
Revista Brasil Energia | Hidrelétricas, Água e Sustentabilidade
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A hidrovia do Tocantins e a modernização de Tucuruí
Projeto do Dnit torna o rio navegável o ano inteiro, especialmente durante a seca. Ao mesmo tempo, a Eletrobras prevê investir R$ 1,25 bilhão em Tucuruí

O segundo maior rio brasileiro em extensão, que corre inteiramente em território nacional, o Tocantins, com 2.416 quilômetros – só perde para os 2.863 quilômetros do rio São Francisco – é conhecido por sua grande capacidade de geração de energia elétrica. Esse curso d’água tem um potencial de geração de energia de, aproximadamente, 11.500 MW, que corresponde ao terceiro maior do Brasil. Nele estão as usinas hidrelétricas de Serra da Mesa (ver matéria), Cana Brava, São Salvador, Peixe Angical, Lajeado, Estreito e Tucuruí.
Mas um velho anseio de mais de três décadas e que vai aumentar ainda mais a importância econômica de suas águas está perto de ser viabilizada: a navegabilidade perene da hidrovia no trecho entre Marabá e Belém, particularmente no período de estiagem.
Para tanto, o Dnit precisará desobstruir passagem em um trecho conhecido como Pedral do Lourenço e fazer a dragagem antes e depois desse ponto para permitir a navegação de barcaças de maior calado.
Projeto da Hidrovia Tocantins | Trecho Marabá - Belém
Fonte: Ibama
Antes da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, há 40 anos, o rio Tocantins era inteiramente navegável. Sua nascente está a 1.100 metros de altitude no estado de Goiás, a partir da junção dos rios das Almas e Maranhão, entre os municípios de Ouro Verde de Goiás e Petrolina de Goiás, na região central do estado e ao norte da capital, Goiânia. O rio formado atravessa os territórios do Tocantins e Maranhão até desaguar na Baía do Marajó, no norte do Pará.
Mas com a obra da usina hidrelétrica, foi criado um desnível de 74 metros no rio e deixou o pedral à mostra no período da seca. Eclusas foram construídas para permitir a navegação, criando o Sistema de Transposição de Tucuruí – com duas eclusas, ligadas por um canal intermediário com 5,5 quilômetros de extensão. Na época da cheia, a hidrovia funciona até Lajeado, em Tocantins. Mas por causa das pedras no rio até hoje não é possível o tráfego regular de comboios no período da seca.
O Sistema de Transposição de Desnível da UHE Tucuruí foi inaugurado em novembro de 2010 e entre abril de 2011 e abril de 2016 foi operado e mantido pela Eletronorte. Nesse ano, passou a ser de operado pelo Dnit mas, desde 2018, a infraestrutura ficou sem a adequada manutenção e impossibilitada de operar.
Eclusa de Tucuruí: sistema de transposição do desnível, criado pela obra da usina, já recebeu licença do órgão ambiental do Pará para voltar a ser operado pelo Dnit (Foto: Divulgação)
Questão ambiental
Há uma polêmica enorme em torno do projeto de retirada das pedras para permitir a volta da navegabilidade total do curso d’água. O rio Tocantins é importante não somente para a produção de energia, mas também porque atende diretamente a uma população de quase 8 milhões de habitantes, além de permitir o escoamento de grãos da região Centro-Oeste e ter relevância ambiental.
Parte da população que vive às suas margens – ribeirinhos, indígenas e quilombolas – garante sua alimentação e renda com a atividade pesqueira. As centenas de espécies de peixe encontradas no curso do rio atraem igualmente praticantes da pesca esportiva e as praias de água doce ao longo do Tocantins impulsionam o turismo nos períodos de estiagem. Em termos econômicos, destaca-se ainda a utilização das águas do rio para irrigação dos cultivos agrícolas e na atividade pecuária.
Ambientalistas afirmam que a retirada das pedras deve ter grande impacto sobre a fauna do rio, especialmente os peixes. Alegam que as explosões previstas para abrir caminho entre as pedras e a retirada das tocas que servem para proteção e reprodução pode ter um impacto irreversível, prejudicando a renda de parte importante da população ribeirinha.
Preocupação com impacto na atividade pesqueira, fonte de renda para população de ribeirinhos, indígenas e quilombolas que vive às margens do rio (Foto: Ronaldo Macena/Divulgação)
Segundo o EIA (1999), durante a implantação e operação da hidrovia, haverá geração de ruídos e gases devido aos equipamentos, especificamente as atividades de dragagem e derrocamento do Pedral. Além disso, a expansão das atividades agrícolas para a produção de grãos deverá intensificar os processos erosivos do solo.
O Pedral do Lourenço está situado no município de Itupiranga, entre Marabá e Tucuruí. É uma formação rochosa de 43 quilômetros entre a Ilha do Bogéa e a localidade de Santa Terezinha, no Lago de Tucuruí. Para viabilizar a navegação nesse trecho, também está prevista a dragagem do rio entre Marabá e Itupiranga e em um outro trecho de 125 km entre Tucuruí e Baião, todos municípios paraenses.
Corredor do Tocantins
Imagem: Dnit
Apesar da resistência de ambientalistas e do Ministério Público, em dezembro a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará emitiu a Licença de Operação do Sistema de Transposição do Desnível da Usina Hidrelétrica de Tucuruí para o Dnit. A licença é válida até 2028 e inclui a operação de duas eclusas e de um canal intermediário.
O próximo passo do Dnit é conseguir a Licença de Instalação, essencial para o início das obras de dragagem do rio e de retirada das pedras para tornar a hidrovia navegável o ano inteiro. O Ibama, responsável pela concessão da LI, está analisando o projeto do Dnit e o EIA-Rima.
Investimento bilionário na usina
Um mês antes, em novembro de 2024, a UHE Tucuruí completou 40 anos e anunciou projetos que somam R$ 1,25 bilhão para modernização dos sistemas de proteção, controle e supervisão e ainda atualizações em reguladores de tensão e velocidade, servomotores e mecanismos dos distribuidores das unidades geradoras. Não há investimento para aumento de capacidade de geração.
Além disso, as obras abrangem a substituição de transformadores elevadores (13,8/500 kV) e a instalação de módulos de manobra blindados isolados a gás SF6, além da modernização dos painéis de comando e controle das comportas da tomada d'água e do vertedouro, com melhorias nos sistemas de resfriamento e tratamento de água.
Modernização de Tucuruí: empresa busca assegurar confiabilidade dos ativos e aumentar a eficiência operacional da usina (Foto: Divulgação)
Já estão em andamento a substituição completa do estator e a reforma do rotor de cinco geradores, contratados no valor de R$ 230 milhões; o fornecimento de um conjunto de manobra blindado de 550 kV isolado a gás SF6, com um investimento de R$ 35 milhões; e a aquisição de dois transformadores de 550 kV para as Casas de Força I e II, totalizando R$ 55 milhões.
De acordo com o vice-presidente de Operações e Segurança da Eletrobras, Antônio Varejão de Godoy, a empresa “busca com este projeto assegurar a confiabilidade dos ativos e aumentar a eficiência operacional da usina, integrando novas tecnologias e atualizando a estrutura. Com esses investimentos, Tucuruí estará ainda mais preparada para atender às demandas energéticas do futuro, oferecendo segurança e competitividade ao setor elétrico brasileiro".
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