
Opinião
A OTC como um termômetro do mercado offshore
O tradicional evento de Houston deste ano ficou pouco expressivo em comparação com a ROG.e, com área de exposição mais ampla, atraindo público muito maior, o que a torna, apesar da frequência bienal, em evento maior que a OTC

Retornei recentemente da tradicional Offshore Technology Conference (OTC) em Houston, no Texas, e a pergunta que mais recebi foi sobre as minhas percepções do evento em relação ao momento, em especial em função do novo governo americano.
Afora a curiosa condução de esforços por palestrantes nada sutis quanto à nova dualidade da denominação entre “Golfo do México” e “Golfo Americano”, a edição deste evento — considerado o mais tradicional do mundo para a indústria de petróleo — trouxe alguns pontos importantes:
O primeiro ponto é a continuidade do reconhecimento da Petrobras como um dos motores da indústria offshore mundial. A presença da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, lotando a sessão de abertura, e a forte audiência nos painéis com apresentações da empresa, que tomavam todas as salas, deixou essa referência bastante patente. Além disso, mais uma vez um brasileiro, José Formigli, foi escolhido como a personalidade a ser homenageada — uma marca do evento que orgulhou todos os brasileiros e a Petrobras, onde ele construiu sua carreira.
A baixa participação de executivos das principais oil companies gerou contraste com edições passadas. Nesta edição, além da estatal brasileira, a maioria das internacionais sequer montou seus estandes na exposição, que, aliás, também ficou pouco expressiva em comparação com outros eventos no país, como a Rio Oil & Gas — atualmente ROG.e —, que já possui uma área de exposição mais ampla, atraindo um público muito maior, o que a torna, apesar da frequência bienal, um evento maior que a OTC.
O interesse pelos investimentos no Brasil como epicentro das atividades offshore — não só pelas principais bacias produtoras (Santos e Campos), mas também pelas novas fronteiras, como a Margem Equatorial, e por novas bacias, como Pelotas — ficou bastante patente. Nesse cenário, muitas empresas enxergam o Brasil como um polo econômico de suporte à própria Margem Equatorial em países vizinhos.
Apesar de não se tratar de um evento que se “envergonhou” do petróleo — como algumas iniciativas do setor que até mudaram de nome — foi possível detectar discussões em painéis sobre fontes não convencionais e, até então, não sinérgicas ao setor, como a energia nuclear (a partir do uso dos small modular reactors – SMRs), a geotermia e sistemas de armazenamento de energia.
A referência ao Brasil também ficou ressaltada quando o evento “Doing Business with Petrobras” lotou — com ampla fila de espera — um grande hotel, onde 70 % dos participantes nunca haviam feito negócios no país e buscavam efusivamente parceiros locais.
Outro aspecto positivo foi a elevada participação do país, com muitas delegações; neste contexto, a pouca presença das delegações de países árabes, indianos e chineses contrasta com o movimento histórico observado no passado.
Por parte do Brasil, além das delegações das chamadas petroleiras — em especial da Petrobras —, destacou-se o trabalho feito pela Apex, consolidado em um estande central, com a participação de empresas públicas como EPE, Sebrae e Nuclep, e de entidades importantes como Firjan, Onip, IBP, Abimaq, Sinaval, Abemi, Abeam e Abespetro, entre outras, sempre com o suporte da Câmara Brasil-Texas (Bratecc).
O evento, apesar de ter uma exposição muito inferior àquela dos anos anteriores e da pequena participação das chamadas “majors” da indústria de petróleo, apresentou elevada qualidade nas apresentações técnicas — tanto em painéis quanto em trabalhos de excelente nível — e se tornou um ambiente bastante favorável à integração da indústria petrolífera nacional, por meio dos diversos eventos paralelos, e ao networking de empresas que atuam no setor no país.
O evento do fim de semana prévio à OTC, denominado Encontro de Brasileiros e organizado pela FGV Energia, foi especialmente marcante e vem crescendo a cada edição.
O fato é que a percepção de muitos é que, cada vez mais, os eventos brasileiros — especialmente com a tendência de atividade exploratória na Margem Equatorial e os novos rounds de bids da ANP — tornar-se-ão os maiores e mais atrativos da indústria do petróleo mundial. Eventos como o ROG.e (ex-Rio Oil & Gas), em caráter bienal, e a própria OTC Brasil, que já ocorrerá este ano, já devem demonstrar isso.
Reafirmando esse movimento, outros eventos que já acontecem — como a Navalshore e o de FPSOs, realizados no Rio na Expo Mag — têm sido termômetros desse processo de atenção.
Na mesma esfera, os chamados eventos regionais ao longo do país — como os que já estão acontecendo este ano em Sergipe (em função da SEAP 1 e SEAP 2), na Bahia (pela retomada da perfuração de poços terrestres) e, futuramente, no Amapá — despertarão maior interesse da indústria de bens e serviços do país. Para favorecer tal percepção e integração, estados como Amapá e Sergipe enviaram delegações relevantes ao evento, inclusive coordenadas pelos próprios governadores, que participaram ativamente.
O número de participantes nesta última OTC, conforme dados do IBP, foi da ordem de 950 brasileiros, certamente superando todas as delegações de outros países; a elevada procura pela participação, aliada à revitalização dos eventos nacionais, deve ser vista como um indicativo importante do retorno da atenção e do vigor da indústria petrolífera brasileira.