Opinião

Mineração e Transição Energética na Amazônia

Vamos explorar nossos recursos de forma sustentável, internalizando os benefícios socioeconômicos, ou vamos ampliar a nossa dependência de soluções energéticas de sustentabilidade discutível?

Por Rubem Cesar Souza

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É preciso ter clareza que não é possível sequer pensar em Transição Energética sem a forte presença da indústria de mineração. Em toda e qualquer tecnologia associada à geração, transmissão e distribuição de eletricidade os minerais estão presentes. Os denominados minerais críticos da Transição Energética são basicamente o lítio, o cobalto, o níquel, a grafite e os elementos de terras raras, uma vez que sem estes não é possível dispor das novas fontes renováveis. Portanto, ao se estimular a produção de veículos elétricos, painéis fotovoltaicos, turbinas eólicas, dentre outros, é preciso ter a consciência que se está estimulando diretamente a indústria de mineração.

Estudo lançado pela EPE em março de 2025 aponta que carros elétricos requerem seis vezes mais insumos minerais do que os convencionais. E um parque eólico requer nove vezes mais recursos minerais do que uma usina a gás.

Estudo apresentado pela Agência Internacional de Energia em 2023 concluiu que a implantação recorde de tecnologias de energia limpa, como energia solar fotovoltaica e baterias, está impulsionando um crescimento sem precedentes em mercados de minerais críticos.

Diante desse cenário, se torna urgente encontrar soluções para uma indústria de mineração sustentável, dado que inúmeros são os problemas socioambientais associados a essa indústria, quando se considera sua forma tradicional de atuação. Para ilustrar essa assertiva, podemos citar que para extrair uma tonelada de lítio são necessários, aproximadamente, dois milhões de litros de água. E que aproximadamente 50% da produção global de lítio e cobre ocorre em regiões com escassez de água. 

O referido estudo da EPE elege 23 minerais considerados críticos e estratégicos para a Transição Energética brasileira. É importante observar que na lista de minerais críticos dos EUA constam 50 substâncias e há 34 minerais na lista da União Europeia. No cenário brasileiro, 69,5% dos minerais críticos são da categoria II, ou seja, são minerais cuja importância está crescendo devido à aplicação em produtos e processos de alta tecnologia.

Olhando sobre o prisma geopolítico verifica-se que a produção dos minerais críticos é muito concentrada, tanto em termos de países quanto de empresas, inclusive, tendo concentração maior do que a indústria de petróleo e gás. Temos, por exemplo, a Indonésia como a principal extratora de níquel, enquanto a maior produtora de cobalto é a República Democrática do Congo. No tocante ao processamento dos minérios, a concentração se acentua e o caso de destaque é o do processamento de materiais como cobre, níquel, cobalto e lítio com concentração variando de 40% a 80% na China.

Quando olhamos para o cenário amazônico brasileiro, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), há grandes depósitos de cobre, alumínio, níquel e terras raras, além de ocorrências de lítio e grafite. De pronto nos ocorre, regionalizando a expressão, que podemos surfar nesse “banzeiro”. No entanto, sempre haverá alguns que, de pronto, se levantem e bradem: Indústria de mineração na Amazônia, não, isso é um crime contra a humanidade! Porém, essas mesmas vozes, vociferam: exigimos energia eólica, energia solar fotovoltaica, mobilidade elétrica e outras tecnologias “limpas”!

Centenas de empresas vêm fazendo pedidos para explorar minerais para a Transição Energética na Amazônia brasileira, com forte concentração para atividade no estado do Pará.

Chamo a atenção para termos muita responsabilidade com relação às escolhas que estamos fazendo. No mencionado estudo da EPE, consta que a Hidroeletricidade e a Bioenergia destacam-se como fontes de energia alternativa com baixa demanda por minerais, cujos materiais utilizados são amplamente aplicáveis a diferentes tecnologias e não exclusivos dessas fontes.

Em artigos anteriores trouxe exemplos de soluções energéticas perfeitamente alinhadas com o cenário amazônico, alicerçadas na produção e uso da bioenergia.

Muito trabalho precisa ser feito para termos a atividade de mineração desenvolvida de forma compatível com as demandas atuais da sociedade, tanto em nível nacional quanto em nível regional.

A EPE apontou oportunidades a serem exploradas. No entanto, entendo que há a necessidade da participação direta da governança em nível de estados e municípios. Governança essa que esteja devidamente subsidiada de informações acerca de seus desafios e oportunidades e capacitada a conceber políticas públicas eficientes e eficazes com visão de curto, médio e longo prazos.

A questão que enfatizo é: vamos explorar nossos recursos de forma sustentável, internalizando os benefícios socioeconômicos, ou vamos ampliar a nossa dependência de soluções energéticas de sustentabilidade discutível?

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