Opinião
TI e TA: convergência ou divergência?
Por Jorge Ramos, presidente da ISA Distrito 4 e gerente de Desenvolvimento de Negócios Oil & Gas Market da Parker
A pergunta do título tem uma resposta simples: nenhuma das duas situações. E sim convivência. Esta é a lição que nos ensina a experiência e a história da automação industrial, especialmente nos últimos anos.
O primeiro capítulo da convivência entre Tecnologia de Informação e Tecnologia de Automação foi escrito quando surgiu a necessidade de integrar os níveis corporativo e produtivo das empresas. Até então, cada área seguia seu rumo, com alguns esbarrões aqui e ali. Nesse cenário, as companhias possuíam uma estrutura de TI expressiva e valorosa, invariavelmente subordinada ao topo da hierarquia administrativa, enquanto o setor de automação respondia, na maioria dos casos, a uma diretoria industrial ou de produção, normalmente sem nenhuma relação com TI. Esse ambiente tornava inviável a implantação de sistemas de gerenciamento integrado da produção, cujo objetivo é permitir a integração entre os sistemas corporativos e os de manufatura, visando implementar programas de melhoria, dar sustentabilidade a projetos e extrair desempenho máximo dos ativos das indústrias.
O problema está na necessidade da interação entre negócio e manufatura. Os sistemas de gestão de manufatura como o MES (Manufacturing Execution Systems), por exemplo, devem se comunicar com o ERP (Enterprise Resource Planning) e outros sistemas corporativos. Muitos especialistas definem como sendo esta a fronteira de ação entre TA e TI, e afirmam que se trata de um erro comum dizer que “dessa função para baixo o assunto é do domínio de TA, e daí para cima, de TI”.
Mesmo que não existam registros de números que comprovem o sucesso ou o fracasso dos projetos conjuntos entre TI e TA, sabe-se que as diferenças entre os dois ambientes, esta sim, pode trazer algumas barreiras. Por exemplo: nem sempre as equipes de TI podem estar aptas para manusear dados como as unidades de tempo de segundos e milissegundos, tradicionais da automação. Ao mesmo tempo, os especialistas de automação nem sempre conhecem em profundidade as metodologias de gestão e segurança de sistemas, já velhas conhecidas pela TI.
Há, contudo, uma verdade: as tecnologias adotadas por TI e TA estão cada vez mais semelhantes, sobretudo no que se refere aos desafios na gestão de sistemas. Até porque ambas possuem algumas raízes comuns, sendo a mais inquestionável o uso de computador como equipamento rotineiro. Este pode ser um ponto a ser preservado rumo à integração.
Com o passar do tempo, as divergências acabaram por despertar o conhecimento visando à convivência necessária e saudável entre TI e TA, e isso graças à tecnologia. Tanto é que, dentro do núcleo de automação de algumas empresas, surgiu o espaço denominado TAI – Tecnologia de Automação e Informação –, indicando claramente a disposição de um dos lados para dar início ao processo de convivência.
Com base nesse histórico, a integração é inevitável, mesmo ao persistirem algumas pequenas pedras pelo caminho, totalmente transponíveis por meio de uma melhor definição dos papéis de cada uma dessas duas áreas. E essa disposição pode gerar um espaço ilimitado para um acordo e, mais do que isso, a descoberta de infinitas possibilidades conjuntas entre TI e TA.
Não se deve imaginar, porém, que seja tarefa fácil e que possa ser alcançada em curto ou médio prazo. A persistência é o grande valor agregado nessa discussão. Persistência em continuar na atitude proativa de concórdia e entendimento, o que tem trazido uma rica experiência aos profissionais envolvidos e resultados surpreendentes para as empresas, mesmo para as que tenham precisado implementar mudanças drásticas em sua estrutura. Deve-se lembrar de que inovação não é moda, mas uma alternativa – se não a única – para uma companhia se manter competitiva em um mercado globalizado, mesmo numa situação economicamente confortável como a que o Brasil vive hoje.
Não se prevê que TI e TA trabalhem juntas no futuro, mas sim que a convivência gere uma sinergia tal que permita aproveitar todas as competências e habilidades de cada lado. A TI vai se ocupar de otimizar e garantir o pleno funcionamento do sistema de gestão dos processos corporativos, enquanto a TA cuidará do bom funcionamento e da segurança dos processos de produção.
Jorge Ramos é presidente da Associação Sul-Americana de Automação – ISA (International Society of Automation) Distrito 4 e Gerente de Desenvolvimento de Negócios – Oil & Gas Market da Parker