Opinião

Eficiência Energética: potencial x realidade

Por Redação

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Onze entre dez especialistas afirmam que há um enorme potencial para a eficiência energética (EE) nas indústrias do Brasil, seja pela troca de equipamentos obsoletos, mudança de processos ou melhoria na gestão. Mesmo antes do “tarifaço” as análises indicavam que muitos projetos teriam ótimo retorno econômico. Por que então as indústrias não investem mais em EE? Veremos a seguir que existem barreiras importantes. A primeira barreira é financeira: por demandar investimentos pesados, a compra à vista de equipamentos pode esbarrar na disponibilidade financeira do industrial. Para suplantar esta dificuldade, existem linhas de crédito para a EE, como a do BNDES. Se a prestação do equipamento custar menos que a economia na conta de luz, haveria redução de custos na largada. Problema resolvido, certo? Ainda não. A EE pode competir com outros investimentos da indústria, outro fator limitante caso esteja muito endividada. Uma alternativa seria transformar a EE em serviço, que entraria nos custos operacionais das indústrias (“OPEX”), não nos investimentos em bens de capital (“CAPEX”). Resolveria a questão com possível benefício fiscal.

A segunda barreira está relacionada ao risco da EE não trazer os resultados esperados. Nas grandes indústrias, o investimento pode estar associado a tecnologias mais avançadas, ainda não disseminadas. Cada industrial espera que os demais a testem antes, dando origem à expressão americana “everyone wants to be the first to be second”. O governo (ex. FINEP) pode atuar incentivando projetos pilotos neste caso. Já na pequena e média indústria a barreira de confiança/conhecimento pesa mais porque as empresas que oferecem o diagnóstico energético podem não ter a qualificação necessária ou prometer mais do que deveriam (por exemplo, a implantação da EE gera um conflito de interesses, como no caso do consultor financeiro que ganha comissão sobre as transações indicadas). A solução é trabalhar com empresas de alta reputação. No entanto, na pequena indústria pode não haver conhecimento, equipe, ou tempo, para identificar quais as empresas sérias. Neste caso, as indústrias podem participar de redes de EE que utilizam a mesma plataforma de gestão de energia, recebem um diagnóstico padronizado, participam de reuniões com troca de experiências, desenvolvem e monitoram as ações de EE.

Como último comentário, cabe observar que a EE não reduz necessariamente o consumo; seu efeito é permitir fazer mais com o mesmo. E este “mais” pode ser uma atividade que beneficie a economia (ex. expansão de uma indústria) ou o bem estar das famílias (lâmpadas mais eficientes podem viabilizar uma casa com mais lâmpadas e melhor iluminada). O aparente paradoxo de que aumentar a eficiência pode incrementar o consumo foi articulado há 130 anos pelo economista britânico William Jevons: “Se a quantidade de carvão usada num alto-forno puder ser reduzida pelo aumento de eficiência, os lucros do comércio aumentarão, novo capital será atraído e o preço do ferro-gusa diminuirá. Sua demanda aumentará e, eventualmente, um maior número de fornos mais do que compensarão a diminuição de consumo individual”.

O paradoxo de Jevons incomoda as pessoas que veem a redução absoluta do consumo de energia como o objetivo da sociedade. Um artigo recente argumenta que “cada produto que usamos hoje é mais eficiente do equivalente da década de 1970. Entretanto, nosso consumo de energia aumentou”. A tese foi criticada por Amory Lovins, uma das maiores autoridades em EE, em seu excelente artigo (http://blog.rmi.org/blog_Jevons_Paradox).
Em resumo: (1) O estado da EE na indústria do Brasil demanda uma maior atuação governamental para superar importantes barreiras; (2) Mesmo que a EE não reduza o consumo de energia, ela deve ser perseguida por induzir o desenvolvimento econômico e bem estar social.

Rafael Kelman é diretor da PSR

Outros Artigos