
Revista Brasil Energia | Novos Modelos e Tecnologias em Energia
Conteúdo oferecido por PRYSMIAN
Energytechs brasileiras lideram setor na América Latina
Nos últimos seis meses, pelo menos 27 novas startups focadas em Energia começaram a operar. Eficiência Energética, Distribuição e Renováveis estão entre as especialidades principais

O Brasil já tem mais de 250 energytechs, startups especializadas no setor de energia, e deve manter a liderança em atrair empresas desse tipo na América Latina. Desde 2021, as iniciativas da região captaram aproximadamente US$ 800 milhões em cerca de 75 rodadas de investimento, sendo que 80% do montante foram concentrados em startups brasileiras.
“Existe uma crescente sinergia entre as startups do setor, especialmente no Brasil, onde o mercado de energytechs está em expansão. Essa colaboração ocorre porque elas frequentemente abordam diferentes aspectos do setor energético, complementando-se em vez de competirem”, resume Giancarlo Tomazim (foto), sócio e chefe de Marketing & ESG da Lead Energy.
Dado importante: a busca por energia limpa e eficiente cria um terreno fértil para parcerias, na avaliação do especialista. As soluções que integram tecnologias emergentes, como machine learning e geolocalização, estão entre os destaques, pois podem aprimorar a eficiência e a sustentabilidade no uso da energia.
Outra característica que reforça a complementaridade é o apoio de ecossistemas e programas de aceleração. Iniciativas como hubs de inovação, caso do Cubo Itaú em São Paulo, incentivam a colaboração e desenvolvimento de negócios entre startups e empresas.
Tomazin adianta que as energytechs que atuam com eficiência energética puxam o segmento. Duas em cada dez estariam na categoria. O foco, nesse caso, é desenvolver inovações voltadas para o uso racional e otimizado da energia.
Cubo Itaú, em São Paulo, já sediu encontro de startups voltadas para o setor energético (Foto: Divulgação)
Já a geração compartilhada seria a especialidade de 15% das startups do setor, centradas em soluções que facilitam o acesso coletivo a fontes de energia renovável e promovendo o que Tomazim chama de “democratização do consumo energético”.
A atuação em análise de dados (data analytics) e Big Data junta 17% das energytechs. O uso dos recursos acontece para monitorar, prever e otimizar o consumo e a distribuição de energia. Já a gestão de energia é o submercado de 10% das startups, com ferramentas usadas por clientes corporativos para a reduzir gastos energéticos.
Energia renovável como foco
O mapeamento das energytechs também tem sido feito pelo EnergyTech Report, da consultoria Distrito. Em sua edição mais recente (julho/2024), o relatório destaca que o Brasil teria 223 das 347 startups dessa área na América Latina.
Comparando-se os dados do material com a informação mais recente de Tomazim, é possível perceber que pelo menos 27 novas energytechs foram lançadas nos últimos seis meses.
O documento também faz outra classificação das empresas, considerando quatro categorias que facilitam o entendimento. A primeira delas aponta a Energia Renovável com principal foco, em áreas como geração distribuída, tecnologias para geração, acesso à energia solar e maximização da geração, nessa ordem.
A área de Distribuição é o segundo maior campo de atuação na oferta de soluções. A Eficiência Energética – disparado – é o maior foco, inclusive de todas as classificações. Em julho passado, a América Latina tinha 88 energytechs do total de 347 operando nesse nicho. O mercado livre de energia, as tecnologias offgrid e as microrredes também estão nessa segmentação.
Equipe da Lead Energy: foco em eficiência energética e outras soluções para promover economia de energia nas empresas (Foto: Divulgação)
O armazenamento de energia é a terceira categoria, com dois nichos: mobilidade elétrica e formas inovadoras. A área de combustíveis limpos fecha a lista, com 5 empresas na América Latina se dedicando ao assunto, 60% delas no Brasil, o que reforça a liderança local. Tanto é que o México, segundo maior concentração de energytechs, tinha apenas 12,4% das empresas.
Dois outros dados ajudam a entender o perfil das empresas na região. O primeiro deles é o cliente atendido. Mais da metade (51,6%) das startups atende o consumidor final e também empresas. As que focam apenas nas empresas são 32,9% da amostra e o consumidor final é alvo de 12%.
A segunda informação relevante é sobre o modelo de negócio. O pay per use, ou seja, pagamento pelo serviço usado, é majoritário, com 43% das startups optando por ele. O software como serviço (SaaS), com 17%, era o segundo mais escolhido, seguido do transacional (16%) e o focado em hardware (8%). Outros tipos de modelos (e-commerce, marketplace e assinatura) fecham as alternativas.
Clarke Energia: primeiro lugar entre as energytechs no ranking 100 Open Startups e Energisa como sócia (Foto: Divulgação)
Proximidade com comercializadoras
O mercado livre de energia é um tema à parte entre as startups. Segundo Tomazim, três tipos de energytech atuam nesse segmento. São elas: as que fazem gestão de energia, os marketplaces de compra e venda e as que oferecem soluções de eficiência energética.
Além da Lead Energy, que foca em ampliar a acessibilidade para quem está migrando, ele destaca a Clarke Energia, que alcançou o primeiro lugar entre as energytechs no ranking 100 Open Startups e a 18ª posição no ranking geral, que considera as startups de todos os segmentos. A Clarke ganhou uma sócia de peso, em 2024: a Energisa.
Em termos de financiamento, porém, a Órigo Energia, pioneira em geração distribuída de energia solar, é o destaque, com duas captações em 2024 que somaram US$ 280 milhões em rodadas de investimento. O relatório da Distrito, citado acima, também ressalta que a empresa já teria captado US$ 346,9 milhões em três rodadas recentes.
Outra frente onde as startups estão com bom desempenho é área de eficiência energética. Segundo Rodrigo Lagreca (foto), CEO da Energia das Coisas, elas estão sendo os drivers desse processo. “Não são nem as comercializadoras e nem as empresas que puxam isso”, explica.
Para ele, as energytechs identificam oportunidades de melhorias, que passam em branco pelas empresas como, por exemplo, uso inadequado de ar condicionado. No modelo da sua empresa, essa auditoria com relatório pode ser feita diretamente para o cliente corporativo ou mesmo ser usada pela comercializadora para reforçar o contrato de venda de energia.
A proximidade com as comercializadoras é a tônica de muitas startups como a E-Station, criada por Vitor Salgado (foto) em 2023, depois de atuar 11 anos em várias empresas de comercialização. A energytech atua na melhoria de gestão de processos, automatizando tarefas e liberando tempo para os especialistas focarem na compra e venda de energia.
Na avaliação dele, o diferencial em relação a outras empresas que oferecem software similares é agregar inteligência e agilidade das startups, que passam a funcionar como um braço auxiliar das comercializadoras para automatizar processos, uma demanda que tende a aumentar com a liberação de todos os clientes do grupo A.
De acordo com Salgado, a falta de maturidade no chamado mercado de varejo - empresas menores do grupo A - explica as parceiras de comercializadoras com as operadoras de telecomunicações, com ofertas conjuntas para um mercado de varejo já mapeado e conhecido pelas telcos.
“A comercialização precisa ser mais tecnológica na operação do dia a dia. A entrada no varejo acentua o processo”, argumenta. “Digitalização é uma preocupação de todas elas. Essa pegada digital pode acontecer internamente, mas ganha escalabilidade com as energytechs”, finaliza.