Revista Brasil Energia | Hidrelétricas, Água e Sustentabilidade
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As usinas do Tietê sustentam o motor do Brasil
Graças às eclusas das hidrelétricas, 715 km de hidrovia impulsionaram a implantação de 23 polos industriais, 17 polos turísticos e 12 polos de distribuição, onde é gerada quase a metade do PIB brasileiro
O rio Tietê, que praticamente atravessa todo o estado de São Paulo passando por 62 cidades ao longo de seus 1.136 quilômetros de extensão, tem uma longa folha de serviços prestados às comunidades que se formaram e desenvolveram ao longo do seu curso. E as seis grandes UHE em cascata ao longo do rio têm várias outras vocações além de gerar energia, com capacidade para 1,8 GW outorgada.
As hidrelétricas garantem o transporte aquaviário com seus reservatórios e eclusas, abastecem de água muitas cidades, controlam cheias e minoram secas, viabilizam a piscicultura e, também, o turismo. E mais; para manter as turbinas operacionais, as UHE respondem por alguma parcela da limpeza do curso d’água, contribuindo para reduzir a poluição que o rio infelizmente carrega.
No mapa, as seis usinas hidrelétricas instaladas ao longo do rio Tietê. Passe o mouse para ver as informações de cada uma:
Mapa elaborado pela Brasil Energia com dados da Aneel
O Tietê, cujo nome vem do tupi e significa caudal volumoso, nasce na Serra do Mar, no município de Salesópolis, a apenas 22 km do Oceânico Atlântico, mas corre para o Noroeste de São Paulo devido à altitude da nascente, a 1.120 metros, até desaguar no rio Paraná. Desde o início foi utilizado para transporte, pois foi por ele que os bandeirantes desbravaram o interior do estado, fundaram cidades ao longo do seu curso e passaram a avançar para conhecer o restante do Brasil.
Por sua importância, a nascente do rio, descoberta em 1954, foi tombada em 1990 pelo Estado de São Paulo, que logo depois criou o Parque Nascentes do Tietê, com 100 ha, vista para nascente e um espelho d’água onde os frequentadores podem beber a água do rio direto de onde ele nasce.
Mas bem antes disso, quando São Paulo começou a se industrializar, as águas do Tietê ganharam a função de gerar energia para impulsionar as fábricas, principalmente têxteis, e iluminar as cidades. E são muitas as barragens criadas desde então, como Barra Bonita, Ibitinga, Três Irmãos, Edgard de Souza, Pirapora do Bom Jesus, Anhembi, Laras e Promissão.
As 6 maiores usinas do Tietê tem potência outorgada de 1,8 GW e garantia física de 600 MW (Fonte: Siga/Aneel)
Hidrovia de 715 km
Hoje, além de gerar energia elétrica, o Tietê continua importante também como via de transporte para escoar as produções industriais e agrícolas para o interior do estado e para o Mercosul. Isso só foi possível porque as barragens das usinas hidrelétricas foram equipadas com seis eclusas, que funcionam como elevadores de barcos e permitem a navegação contínua no leito do rio. A hidrovia do Tietê tem uma extensão navegável de 715 km, com profundidade mínima de 3 metros, o que permite a navegação de comboio de 137 metros de comprimento, 11 metros de boca e 2,7 metros de calado.
Os principais produtos transportados por essa via são soja e o farelo, milho e cana-de-açúcar. Mas o Plano Estratégico Hidroviário do governo paulista estabeleceu como objetivo para os próximos 20 anos aumentar a participação da hidrovia do Tietê de 0,6% para 6% do movimento de cargas do estado. A intenção é transportar produtos como grãos, farelos e óleos vegetais - soja, trigo e milhos; sucroalcooleiro - cana, açúcar e álcool; petroquímico e combustíveis; insumos agrícolas - calcário, fertilizantes e defensivos; madeira e celulose.
Hidrovia Tietê-Paraná: via de transporte para escoar as produções industriais e agrícolas para o interior do estado e para o Mercosul teve aumento de 120,7% na movimentação total de cargas em 2023 (Foto: Semil/SP)
A Hidrovia do Tietê integra um grande sistema de transporte multimodal, com 12 terminais portuários, distribuídos em uma área de 76 milhões de ha. A entrada em operação dessa via impulsionou a implantação de 23 polos industriais, 17 polos turísticos e 12 polos de distribuição, onde é gerada quase a metade do PIB brasileiro, e conecta áreas de produção aos portos marítimos. No sentido do interior, conecta aos principais centros do Mercosul.
