Os processos de conhecimento em sua maioria são contínuos, cumulativos. Ao longo do tempo sedimentam informações, saber e coparticipação.
Países muito desenvolvidos investiram pesadamente em capacitação e conhecimento. Geram sistematicamente invenções, inovações, descobertas e, por conseguinte, negócios e empregos.
Nisso se enquadra a exploração de hidrocarbonetos. Por ser probabilística e estocástica, demanda investimentos de grandes magnitudes no saber, sem contrapartida assegurada de resultados.
Há atividades determinísticas e probabilísticas. Nas determinísticas, como na indústria de transformação, insumo e produto são proporcionais. No campo probabilístico, no entanto, recursos e resultados são pouco dependentes: a existência de um não presume a decorrência do outro.
No caso dos hidrocarbonetos, os processos de desenvolvimento e operação da produção são determinísticos, assemelhados aos da indústria de transformação. O processo exploratório, porém, é probabilístico. Sendo assim, acertos e não acertos retornam informação para a base de conhecimento geradora de modelos e ensaios.
A exploração, a primeira na sequência natural, é estratégica e sua acumulação em conhecimento é quase que compulsória. Boas decisões e maiores probabilidades de sucesso dependem de uma atividade madura, científica, contínua, permitindo crescente previsibilidade por modelos cada vez mais coerentes, com retenção de talentos e ambiente incentivador à inovação (descoberta).
Assim, quanto mais contínuos são os ciclos exploratórios de um país, mais significativa é a probabilidade de sucesso. Como a exploração é um processo de conhecimento, de tratamento de informação, qualquer interrupção pode causar perda dos elos de geração de ideias e desconexão entre gerações de cientistas. Explorar não significa produzir. Pode-se explorar todas as potencialidades de recursos naturais e nada se produzir.
Produzir pode ser controlado, taxado, “royaltizado”. Já explorar deve ser desonerado, incentivado. Trata-se de conhecer as bacias sedimentares de forma crescente, fazendo e refazendo trabalhos em função de tecnologias de geofísica e geologia, processamento, interpretação. Isso permite horizontes mais longos de planejamento de investimentos, decisões estratégicas sobre recursos cada vez mais conhecidos, retenção de talentos locais, atração de investimentos nacionais e externos.
Quanto maior a atividade exploratória, maior é a indução ao conteúdo local, pois encoraja investidores, públicos ou privados, a enxergar as vantagens de serem locais por tempo mais longo. Quando se fala em conteúdo local, seria bem melhor se ele fosse reconhecido como capital intelectual local. Fala-se em continuidade, consistência, segurança de investimentos. Não são apenas fábricas e máquinas, são muito mais pessoas e talentos.
O Brasil hoje convive com dois modelos de E&P de óleo e gás – concessão e partilha da produção –, cujas regras estão ainda sendo estabelecidas de maneira definitiva. Entretanto, isso não deveria inibir ou postergar a exploração, ou seja, o conhecimento e a delimitação dos recursos naturais existentes.
Independentemente de ideologias, partidos ou correntes, um país deve conhecer o que tem da maneira mais completa possível. Discutir sobre hipóteses e sonhos não é tão eficaz quanto tratar de fatos e dados.
Assim, seria interessante para o Brasil não interromper o ciclo exploratório – ou melhor, o conhecer de seus recursos –, aplicando o conceito da frequência constante e conteúdo variável (de forma simples, a teoria do ônibus). Seria como se tivéssemos ciclos constantes para concessões e partilha de produção, com repetibilidade e previsibilidade de eventos, mas apenas disponibilizando em cada evento blocos/ativos que o país estrategicamente, em cada momento, deseje compartilhar.