Azevedo & Travassos: “Tem muito espaço para novos investidores e parceiros”, diz CEO

Revista Brasil Energia | Entrevista

“Tem muito espaço para novos investidores e parceiros”, diz CEO da Azevedo & Travassos

Com a saída da Reag e entrada de novos investidores, empresa segue apostando na Engenharia, de olho em oportunidades no segmento de descomissionamento de plataformas e estruturas submarinas da Petrobras

Por Fernanda Nunes e Rosely Maximo

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Gabriel Freire, CEO do grupo Azevedo & Travassos S/A (Foto: Divulgação)

CEO do grupo Azevedo & Travassos, Gabriel Freire é advogado fundador do escritório FASV Advogados, com mais de 25 anos de experiência em reestruturação de dívidas de empresas. Ele é também CEO e membro do conselho de administração da Azevedo & Travassos S/A, empresa fundada em 1922 voltada para área de infraestrutura, e presidente do conselho da Azevedo & Travassos Energia, ambas listadas na B3.

Na seguinte entrevista, ele nos conta como aconteceu o recente processo de reestruturação societária com a cisão da empresa de energia e melhoria da estrutura de capital, com a saída da Reag Investimentos. Freire fala também como estão as mobilizações para cumprir o contrato recentemente firmado com a Petrobras no Complexo de Energias Boaventura, de mais de R$ 3 bilhões, e diz que o pipeline robusto de projetos abre oportunidade para novas parcerias, inclusive financeiras.

Leia os principais trechos da entrevista:

O Grupo Azevedo & Travassos passou por um processo de cisão. Como está a composição acionária atualmente?

Em 2024, a Azevedo & Travassos negociou com a Reag Investimentos o ingresso deles como acionista de referência no grupo. O objetivo era permitir a capitalização para que a empresa pudesse enfrentar investimentos no setor de concessões. Essa negociação previa uma cisão prévia do grupo com a saída da Azevedo & Travassos Energia, que representa a atividade de operação de campos maduros de óleo e gás. Com isso, a Reag ingressaria somente no segmento de engenharia, com o objetivo de fomentar a atividade de concessões. A cisão foi aprovada pelos acionistas em 2024 e a cisão aconteceu efetivamente em fevereiro de 2025. Daí, nasceram duas companhias separadas, ambas listadas. Mas, no final de agosto deste ano, a Reag foi alvo de uma operação de busca e apreensão na operação Carbono Oculto. Embora a Reag não tenha nenhuma pessoa envolvida na operação ou na investigação, a própria busca e apreensão terminou causando uma crise reputacional muito grande e isso levou a uma crise de liquidez na Reag. Isso terminou refletindo na Azevedo & Travassos.

Quais foram os reflexos?

O primeiro deles foi que a Reag nos procurou e argumentou que o investimento assumido, de cerca de R$ 1 bilhão, não poderia ser implementado. Era preciso buscar outras fontes de financiamento. O segundo aspecto é que os clientes da Azevedo & Travassos começaram a questionar a estrutura de controle da companhia, sobre quem era o fundo Camaçari, que representava a Reag dentro do grupo. Para evitar qualquer risco de contaminação, eu propus à Reag que ela me vendesse de volta o controle. (Antes) Eu tinha assumido o controle da companhia por meio de um veículo cem por cento meu, chamado Nemesis Brasil Participações S/A, em 2020. Fui o controlador até outubro de 2024. Então, (em 2025) eu propus comprar as ações da Reag de volta, pelo valor de mercado delas, e, por meio dessa aquisição, terminei consolidando novamente o controle da companhia. Isso terminou viabilizando o ingresso de novos investidores, entre eles a Jive Mauá, com a qual fechamos uma parceria para financiar investimentos de R$ 454 milhões. Os valores envolvidos são mais do que suficientes para que a gente consiga endereçar o plano de investimento antes aprovado.

Foi fácil conseguir investidores?

Não tem sido fácil, principalmente por conta do problema dos juros reais. A gente tem hoje juros que desestimulam qualquer tipo de investimento na economia real, mas os projetos são muito bons, com bastante fôlego. A Petrobras tem um papel relevante nesse ecossistema. Ela terminou entendendo o lado do empreiteiro para permitir que fossem feitos contratos mais dinâmicos e viáveis efetivamente. A gente está num ciclo virtuoso de investimento de infraestrutura como um todo e isso termina chamando a atenção dos investidores, o que compensa um pouco o problema da taxa de juros.

Ainda há espaço para a entrada de novos investidores no grupo?

Sem dúvida. A gente tem um pipeline hoje que beira R$ 30 bilhões. E muitos desses projetos chegam para a gente ainda com demanda de investimento tanto em equity quanto em dívida. Tem muito espaço ainda para novos investidores e parceiros, financeiros ou equity holders.

A Heftos Óleo e Gás, uma das três empresas do grupo, assinou contrato com a Petrobras, recentemente, para o Complexo Boaventura Energias. Como estão os investimentos nessa área?