Para que o objetivo de expansão seja alcançado, estão em andamento obras de aprofundamento do canal de Nova Avanhandava, em 3,5 metros, em Buritama, Baixo Tietê, para garantir o tráfego de embarcações mesmo durante o período de estiagem.
Outras vocações
O rio ainda fomenta o turismo logo depois da cidade de São Paulo. Existem dois eixos turísticos: um que sai de Barra Bonita, percorre o rio Tietê e entra no rio Paraná até a cidade de Presidente Epitácio, no oeste paulista; e outro que sai de Presidente Epitácio e sobe o Paraná até a cidade de Santa Fé do Sul, no extremo-noroeste do estado.
Passeio pelas eclusas: um dos eixos turísticos sai de Barra Bonita, percorre o rio Tietê e entra no rio Paraná até a cidade de Presidente Epitácio, no oeste paulista (Foto: Divulgação)
Pelos terminais hidroviários instalados nas cidades de Anhembi e Conchas, no Rio Tietê, a cerca de 200 km da capital, e Santa Maria da Serra, no Rio Piracicaba, a cerca de 230 km, as hidrovias do Tietê e do Paraná conectam o macroeixo São Paulo-Campinas-São José dos Campos-Sorocaba com a cidade de Foz do Iguaçu, na divisa com Argentina e Paraguai, permitindo a navegação em 1.642 km.
Além da hidrovia e da energia
Além da hidrovia, a regularização do fluxo do Tietê proporcionado pelos reservatórios das UHE permite e alimenta diversas outras atividades. Ao longo do rio, nesta parte navegável, existem reservas biológicas ricas em pescado, fauna e flora. Com cidades banhadas por dois importantes rios, Tietê e Paraná, a região possui grande variedade de peixes e clima, fauna e flora semelhantes aos do Pantanal, além de diversas praias fluviais.
Além da pesca esportiva, o rio representa fonte de renda para mais de 40 núcleos pesqueiros estabelecidos em cidades ao longo de suas margens. De acordo com a pesquisadora do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo, Paula Gênova, esse extrativismo pesqueiro é importante para fixar o homem à região em que foi criado. Essa pesca de pequena escala responde pela renda de centenas de famílias.
Há outra mais significativa: a piscicultura, principalmente da tilápia. Em 2022, último dado disponível da Associação Brasileira de Piscicultura, o Brasil produziu mais de 860 mil toneladas de peixes, 550 mil toneladas só de tilápias, tornando o país o quarto maior produtor mundial dessa espécie.
O estado brasileiro que mais produz tilápia é o Paraná e o segundo é São Paulo, com 77,3 mil t/ano. Tudo nos reservatórios das hidrelétricas. “Mas agora estamos em um esforço para conseguir crescer a produção de peixes em viveiros escavados, com sistema de tratamento e reuso de água, tornando possível a gestão da qualidade da água pelo criador”, explica o pesquisador Gianmarco David, do Instituto de Pesca de São Paulo.
As águas do Tietê também estão sendo usadas para projetos de irrigação para cultivo de alimentos no estado. O governo de São Paulo colocou à disposição de pequenos e médios produtores rurais a Linha Irriga Mais SP, no valor de R$ 200 milhões em crédito e subvenção.
Meio ambiente
O rio tem uma importância indiscutível sobre a qualidade de vida dos paulistas. A partir da década de 1950, com o aumento populacional e industrial desordenado da cidade de São Paulo e outras grandes cidades ao longo do rio, o Tietê se notabilizou por receber e carregar muito esgoto e descartes urbanos, efluentes industriais, resíduos agrícolas e da piscicultura. Como o Tietê corre de leste para oeste e deságua como afluente no rio Paraná, uma parte dessa poluição é contida nos reservatórios das UHE.
Em 2023, a UHE Três Irmãos, a maior do Tietê, conduziu em conjunto com o ONS um trabalho de limpeza da vegetação macrófita aquática que cresce alimentada pelos detritos, dificulta a oxigenação da água e reduz o fluxo natural da corrente. O ONS registrou em 2021 uma das mais baixas afluências do Tietê no rio Paraná dos últimos 50 anos e uma queda acentuada na geração de energia devido ao acúmulo da vegetação nas tomadas d’água das usinas. A limpeza solucionou a consequência temporariamente, mas não a causa.
A partir da década de 1990, após forte mobilização popular, o governo do Estado de São Paulo deu início ao projeto Tietê Vivo, que continua em execução. A despoluição das águas do rio no entanto é um desafio com enormes dificuldades. Embora o governo estadual propague que boa parte do esgoto tem recebido tratamento, a SOS Mata Atlântica registra que no pós pandemia a mancha da poluição, que vinha decrescendo ano após ano, cresceu mais de 140%, aumentando de 85 para 207 km.