Opinião

A revolução do Shale Gas e do Tight Oil na Ásia e Oceania

A Ásia consome atualmente 80% do carvão do mundo e o shale gas e o tight oil e gás surgem como opções para que os países da região busquem uma matriz energética mais limpa, como já acontece nos Estados Unidos e China.

Por José Almeida dos Santos

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Coautor: Kazumi Miura   

A Ásia, tendo a maior população do planeta, certamente será o continente de maior consumo de energia do mundo. A China, que faz parte desse continente, foi um dos primeiros países a modificar seu parque energético para fontes mais limpas, vem conseguindo redução no uso de carvão e, consequentemente, no seu nível de emissões. A Austrália, parte da Oceania, tem contribuído muito para suprir a demanda de gás dos países asiáticos, tanto pela sua proximidade como pelo fato de conter boas reservas de gás convencional e não convencional e uma indústria de óleo e gás bastante forte e atuante.

Excluindo a China, abordada no artigo anterior, a Ásia tem produção relativamente pequena de gás convencional e nada de não convencional. A tabela a seguir mostra os 12 maiores produtores de gás da Ásia e Oceania, com dados colhidos em 2023.

A tabela mostra que, mesmo incluindo a Austrália, há ainda um déficit de mais de 50 bilhões m3 anuais de gás na região, o que poderá ser reduzido no futuro se continuarem os esforços dos vários países para aumentar a produção de gás convencional e principalmente começar a produção de gás não convencional.

De fato, já existe uma intensa exploração nesse sentido em todos os países, com mapeamentos de potenciais recursos, aplicação de novas tecnologias e com bastante determinação financeira e política. Mesmo excluindo a China, a região da Ásia e Pacífico, em referência nesse artigo, tem mais de 2,5 bilhões de habitantes e um crescente consumo de energia para garantir seu crescimento econômico.  

A Ásia é a única região do mundo que não conseguiu reduzir o consumo de carvão na geração de energia. Ao contrário de outras regiões, houve um aumento exponencial do uso de carvão com enormes consequências para o meio ambiente.  A Ásia e Pacífico consomem em torno de 80% do carvão do mundo, daí a grande importância de acelerar o consumo de gás, mesmo que importado, e de energia renovável, que vem sendo feita ainda de forma bastante tímida, com exceção da China e do Japão. 

Fonte: https://www.visualcapitalist.com/rise-in-global-coal-consumption-by-region-1965-2023/

A seguir, um resumo de cada país com seus potenciais exploratórios e os avanços nessa atividade de mapeamento e início da exploração.

AUSTRÁLIA

 O gás não convencional da Austrália ainda está na fase de exploração e poucos poços foram testados com fracking. No entanto, é considerada uma grande potência de shale e tight gas e principalmente o CSG, que é o gás produzido do carvão, já bastante explorado e em produção há mais de duas décadas, fazendo parte do gás não convencional da Austrália, na área de Queensland.  A Austrália exporta um alto percentual do gás que produz para toda Ásia, visto que seu consumo ainda é pequeno pelo tamanho de sua população. Ha indicações de que os recursos prospectivos de gás não convencional são da ordem de 18 trilhões m3, seis vezes maior que as reservas de gás convencional, da ordem três trilhões de m3.

Todos esses recursos ainda estão em estágio muito imaturo, mas muito promissor para futuras explorações e produções para abastecimento da Ásia.  O mapa mostra as bacias onde esses recursos poderiam ser explorados e o gráfico mostra a curva de produção e de consumo de gás da Austrália e o resíduo que sempre foi exportado para os países asiáticos.

Fonte: GA (Geoscience Austrália 2018b) Accurate at August 2017

 

JAPÃO

O consumo de 130 bilhões m3/ano de gás natural do Japão é o quinto maior do mundo. Depois do acidente da usina nuclear de Fukushima, em 11 março de 2011, a situação ficou ainda mais crítica devido à redução drástica da produção de energia nuclear. A figura evidencia bem essa situação e a mudança brusca para um maior consumo de gás depois do acidente. Como a produção de gás é basicamente inexistente, todo o gás consumido é importado, incluindo o shale gas dos Estados Unidos. Dada essa situação, a população e o governo são francamente favoráveis a exploração e produção do shale gas via fracking. O Japão é o principal importador de gás do planeta e consome um terço do gás liquefeito disponibilizado no mundo.  A indústria japonesa de energia, tanto no país quanto no exterior, busca por projetos de gás não convencional via fracking com forte apoio financeiro.

Desde o acidente nuclear tem havido uma redução crescente do uso de energia nuclear e uma busca por energias mais limpas, simultaneamente à redução do consumo de energia como um todo. Ou seja, mais conservação de energia. A estabilidade ou até o decréscimo da população tem contribuído para essa redução do consumo de energia associado a crescente conscientização energética da população. Esperamos que essa tendencia se torne mundial.

A figura mostra a mudança e a contribuição de cada segmento na geração de energia e o aumento expressivo da Energia Solar, já atingindo em 2022, 10% da geração de energia.

INDIA

Outro país de destaque da Ásia-Pacífico é a Índia, por ser o país mais populoso do mundo, com mais de 1,45 bilhões de habitante, e um dos grandes consumidores de energia. A Índia consome atualmente mais de 55 bilhões de m3/ano de gás, ocupa a 14ª posição no ranking mundial de consumo e tem pequena produção.

A partir de 2013, motivado pela queda brusca na produção de gás convencional, o governo da Índia incentivou a busca intensa por bacias sedimentares que pudesse agregar mais gás convencional e não convencional ao acervo já existente. As bacias de Cambay, KG, Cauvery e outras tiveram uma intensa exploração para shale gas e tigh oil. Em 2018, o governo da Índia estendeu as licenças para empresas estrangeira explorar e produzir gás e óleo de reservatórios não convencionais e aumentou número de áreas leiloadas para esse fim. O gráfico mostra a evolução da produção e consumo na Índia.

DEMAIS PAISES DA ÁSIA-PACÍFICO 

Os demais países da Ásia-Pacífico listados na tabela no início deste artigo têm também consumo elevado de gás natural, pouca produção e reservas.  Ha um enorme esforço coletivo pra explorar e produzir todos os possíveis recursos de gás da região, seja convencional ou não convencional.

Alguns países estão mais avançados como Bangladesh, Indonésia e Malásia. Todos perseguem o objetivo comum de garantir fornecimento de gás para geração de energia e, aos poucos, substituir o carvão e a energia nuclear. A Ásia, como mostra tabela está numa posição muito desconfortável na emissão dióxido de carbono com produção igual ao do resto do mundo.

Somente a utilização de gás para geração de energia e o aumento exponencial da geração de energia de fontes renováveis poderão reverter o quadro atual de emissão CO2 nessa região. Daí todos os países da região tem feito grande esforço no sentido procurar novas reservas de shale gas e aumento exponencial de uso de fontes renováveis como tem feito até agora o Japão e China.

A tabela a seguir mostra o consumo de gás dos trinta maiores consumidores mundiais e entre eles estão todos os países mais populosos da Ásia. O maior consumidor do mundo, os Estados Unidos, têm mais de 80% de seu gás vindo do gás não convencional, o que demonstra a importância desse segmento para aumentar e manter o consumo mundial atual e justifica todo esforço que vem sendo feito pelos países da Ásia e do mundo na busca dessa alternativa de fontes de energia.

 

Kazumi Miura, engenheiro agrônomo pela USP-Esalq e geólogo pela Petrobras/Cenap, atuou na Petrobras Internacional / Braspetro no Iraque, na PanAmerican Energy da Argentina e hoje é diretor do Oil Group S.

 

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