Infraestrutura para abastecer veículos pesados vai crescer até o fim do ano

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Infraestrutura para abastecer veículos pesados vai crescer até o fim do ano

Abegás aposta em futuro promissor do mercado de GNV com o crescimento do número de caminhões a gás e estima que 45 novos postos terão infraestrutura para abastecer veículos pesados até o fim do ano

Por Liana Verdini

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Embora o mercado de gás natural no Brasil esteja em queda desde 2022, há um potencial grande de crescimento, afirma Gustavo Galiazzi, gerente técnico da Abegás, a associação das distribuidoras de gás canalizado, nesta entrevista à Brasil Energia.

Para Galiazzi, a pandemia, a mudança de comportamento da sociedade com a adoção de trabalho remoto e a alta do preço do gás no mundo, reduziram o mercado do GNV, mas com o crescimento do número de caminhões abastecidos a gás natural e biometano, o futuro é promissor. A estimativa é que, até o final de 2025, mais 45 postos terão infraestrutura para abastecer caminhões nas cidades e nas principais rodovias. Conheça um pouco mais das expectativas da Abegás para o mercado.

O consumo médio anual de gás natural – sem incluir o setor termelétrico – vem em queda desde 2022. A que a Abegás atribui esse comportamento do mercado?

Questões geopolíticas como a Guerra da Ucrânia, que aumentaram o preço da molécula de gás natural a nível global, são alguns dos fatores que ajudam a explicar a redução no volume total de gás natural em um mercado que é muito competitivo com outros combustíveis e fontes de energia – muitas vezes subsidiados. Além disso, com a pandemia e a adoção de trabalho remoto integral e/ou parcial, o GNV sentiu esses efeitos.

A infraestrutura reduzida, com gasodutos restritos à costa do país, também atrapalha o crescimento do consumo?

A infraestrutura de GNV no Brasil é bastante relevante, com aproximadamente 1700 postos de combustíveis, número acima do existente nos Estados Unidos, por exemplo. E as distribuidoras seguem investindo para ampliar esse número. Em algumas concessões, o mercado de GNV é bastante relevante. Hoje, na CEG-Rio, por exemplo, o volume de consumo automotivo é o dobro do industrial – o Rio é um bom exemplo de como políticas públicas corretas, como isenção integral ou parcial de IPVA, podem fomentar o uso de GNV. Em termos de volume, excetuando o térmico, o segmento automotivo é o segundo para as distribuidoras e pode ser ainda maior, na medida que cresce o número de caminhões abastecidos a gás natural e biometano. De acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito, órgão do Ministério dos Transportes, o número de caminhões licenciados a gás natural passou de 731 veículos em 2022 para 2.196 unidades em abril de 2025, e o número de postos de alta vazão saltou de 40 unidades em 2023 para 121 em 2025, conforme dados compilados pelas concessionárias associadas à Abegás. A estimativa é que, até o final de 2025, mais 45 postos terão infraestrutura para abastecer caminhões com rapidez nos grandes centros e principais rodovias.

Essa é uma tendência que veio para ficar?

O mercado de gás natural tem muito potencial para crescimento. Em 2024, os segmentos residencial e comercial tiveram crescimento de volume de 1,4% e 2,4%, respectivamente, na comparação com 2023. A Abegás vem trabalhando institucionalmente para aumentar a competitividade do gás natural, em processos importantes para o setor e para estimular, no poder público, a criação de políticas públicas que fomentem o uso de gás natural, especialmente no setor automotivo, em que há um elevado potencial de descarbonização, economia com combustível e geração de empregos.

Qual é o principal entrave para a expansão do uso do GNV no Brasil?

O GNV, ao longo dos últimos 20 anos, sofreu com muita intervenção nos preços de combustíveis concorrentes, afetando a percepção de competitividade. No nosso entendimento, o GNV é o combustível da transição energética, uma vez que a mesma tecnologia automotiva permite o uso de GNV, de biometano ou da mistura. E o GNV ajuda a melhorar a qualidade do ar nas cidades, com redução a praticamente zero de materiais particulados. Então, é importante que tenhamos políticas públicas que incentivem a mudança de veículos de combustíveis mais poluentes para o GNV.

Há montadoras colocando veículos movidos 100% a gás. Esse mercado vai mudar de perfil, deixando os veículos leves e abraçando os veículos pesados?

Acreditamos que os benefícios do gás natural são úteis para veículos leves e pesados. Entretanto, a curva de crescimento de frota pesada tende a ser maior nos próximos anos, uma vez que era um potencial represado e o próprio mercado corporativo vem demandando de empresas e operadores logísticos soluções que promovam a redução da pegada de carbono – e os caminhões a GNV-Biometano se apresentam como boas opções em situações de renovação de frota. No caso dos ônibus, a possível adoção de ônibus a gás em São Paulo, aberta pela sanção de uma lei municipal que abre espaço para essa rota tecnológica na maior capital do País, pode representar um marco que vai inspirar outros projetos.

Que papel deve ter o biometano na expansão desse mercado de GNV?

O biometano é fungível com o gás natural e o Decreto nº 10.712/2021 estabelece que, para todos os fins, o biometano e outros gases intercambiáveis com o gás natural terão tratamento regulatório equivalente ao GN, desde que atendidas as especificações estabelecidas pela ANP. Desse modo, a integração entre gás natural e biometano é sinérgica — vale citar que no Ceará cerca de 15% do gás canalizado distribuído já é de biometano.

Ou seja, a integração, que tende a ganhar um impulso em 2026 com o começo da Lei do Combustível do Futuro, a depender da regulamentação ainda não anunciada, pode viabilizar novos investimentos das distribuidoras onde existem usinas de biometano, conectando essas plantas à rede de gás canalizado. Também pode representar uma alavanca para impulsionar as frotas pesadas, com caminhões circulando com biometano no sentido interior-capital e com gás natural na direção inversa. E a integração tem potencial de aumentar o interesse de grandes indústrias cuja agenda ESG impõe a substituição de diesel por outros combustíveis que proporcionem redução de pegada de carbono, uma vez que o setor de transporte rodoviário é considerado hard-to-electrify.
 

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