Como a biomassa garante suprimento e segurança ao SIN

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Como a biomassa garante suprimento e segurança ao SIN

A bioeletricidade gerada a partir de bagaço e palha de cana, próxima às UHEs que respondem por 70% da geração hidráulica do país, tem sido de vital importância para a manutenção dos reservatórios em níveis operacionais

Por Eugênio Melloni

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Localizada na cidade de Suzanápolis (SP), a unidade de cogeração a biomassa de cana Vale do Paraná, da Albioma, tem 48 MW e pode exportar até 30 MW para o SIN (Foto: Divulgação)

A geração térmica de energia elétrica com o uso de biomassa deverá apresentar neste ano um crescimento em sua capacidade de geração acima da média. Com potência outorgada total de 18,1 GW de 643 usinas, segundo a Aneel, é esperado pelo setor sucroalcooleiro, responsável pela maior parcela da bioeletricidade gerada a partir da biomassa, um acréscimo de 758 MW novos à matriz elétrica brasileira, 11% acima da média de 672 MW instalados anualmente no período entre 2005 e 2024.

Ainda que tal montante represente apenas 8,2% do total de acréscimo de potência a ser instalada no país neste ano, conforme números obtidos na União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), trata-se de um ganho importante de potência para o sistema elétrico, no momento em crescem as dificuldades na operação com o aumento acelerado da capacidade instalada da geração intermitente, em especial da MMGD solar.

“A geração eólica e a solar proporcionam eletricidade, mas não proporcionam potência, não trazem resiliência para o setor elétrico”, diz o presidente-executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte (foto), fazendo coro com muitos especialistas que procuram uma solução que faça sentido diante do crescimento acelerado das intermitentes. A bioeletricidade sozinha não resolve, mas sem ela o problema seria bem maior.

Duarte destaca que o posicionamento geográfico das usinas a biomassa no país contribui, estrategicamente, para aumentar a segurança energética do sistema e explica. As 428 usinas a bagaço de cana, a grande maioria delas no Sudeste, com destaque para São Paulo, estão situadas justamente nas regiões onde se encontram reservatórios de usinas hidrelétricas que representam cerca de 70% da capacidade de geração hidráulica do país. “Essas hidrelétricas são a grande bateria do sistema elétrico brasileiro”, diz Duarte.

Segundo o executivo, a bioeletricidade gerada pelas usinas a biomassa contribui para poupar 15% da energia acumulada nos reservatórios dessas UHEs. “Essa é a maior contribuição da biomassa ao setor elétrico”, define. “Pode parecer pouco, à primeira vista, mas foi o suficiente para evitar, em 2021, um shutdown das usinas hidrelétricas no Sudeste”, recorda.

Em 2021, após severa seca, os reservatórios do Sudeste atingiram um nível de apenas 18%. Se não pudessem contar com o reforço da geração térmica a partir da biomassa, os reservatórios teriam se esgotado a um nível próximo dos 3% de enchimento, o que inviabilizaria a operação das usinas e, mesmo que operassem, “não seria possível atender a demanda no Sudeste, que congrega dois terços do nosso PIB”, explica Duarte.

Bioeletricidade é a quarta fonte de produção de energia

No ano passado, de acordo com os dados levantados pela Unica, a bioeletricidade atingiu a marca de 28.260 GWh gerados, o que a situou na quarta posição entre as fontes geradoras de energia elétrica, ligeiramente atrás do gás natural. Nos cálculos da associação entram diversos tipos de biomassa, como lenha, lixívia, bagaço e palha de cana, resíduos de madeira, capim elefante, casca de arroz, biogás etc. No cálculo não entra a geração dos autoprodutores.

Do total de 21.218 GWh da bioeletricidade gerada em 2024, o bagaço e a palha da cana-de-açúcar responderam por 75% da oferta de matéria prima. O licor negro resultante do processamento da indústria de papel e celulose veio na sequência, ofertando 5.118 GWh excedentes para o sistema elétrico em 2024.

Em março desse ano, a biomassa da cana respondeu por 70,1% de toda a potência outorgada pela fonte biomassa, com 12.670 MW instalados. Trata-se de uma capacidade instalada que supera a da hidrelétrica de Belo Monte, com 11.233 MW e 428 unidades em operação comercial.

Os números da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha de cana ganham maior importância quando se observa a sua aplicação na prática. O volume de energia produzido por térmicas a biomassa em 2024 foi o suficiente para atender a cerca de 11 milhões de residências ao longo do ano, o equivalente a 31,4 milhões de pessoas no Brasil. A bioeletricidade gerada poderia atender duas vezes a população do Uruguai.

Os benefícios ambientais são múltiplos. Considerando-se as preocupações com a descarbonização e transição energética, a energia gerada a partir da queima da biomassa resultou em uma redução de emissões de CO2 estimada em 6,1 milhões de toneladas, o equivalente ao plantio de 43 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.

Considerando-se a expansão da geração a partir da biomassa verificada entre 2005 e este ano, foi registrado um total de 14,2 mil MW agregados ao parque gerador nacional, uma capacidade que supera a da hidrelétrica de  Itaipu (14 mil MW). Em relação à expansão total da geração no período, que foi de 129.825 MW, esse montante correspondeu a 11% do total inserido no país no mesmo período.

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