “naturalmente locais”. Adicionalmente, encaram esse tema como soberania nacional e filtram exportações apenas para países amigos.

Nesse cenário, é crucial a maneira de contratar e comprar: a forma como são feitos aquisições, termos e condições, o que se inclui ou não nos contratos, características que podem fazer com que determinado assunto passe a ser dominado, com transferência e retenção de tecnologia. Contratos longos ou curtos, pacotes fechados ou segmentados, material com serviço acoplado ou serviço com material carregado, tipos de seguros, financiamentos, manutenção, partes e peças, e muitos outros detalhes contratuais que incentivam – ou não – o fazer local.

Alianças, desenvolvimentos cooperados, escolhas dirigidas de fornecedores. Estes e outros mecanismos conhecidos aqui, porém pouco utilizados de modo sistemático, deixam de ter força para garantir fornecimentos robustos. Também patentes compartilhadas, expectativas de operações futuras e estabilidade de oportunidades influem na credibilidade e nos investimentos. Fazer alianças ou escolhas dirigidas no Brasil induz ao pensamento de negócios obtusos, aparenta preferências pessoais.

As universidades do país são ponto chave desta caminhada. Seria interessante se pudessem aplicar inteligência em um mapeamento de serviços e tecnologias envolvidos nas atividades de petróleo, fazendo um diagrama composto da breve descrição de cada atividade: origem do equipamento, recursos humanos, volume de preços anuais despendidos, grau de evolução no Brasil. Um mapa do conhecimento, cuja atualização anual permitiria suficiente visibilidade para empreendedores na busca de soluções para cada assunto dito carente.

Sobre um diagrama de lacunas ficaria mais fácil preparar programas de capacitação operacional para cada “fraqueza”, ajustando-os de modo a absorver o conhecimento inicial necessário para um dia saber “fazer mais”.

Dos operadores privados nacionais, há pouco investimento em capacitação no conhecimento de estratégias de compras e contratações. Para as estatais, leia-se a Petrobras, as restrições são aparentemente legais (Decreto 2.745, TCU) e de necessidade de diversificar fornecedores. Seu tamanho relativo influi sobre a existência ou extinção de provedores com qualquer movimento não previsto no mercado.

Ante as reservas já previstas e os investimentos esperados para as próximas décadas, o tema “Contratar ou Fazer” pode ser atrativo para organizações do Estado (MME, MCT, MDIC, ANP, BNDES, etc.), associações (IBP, Onip, Abimaq, etc.), empresas de óleo e gás e provedores. Uma boa oportunidade para discutir avaliação, orientação acadêmica, pesquisa, estudos, preparação de mão de obra qualificada e investimentos direcionados da indústria. Poderia ser bom para o país.

A coluna de Armando Cavanha Filho é publicada a cada dois meses

E-mail: cavanha@yahoo.com

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