Opinião

O avanço mundial na captura e redução do CO2 e outros GEE

A emissão mundial de CO2 ultrapassa a marca de 41 bilhões de toneladas anuais. Os Estados Unidos lideram essas emissões. A Ásia consome 80% do carvão mundial. O que fazer para reduzir essas emissões e quem sabe chegar a 2050 com o Net Zero?

Por José Almeida dos Santos

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Coautores: Kazumi Miura, Bruno Leonel e Normando Lins

Em 1950, apenas cinco anos depois do final da Segunda Guerra, as emissões globais de gases do efeito estufa (GEE) saltaram de 4 para 6 bilhões de t/ano. Em 1989, esse número passou para 22 bilhões de t/ano e em 2024 chegou a mais de 41 bilhões de toneladas anuais. Segundo as medições feitas, em torno de 86% das emissões são oriundas do uso de combustíveis fósseis. O restante parte de fontes de uso dos solos ou das queimadas e desmatamentos das florestas.

Conforme demonstra o primeiro gráfico trazido para este artigo, o carvão ainda é o grande vilão gerador das maiores quantidade de COdevido ao seu emprego na geração de energia elétrica, ainda presente em praticamente todos os continentes. E o consumo na Ásia representa 80% do consumo mundial. O segundo maior emissor de CO2 é o petróleo e seus derivados, principalmente usados nos transportes em todos os tipos de veículos: ônibus, carros e caminhões, aviões, navios, barcos, máquinas agrícolas e etc.

Em terceiro lugar está o gás, cujo consumo vem aumentando a cada ano, muitas vezes como substituto dos dois primeirtos por ser menos poluente que o carvão ou o petróleo. Recentemente, a indústria de cimento começou a aparecer nas métricas, devido ao crescimento acelerado e porque utiliza óleo ou gás em sua produção.

Além do CO2, metano e outros óxidos poluentes, que atuam como GEE, também são emitidos para a atmosfera. Segundo as medidas feitas pela WordinData.Org/CO2 and greenhousegas emission, em 2023 foi alcançada a marca de 50 bilhões de t/ano de GEE.

A emissão de gases de efeito estufa acompanha o maior crescimento do uso dos combustíveis fósseis nos últimos 60 anos. Observa-se modesta tendência de redução na Europa mas, em contrapartida, um crescimento acentuado na Ásia, especialmente na China. De um modo geral, esse crescimento nas emissões asiáticas deve-se ao uso intensivo do carvão para geração de energia elétrica e ao aumento das frotas de automóveis, associado ao crescimento do poder aquisitivo da população daquela região.

Desde 1750, segundo dados obtidos no Global Carbon Budget (GCB), o mundo já emitiu mais de 1,5 trilhão de toneladas de CO2. Entre os 20 paises com as maiores emissões desde 1850, os Estados Unidos são o maior emissor acumulado, até porque foi o maior consumidor de combustíveis fósseis, seguido da China, devido a seu avanço nos últimos anos. A Rússia ocupa o terceiro lugar e o Brasil a quarta posição, devido ao manuseio do solo, mesmo tendo uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo.

Como reverter essa situação?

O mundo inteiro se mobiliza para alcançar a meta do Carbono Zero, ou seja, zerar o resultado líquido das emissões de CO2. Como essa meta pode ser atingida e quais países poderiam ter dificuldades para cumpri-la são, talvez, as perguntas mais difíceis de serem respondidas. Mas a meta deve ser perseguida, tanto reduzindo as emissões quanto capturando o CO2 emitido.

Temas para atingir a meta

1 – Geração de Energia Elétrica – Como uma das maiores geradoras de emissões, devido ao alto teor de carvão e petróleo ainda utilizado, os avanços na geração de energia de fontes irão contribuir significativamente para reduzir as emissões. A Agência Internacional de Energia (AIE) aponta que 90% da geração mundial de energia em 2050 deverá vir das fontes solar, eólica e outras renováveis. Acredito que esta seja uma meta muito ambiciosa, devido aos custos de implantação, dificuldades técnicas e financeiras e complexidade de armazenamento de energia nos picos de geração.

2 – Transformação dos meios de Transporte – Dos 100 milhões de barris/dia de petróleo produzidos atualmente, em torno de 70% são consumidos pelos meios de transporte em geral. O maior gargalo para a expansão dos veículos elétricos reside na dificuldade de produção de baterias para armazenamento, devido, principalmente, ao consumo elevado dos minerais necessários, como o lítio e outros. Mas há quem considere a expansão das redes de energia e os pontos de abastecimento como um desafio maior ainda. Projeções do AIE indicam que a eletrificação dos motores pesados será a que deverá acontecer de forma mais lenta.

3 – Mudanças no uso do solo - A segunda fonte emissora de GEE, em torno de 14% do total, são as atividades do manuseio do solo e da criação de animais, principalmente bovinos, responsáveis pela emissão de grande quantidade de metano. Mudanças drásticas nessas atividades, como aumento do reflorestamento e redução no desmatamento, combates a incêndios propositais ou acidentais, manuseio mais racional dos animais sem dúvida reduzirão drasticamente o volume de emissões.

4 – Capturas de CO2 - O mundo deve quadruplicar a captura de CO2 atmosférico para tentar atingir a meta do Carbono Zero. Segundo um relatório recentemente publicado pela Universidade de Oxford, será necessário capturar na atmosfera e armazenar de forma sustentável entre 7 e 9 bilhões de t/ano de CO2. Entre as várias formas de captura do CO2 a mais simples é o plantio de árvores. A Petrobras injetou 14,2 milhões de toneladas de CO2 nos reservatórios do pré sal em 2024 e há registro de que mais de 67 milhões do de toneladas já foram injetados como mecanismo de recuperação secundária. Nesse caso, a injeção de CO2 ainda ajuda na produção de mais óleo dos reservatórios.

5 – Mudanças nos hábitos da população - Medidas simples como o consumo racional de energia, maior uso do transporte público e o zelo com os resíduos gerados são também pequenas mudanças que geram grandes resultados. O gráfico que fecha esse artigo mostra como um desastre pode influenciar mudanças de comportamento. Depois do maremoto e tsunami no Japão, em 2011, quando a Usina de Fukushima foi seriamente afetada. Não só a geração nuclear praticamente desapareceu na matriz energética do país, mas a produção de energia como um todo caiu ao nível do ano 2000. Em 2022, no Japão 10% da energia gerada era da fonte solar.

 

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