
O papel das universidades para a transição energética
Opinião
O papel das universidades para a transição energética
O Nielte inicia suas atividades construindo o que denominou de trilha para formação de recursos humanos na área energética; graduação em Engenharia de Energia, pós-graduação lato sensu e mestrado com possibilidades de ir a doutorado

Certamente que todos concordam que as universidades possuem papel preponderante para que a transição energética ocorra com benefícios otimizados para a sociedade. Essa contribuição sempre se deu via a formação de recursos humanos, a produção de conhecimento e a atuação junto à sociedade de diversas formas no contexto de ações extensionistas. Nas instituições de ensino pública, esse papel tem sido desempenhado com muito esforço há vários anos, haja vista a pouca importância dada a atividade de ensino e pesquisa no Brasil.
Em que pese as inegáveis contribuições das universidades até hoje persiste a visão, em alguns setores da sociedade, que as universidades produzem muito aquém do que poderiam e deveriam. Tal visão decorre, na minha visão, do distanciamento da academia com tais setores, fato este decorrente da postura adotada por ambos os lados.
Não importa aqui responsabilizar o lado que mais contribui para esse estado de coisas, mas creio que as universidades precisam alinhar sua atuação com as demandas impostas, dentre outras razões pela transição energética e pela perspectiva que a nova geração de estudantes demanda.
Entendo que é possível promover tal mudança. Acreditando nisso, apresento um breve relato do trabalho que começou a ser desenvolvido, neste ano, no âmbito da Faculdade de Tecnologia (FT) da Universidade Federal do Amazonas.
As instituições de ensino superior normalmente constituem núcleos de pesquisa e assim o fez a FT, criando o Núcleo de Inovação, Empreendedorismo e Liderança para a Transição Energética (Nielte).
O Nielte inicia suas atividades construindo o que denominou de trilha para formação de recursos humanos na área energética. A trilha começa com a graduação em Engenharia de Energia que deverá ter sua primeira turma iniciando no primeiro semestre de 2027.
O segundo degrau da trilha se constitui em cursos de pós-graduação lato sensu, sendo o primeiro o de Transição Energética, com início planejado para este ano, moldado, porém não exclusivo, para tomadores de decisão do setor público e privado.
E o terceiro degrau da caminhada é o mestrado em Engenharia de Energia, com início previsto para 2027 e, quiçá, evoluindo para o doutorado.
Essa é uma das estratégias adotada pelo Nielte para a formação de lideranças, imprescindível para conduzir o processo de Transição Energética. Evidentemente que esse processo de formação dialoga diretamente com o tema inovação, outro pilar do Nielte e, também, com o empreendedorismo.
É oportuno salientar que a temática de empreendedorismo já começou a ser trabalhada no âmbito do curso de graduação de Engenharia de Petróleo e Gás com a disciplina recém-criada chamada Gestão e Empreendedorismo em Energia, onde os participantes irão desenvolver habilidades técnicas e socioemocionais no sentido de identificar oportunidades, no âmbito do setor energético, planejar como explorá-las e gerir empreendimentos de diferentes naturezas.
No campo extensionista o Nielte está elaborando o projeto denominado Pontos de Luz para o Amanhã. Essa ação terá como público alvo, prioritariamente, crianças da rede pública e jovens em estado de vulnerabilidade social. O objetivo é dotá-los de conhecimentos básicos na área de energia e dotá-los de habilidades técnicas e socioemocionais.
Espera-se assim, aumentar a probabilidade de sucesso profissional e pessoal para esses jovens e, se assim o desejarem, seguirem a trilha para se profissionalizarem na área energética. Esse projeto também possibilitará identificar futuros empreendedores.
O Nielte está constituindo uma rede de parcerias de sorte a se inserir ativamente no ecossistema de inovação e empreendedorismo do estado do Amazonas e da região Norte. Assim, será possível identificar oportunidades de colocar no mercado bens, serviços e políticas públicas decorrentes das ações de ensino, pesquisa e extensão.
Alguém perguntaria, e como o Nielte se aproximará da sociedade de sorte a superar a barreira que existe com alguns setores, como mencionado? Respondo dizendo que a estratégia adotada foi fazer constar na estrutura organizacional do Núcleo, o Conselho Consultivo. Estão sendo convidados a compor o Conselho diversos agentes do setor público e privado, tais como o Centro das Indústria do Estado do Amazonas e a Superintendência da Zona Franca de Manaus. Assim, tem-se um ambiente permanente de interação, o que permitirá um alinhamento entre as ações do Núcleo e os anseios da sociedade em geral.
Alguém também pode perguntar: E de onde virá os recursos para esse processo? Respondo: Por hora, o único recurso que estamos dispondo é o da vontade de fazer algo diferente para obter resultados diferentes. Evidentemente que está sendo planejado uma infraestrutura adequada para fazer frente aos desafios da atualidade, principalmente para pesquisa. No entanto, o fato de não dispor de recursos nesse momento não pode servir de desculpa para não iniciarmos o que precisa ser feito.
O lançamento oficial do Nielte ocorreu no último dia 6 de agosto no âmbito de uma ação denominada de Transição Energética em Pauta e que contou com a participação, como palestrantes, de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), da Eneva e da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar).
As universidades possuem o recurso que considero de maior valor para promover mudanças estruturantes e significativas na sociedade, que é o recurso intelectual. A sociedade está clamando pelo uso mais assertivo desse recurso e nos cabe atender essa demanda, em que pese todas as dificuldades.