Combustíveis fósseis e as novas fontes de energia na Europa
Opinião
Combustíveis fósseis e as novas fontes de energia na Europa
Na Europa, 44% da energia produzida vem de fontes renováveis e nuclear, patamar atingido graças ao elevado grau de conhecimento científico, disposição política dos países membros, recursos financeiros disponíveis e uma população bastante consciente das alterações climáticas
Coautores: Antônio Muller e Bruno Leonel
A Europa vem direcionando suas políticas para diminuir a dependência de combustíveis fósseis e aumentar o uso de energia de fontes renováveis e nuclear. A Guerra entre Ucrânia e Rússia, desde 2022, impulsionou ainda mais o continente nessa direção, dando um verdadeiro exemplo para o resto do mundo.
Em 2023, o uso de combustíveis fósseis caiu para 19%, enquanto o aumento das energias renováveis subiu para 44% da geração de energia total, com solar e eólica indo para 27%, maior percentual já atingido por essas fontes. Pode ser considerado uma verdadeira revolução atingir esses percentuais em tão pouco tempo. Por causa da guerra houve um decréscimo substancial do uso de gás, que pela primeira vez foi ultrapassado pela fonte eólica na geração de energia.
Houve um recorde na redução do uso do carvão e de gás para geração de energia e também na redução da emissão do CO2 (como consequência), tornando a Europa um dos continentes mais “limpos” entre todos. No entanto, essa transição tem suas limitações e há restrições que impedem a sua implementação plena em curto prazo. Mesmo assim, o esforço europeu tem sido bastante positivo e digno de ser seguido pelos outros paises.
As fontes solar, eólica e hidrelétrica atingiram o pico de geração em 2023 com mais de 44% da energia total gerada. Há estudos que apontam que em 2030 as fontes renováveis atingirão 72% de toda energia gerada na Europa, com a solar e eólica atingindo 55% do total. Mantendo esse crescimento e em conjunto com a geração núcleo-elétrica, certamente a Europa poderá chegar a 100% da energia gerada a partir de fontes renováveis e nuclear, antes de 2050. Conforme mostra o gráfico deste artigo, a energia solar já ultrapassou o carvão e a eólica se tornou mais importante que o gás. Marco extraordinário para redução dos combustíveis fosseis.
Ainda há outras alternativas, que estão em fase de desenvolvimento, tais como o hidrogênio verde, geração via uso de ondas marítimas e fontes termais, de origem vulcânicas e a nuclear. A comunidade Europeia considerou a energia nuclear como sendo energia verde (especialmente por não contribuir com o aquecimento), daí sua importância na matriz energética do mundo.

Todas essas mudanças trazem como consequência imediatas a redução das emissões de CO2, desde 2007, com acentuada queda a partir de 2010 e, mais recentemente, com avanços da geração via renováveis.

Sete dos países europeus assinaram um pacto para buscar descarbonizar o setor elétrico até 2035. Um passo importante para a meta de carbono zero no continente.
O consumo per capita de eletricidade na Europa, registrados em 2023, foi de aproximadamente 6 MWh. No entanto ainda existe grandes discrepâncias entre o consumo per capita entre os países, sendo que Islândia consome em torno de 52, Noruega 23, e Romênia e Polônia ainda estão na casa de 1 MWh per capita, ou seja, uma grande diferença no consumo percepta de energia, mesmo dentro da Europa. Desafios existem e um deles poderia ser equalizar o consumo per capita de todos os países e que todos possam se beneficiar dos avanços das energias renováveis e nuclear .
O gráfico abaixo mostra a evolução da geração elétrica na Europa desde 1990, nota-se que o setor de energia renováveis, principalmente solar e eólica, vem crescendo num ritmo bastante elevado e o setor de combustíveis fósseis vem caindo desde 2006, acompanhados pela geração nuclear. Porém, conforme mencionado toda Europa está tomando a partir de 2025 com a fonte nuclear para atingir Net Zero em até 2050.

O setor elétrico precisa estar unido com bastante foco para manter a tendência de 2023 até conseguir zerar a emissão de carbono. A guerra entre Rússia e Ucrânia, num primeiro momento trouxe dificuldades para substituição de todo gás fornecido pela Rússia, mas aos poucos a Europa foi se adequando às novas fontes de energia e diminuindo a sua dependência do gás.
Os dados de 2023 foram excepcionais para geração de energia elétrica na Europa. O resumo abaixo indica esses números.
- Redução de 7,4% no suprimento de gás natural, tornando o menor consumo e suprimento desde 1995.
- Redução de 24,2% no suprimento de carvão, menores valores da série histórica.
- Redução no suprimento de produtos de petróleo de 1,5% comparado com 2022.
- Aumento de 4,4% no suprimento de energia renovável, gerando mais de 1,21 milhões de Gigawatt-hour (GWh)
Todos esses avanços, junto com o aumento da conscientização da população para o uso racional de energia, associado à redução gradual da população da Europa (o decréscimento populacional de hoje está em torno de 1 milhão de pessoas por ano), está permitindo uma redução no consumo geral com melhor distribuição entre os países. Há indicação de que a população da Europa irá atingir em torno de 700 milhões de pessoas em 2050, uma redução de mais de 40 milhões de habitante em menos de 25 anos, tudo isso vai permitir que as metas de redução de carbono sejam atingidas na área de energia na Europa, quem sabe já em 2035. Esse o exemplo a ser seguido por outras nações.
* Antonio E. F. Muller, engenheiro mecânico, é membro vitalício da ASME, presidiu a Abemi e é conselheiro na Abimaq e Firjan.
* Bruno Leonel é geólogo na Petroil Óleo e Gás.



