
Opinião
Onde Explorar e Descobrir novas Reservas de Petroleo no Mundo?
Para atender o consumo atual por mais de 50 anos, somente as bacias offshore em águas profundas e ultra profundas podem dar essa resposta. E nesse contexto o Brasil está muito bem-posicionado.

Coautores: Kazumi Miura, Lincoln R. Guardado e Bruno Leonel
A busca intensa por petróleo, empregando cada vez mais tecnologia (principalmente sísmica 3D), levou a descoberta e exploração de quase todo petróleo mundial em terra. A primeira unidade de perfuração no mar foi construída para operar no Golfo do México pela Zapata Oil Company, em águas rasas, e iniciou as operações em 1956. As profundidades de operação foram aumentando e em 1962 já havia sido colocada uma unidade de perfuração (Jack up) a 350m de profundidade e em 1970 há registro de sonda semissubmersível colocada a 600 metros de lâmina d’água. Indicando a busca de petróleo no offshore.
No Mar do Norte, setor inglês, deu-se início à produção de petróleo no mar em 1975, a seguir vieram as descobertas da Noruega. O Brasil já produzia óleo, em águas rasas dos campos da Bacia de Sergipe, e em 1974 a Petrobras anunciou uma descoberta na Bacia de Campos – campo de Garoupa, que foi seguido por Namorado e Enchova, colocando definitivamente a Petrobras como produtora de petróleo offshore. Daí em diante, todo esforço e tecnologia foi orientado para águas mais profundas.
A evolução das sondas de perfuração foi fundamental para se conseguir explorar e produzir petróleo em águas mais profundas, passando das jackup para semissubmersíveis com âncoras e posicionamento dinâmico e, mais recentemente, com capacidade de perfuração de mais de um poço simultaneamente, o chamado dual drilling. Todos esses avanços começaram a acontecer a partir dos anos 1950 e continua havendo avanços. Aliado ao ganho tecnológico das sondas houve também muito avanço nos métodos indiretos de pesquisa, tais como a sísmica 3D de alta resolução.
Por que houve poucas descobertas?
Uma das grandes dificuldades para novas e grandes descobertas é o alto custo envolvido na exploração (aquisição e interpretação de dados) e produção (perfuração de poços e instalação de facilidades). Isso reduz o número de empresas com capacidade para esse tipo de projeto. Além disso, há dificuldades de obtenção de licenças, como no Brasil, e falta de equipamentos para produções, que em geral são construídos sob encomenda (FPSO).
As grandes bacias de águas profundas e ultra profundas estão distribuídas no planeta como Bacias do Atlântico, da Margem Continental do Leste da África, do Oeste do Pacífico, do Círculo Ártico e da Neo Tethis. Há indicações de que as três primeiras estão orientadas Norte-Sul e as duas outras Leste-Oeste. O mapa abaixo indica onde estão situadas essas bacias. Os campos de óleo já descobertos, em ambiente offshore, estão na sua maioria nas bacias do Atlântico (Costa do Brasil e Guianas, Golfo do México e Oeste da África) e os campos de gás nas bacias localizadas no Leste Africano, Oeste do Mediterrâneo, Oeste do Pacífico (Austrália) e nas bacias do e Ártico polar.
Fonte: Science Direct – Jornal of natural gas geoscience
A história da exploração offshore de águas profundas e ultra profundas teve um grande impulso a partir de 1996 quando um grande esforço começou a ser feito em todas as bacias. De 1996 – 2000 mais de 250 poços em águas profundas foram perfuradas, de 2001-2004 uma média de 260 poços por ano foram perfurados, 2004-2008 houve uma pequena redução, mas 220 poços foram perfurados por ano. Toda essa atividade resultou em várias descobertas de óleo e gás em águas profundas e ultra profundas.