A gente tem um plano de investimentos que se divide em duas grandes verticais: de prestação de serviços de engenharia e de concessões. No segmento de concessões, somos controladores da Rota Verde (BRs-060/452/GO) e da holding Aviva Ambiental, que, por sua vez, é operadora de saneamento no Brasil inteiro. Na vertical de prestação de serviços se encaixa a Heftos, adquirida em 2021, do grupo UTC. Nosso objetivo com a aquisição foi ampliar a atuação no setor de brownfield e montagem de estrutura petroquímica. Já há algum tempo a Petrobras fala em retomar o Complexo Boaventura e a gente tinha isso como meta operacional para a Heftos. Nós também adquirimos a Heftos com a expectativa do mercado de descomissionamento de petróleo offshore. E fizemos um movimento pensando exatamente na expansão do escopo operacional da vertical de prestação de serviços de engenharia para esses dois mercados, extremamente interessantes e com uma barreira de entrada muito grande. Tivemos êxito e ganhamos os lotes 5 e 12 do Complexo Boaventura. Já iniciamos a mobilização do lote 5. Assinamos o lote 12 e devemos iniciar a mobilização no mês que vem. Temos na Heftos cerca de R$ 3,5 bilhões em backlog (acúmulo de trabalho) com a Petrobras. O saldo de backlog do grupo é de mais R$ 1,5 bilhão, concentrado na Azevedo & Travassos Infraestrutura, que é a nossa carteira focada em projetos greenfield (novos) que não são de óleo e gás.

A Heftos possui contratos de descomissionamento de plataformas?

Temos um contrato de cessão de mão-de-obra para plataformas. É um contrato de escopo mais simples, mas que nos dá uma vantagem competitiva grande, não só pela mobilização das equipes, como também pelo conhecimento da infraestrutura global de cada uma das plataformas.

Mas é com a Heftos que o grupo tem planos de entrar no descomissionamento? Ainda é preciso buscar financiamento para isso?

Exatamente. O descomissionamento tem uma dinâmica de financiamento diferente. É um mercado muito interessante, porque tem uma barreira de entrada muito grande. Tem que ter não só o acervo técnico e a experiência que a Heftos tem. A gente vem investindo muito num ecossistema com parceiros internacionais para viabilizar o descomissionamento como um todo, até chegar no desmantelamento. Então, é necessário criar parcerias com portos e estaleiros, com o comprador da sucata na ponta final, com parceiros internacionais que tenham a tecnologia de descomissionamento das estruturas submarinas. A Heftos vem se preparando para isso desde que a gente comprou o controle dela. Esse é um mercado estratégico e interessante.

A ideia é participar de qual segmento do descomissionamento?

Todos, até o desmantelamento. Estamos esperando a Petrobras iniciar sua campanha para que a gente possa participar das oportunidades.

No Complexo Boaventura, tem alguma construção envolvida? 

Tem construção e montagem eletromecânica. A parte de engenharia civil é pequena. A maior parte é montagem eletromecânica. É um escopo epecista amplo para a entrega das estruturas funcionando.

A empresa tem interesse em participar também das licitações da Petrobras para a Refinaria Abreu e Lima?

Não, mas por nenhuma razão específica. A gente está olhando um pouco para dentro de casa agora. A gente tem dois projetos muito grandes e importantes, para a Petrobras e para nós mesmos. Diante de tudo que a gente passou nos últimos meses, com relação à saída da Reag, reorganização societária, melhoria da estrutura de capital, a gente está focado em concentrar os esforços em executar os projetos no nosso backlog. A gente ainda tem a expectativa de expandir a Azevedo & Travassos Infraestrutura, mas em projetos que são mais greenfield, focados em outras áreas, por exemplo em geração termelétrica. É um escopo diferente e a gente busca, com isso, mesclar a nossa participação em diversos setores do mercado brasileiro de infraestrutura.

São térmicas a gás?

A gás ou a biomassa. São projetos avançados, com aprovação de financiamento e participação em equity já definida, mas ainda não podemos divulgar.

A empresa possui quantos colaboradores atualmente?

Para atender os contratos, já temos cerca de 200 colaboradores diretos, mas a gente estima que isso possa subir para 900, para 1,1 mil. Ao todo, o grupo já está com 4,5 mil colaboradores.

Qual a sua visão sobre a política de conteúdo local?

Eu, pessoalmente, acredito que qualquer protecionismo na economia, embora bem-intencionado sempre, termina tendo efeito nocivo no longo prazo, que é o mesmo efeito de tarifas, de qualquer reserva de mercado. Por outro lado, existindo a política de conteúdo local, ela tem que ser implementada de maneira inteligente. Não adianta exigir conteúdo local com uma complexidade muito grande e terminar criando uma reserva maior do que a capacidade local de entregar, porque isso cria um gargalo que inviabiliza o projeto ou faz do projeto menos eficiente. O tiro sai pela culatra. Não acho que seja o caso do descomissionamento, que tem tecnologia de fora. A Heftos vem trabalhando ao longo dos últimos anos exatamente para criar essas parcerias e se posicionar de maneira inteligente dentro das regras de conteúdo nacional, permitindo que as alianças estratégicas sejam viabilizadas atendendo as normas atuais.

Como está o investimento em pesquisa e inovação?

O investimento está concentrado principalmente na vertical de concessões. A gente tem importado tecnologia e feito parcerias. Principalmente para a Heftos, no descomissionamento de plataformas, a gente fez um trabalho amplo de parceria internacional envolvendo a importação de tecnologia e troca de conhecimento. Esse ecossistema da Heftos está bastante rico, preparado para atender à demanda do mercado de descomissionamento quando ele começar. Já na vertical de saneamento básico, a gente tem buscado implementar novas tecnologias e melhorar a experiência do usuário em tudo. Posso dizer, em resumo, que o grupo está muito antenado em incrementar as suas atividades com a agregação de novas tecnologias dentro de cada uma das atividades que a gente desenvolve.

Assista à entrevista na íntegra:

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