Opinião

Vamos ter uma revolução do shale gas no Brasil?

A coluna trimestral de Ieda Gomes

Por Redação

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A produção em escala comercial do gás de folhelho, ou shale gas, desencadeou uma revolução na oferta de gás nos EUA. Sua produção passou de 100 milhões de m3/dia em 2006 para quase 1 bilhão de m3/dia em 2012 e hoje representa 35% do volume de gás produzido naquele país. A abundância e o baixo custo de produção fizeram o preço do gás Henry Hub despencar de US$ 8, em 2006, para US$ 3/MMBTU, em 2013.

O folhelho é uma rocha sedimentar de baixa permeabilidade e porosidade, com grande quantidade de matéria orgânica, que origina tanto gás como petróleo. Sua extração requer grande número de poços, além de perfuração direcional horizontal e fraturamento hidráulico. Um poço nos EUA custa de US$ 2 milhões a US$ 8 milhões e é perfurado em uma semana, em média. A Agência Internacional de Energia (EIA) estima que esse custo deve dobrar em países com infraestrutura menos desenvolvida.

Os folhelhos estão em todo o mundo e têm baixo risco exploratório. Segundo estudos do Departamento de Energia dos EUA (DOE), os recursos tecnicamente recuperáveis de shale gas em 32 países pesquisados são de 5.760 TCF. Se apenas 20% disso for comercialmente desenvolvido, equivaleria a um incremento de 16% nas reservas mundiais de gás. O Brasil aparece no estudo com recursos da ordem de 226 TCF, a Argentina com 774 TCF e a China, com 1.275 TCF.

Há diversos questionamentos, contudo, sobre os impactos ambientais do shale gas: o impacto nos lençóis freáticos dos produtos químicos usados no fracionamento hidráulico; o tratamento da água de superfície; o aumento da emissão de gases de efeito estufa; o uso intensivo de água; e a possibilidade de abalos sísmicos durante o fraturamento. Isso contribuiu para alguns países, como França e África do Sul, interromperem temporiamente a perfuração de poços. 

O Reino Unido, que hoje importa 50% do gás que consome, optou por uma abordagem mais pragmática. Primeiro, solicitou à Royal Society e à Royal Academy of Engineering uma análise dos riscos do fraturamento hidráulico. Esse estudo concluiu que os riscos de SMS poderiam ser geridos de modo eficaz e que a propagação das fraturas dificilmente poderia contaminar os aquíferos. Além disso, avaliou que a integridade dos poços é a prioridade, acoplada a um programa robusto de monitoramento. Com base nisso, o governo britânico liberou os poços e anunciou um pacote de incentivos fiscais para acelerar a produção.

Muito se tem discutido sobre a replicação do modelo dos EUA em outros países,sobretudo quando inexiste infraestrutura desenvolvida de gasodutos ou estradas para transporte de equipamentos sísmicos e de perfuração. Entretanto, à parte o volume de água e o número de poços, os mesmos problemas ocorrem no desenvolvimento de campos de gás convencional onshore no Brasil ou na China.  

Outro ponto que merece atenção é o shale oil – não confundir com óleo de xisto betuminoso. Os altos preços internacionais do petróleo tornam os projetos de shale oil mais atraentes e economicamente viáveis. Com a baixa no preço do gás americano, os produtores locais estão centrando esforços na produção de shale gas com alto teor de condensados e de shale oil. 

A indústria de shale gas se desenvolveu nos EUA e está dando os primeiros passos no Reino Unido. No Brasil, o shale pode duplicar ou triplicar as reservas de gás, tornando o país autossuficiente no longo prazo. Tecnologia de produção já existe, e os riscos podem ser gerenciados. Um passo essencial será a promoção de licitações específicas e contínuas, em conjunto com um pacote fiscal atraente para investidores privados e o desenvolvimento de parcerias com empresas que operam em outros países e que têm experiência na perfuração de poços horizontais e fraturamento hidráulico.

A revolução do shale gas nos EUA não ocorreu de uma hora para outra. Foi incubada por duas décadas e resultou da combinação de preço, parcerias entre governo, instituições de pesquisa e iniciativa privada no desenvolvimento de tecnologias, regime fiscal benigno e agilidade empresarial. 

A coluna de Ieda Gomes é publicada a cada três meses
E-mail: ieda.yell@gmail.com

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