Mais de 80% dos campos de petróleo descobertos a partir do ano 2000 foram em águas profundas/ultra profundas, concentradas no chamado Triângulo de Ouro (Golfo do México, Oeste da África e América do Sul, Brasil e Guianas). Oeste da África - Delta do Niger, bacia do Baixo Congo e área central e, mais recentemente, Senegal e Namíbia. América Sul - Brasil bacias de Campos e Santos e, a partir de 2006, nos prospectos do pré-sal (golden pre sal), Guiana e Suriname, Norte da América Latina. Finalmente o Golfo do México, também com boas descobertas no pré-sal.
Como avançar na busca
Diferentemente das bacias terrestres, onde foi muito mais fácil descobrir e produzir petróleo, as bacias de águas profundas e, principalmente, ultra profundas têm um grau de complexidade maior. Devido aos custos serem muito mais elevados, principalmente os custos de perfuração, completação de poços e produção, apenas as empresas chamadas de Big Players atuam nesse setor. Adicionalmente ainda tem um volume relativamente pequeno de dados de exploração envolvendo poços e sísmica 3D o que torna os riscos de insucesso muito maiores.
A tabela a seguir mostra as 20 mais recentes descobertas de óleo, quase todas após o ano 2000, das quais 14 foram feitas no Brasil.
De acordo com o Rystad Energy´s Research as grandes empresas investiram apenas US$ 7 bilhões/ano gasto entre 2020 e 2024, contra US$ 10 bilhões/ano entre 2016 e 2019. Ainda na tabela, figura uma única grande descoberta nos últimos 8 anos, que foi o campo de gás da costa oeste africana no Senegal (2016). Mesmo as descobertas mais recentes, como Namíbia, ainda têm problemas de reservatórios, o que implica dificuldade operacionais de produção.
No que concerne ao gás, vários campos de gás foram descobertos em águas profundas e ultra profundas nas bacias do Leste da África (Moçambique), bacias do Ártico (Mar de Barents, da Rússia e Noruega), Mediterrâneo Leste (Egito e Israel), bacias do Pacífico Oeste (Australia e Indonésia) e até na bacia do Atlântico Oeste africano (Senegal). Mais de 11 trilhões de m3 foram descobertos nessas bacias, o que representa em torno de 10% das reservas mundiais atuais dos reservatórios convencionais.
Relatórios indicam que as chamadas Majors companies, como ExxonMobil, Shell, Chevron, BP, Totalenergies, Equinor, Petrobras, Eni e outras, continuarão seus esforços nas buscas de mais petróleo, principalmente nas bacias do Atlântico, e gás, como Leste do Mediterrâneo e Oeste da Asia incluindo Austrália. Em 2024, houve aumento de áreas ofertadas para exploração nessas bacias e outras, com área de 112.000 km2.
Devido ainda ao reduzido número de informações técnicas, como poços perfurados, sísmica 3D e outros, torna-se difícil avaliar quantos bilhões de barris de óleo e m3 de gás poderiam ser descobertos em águas ultra profundas nos próximos anos. No entanto, poderíamos imaginar que algo parecido, como mostra a figura abaixo, com relação as águas rasas e médias poderiam acontecer para as águas profundas e ultra profundas tendo em vista as descobertas já feitas recentemente e o potencial indicado pelos estudos.
O Brasil seria um ótimo exemplo dessa premissa, pelo volume de reservas já descobertas em águas profundas e ultra profundas. Difícil imaginar que o mesmo volume não seria descoberto, pela quantidade de bacias brasileiras ainda pouco exploradas. Acreditamos que haja um grande potencial ainda para novas descobertas, inclusive na Bacia de Pelotas, pela similaridade com a costa africana, e Margem Equatorial, pela possível semelhança com Guiana e Suriname.
Fonte: Research Institute of Petroleum exploration and development CNPC
Na Costa Oeste africana há 15 bacias, onde entre 1995 e 2012 foram descobertos mais de 180 campos de óleo e gás. Difícil imaginar que não exista muito mais óleo e gás a ser descoberto, mesmo porque algumas acumulações em águas profundas ainda são recentes, como no caso de Senegal, dos campos de gás na Namíbia e de óleo na África do Sul. Ainda há muito para ser feito, sem considerar que várias bacias estão ainda em estágio bem preliminar de exploração.
Fonte: Research Institute of Petroleum exploration and development CNPC