Opinião

O ciclo exploratório e o conhecimento

A coluna bimestral de Armando Cavanha Filho

Por Redação

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Os processos de conhecimento em sua maioria são contínuos, cumulativos. Ao longo do tempo sedimentam informações, saber e coparticipação.

Países muito desenvolvidos investiram pesadamente em capacitação e conhecimento. Geram sistematicamente invenções, inovações, descobertas e, por conseguinte, negócios e empregos.

Nisso se enquadra a exploração de hidrocarbonetos. Por ser probabilística e estocástica, demanda investimentos de grandes magnitudes no saber, sem contrapartida assegurada de resultados.
Há atividades determinísticas e probabilísticas. Nas determinísticas, como na indústria de transformação, insumo e produto são proporcionais. No campo probabilístico, no entanto, recursos e resultados são pouco dependentes: a existência de um não presume a decorrência do outro. 
No caso dos hidrocarbonetos, os processos de desenvolvimento e operação da produção são determinísticos, assemelhados aos da indústria de transformação. O processo exploratório, porém, é probabilístico. Sendo assim, acertos e não acertos retornam informação para a base de conhecimento geradora de modelos e ensaios.
A exploração, a primeira na sequência natural, é estratégica e sua acumulação em conhecimento é quase que compulsória. Boas decisões e maiores probabilidades de sucesso dependem de uma atividade madura, científica, contínua, permitindo crescente previsibilidade por modelos cada vez mais coerentes, com retenção de talentos e ambiente incentivador à inovação (descoberta).
Assim, quanto mais contínuos são os ciclos exploratórios de um país, mais significativa é a probabilidade de sucesso. Como a exploração é um processo de conhecimento, de tratamento de informação, qualquer interrupção pode causar perda dos elos de geração de ideias e desconexão entre gerações de cientistas. Explorar não significa produzir. Pode-se explorar todas as potencialidades de recursos naturais e nada se produzir.
Produzir pode ser controlado, taxado, “royaltizado”. Já explorar deve ser desonerado, incentivado. Trata-se de conhecer as bacias sedimentares de forma crescente, fazendo e refazendo trabalhos em função de tecnologias de geofísica e geologia, processamento, interpretação. Isso permite horizontes mais longos de planejamento de investimentos, decisões estratégicas sobre recursos cada vez mais conhecidos, retenção de talentos locais, atração de investimentos nacionais e externos. 
Quanto maior a atividade exploratória, maior é a indução ao conteúdo local, pois encoraja investidores, públicos ou privados, a enxergar as vantagens de serem locais por tempo mais longo. Quando se fala em conteúdo local, seria bem melhor se ele fosse reconhecido como capital intelectual local. Fala-se em continuidade, consistência, segurança de investimentos. Não são apenas fábricas e máquinas, são muito mais pessoas e talentos.
O Brasil hoje convive com dois modelos de E&P de óleo e gás – concessão e partilha da produção –, cujas regras estão ainda sendo estabelecidas de maneira definitiva. Entretanto, isso não deveria inibir ou postergar a exploração, ou seja, o conhecimento e a delimitação dos recursos naturais existentes. 
Independentemente de ideologias, partidos ou correntes, um país deve conhecer o que tem da maneira mais completa possível. Discutir sobre hipóteses e sonhos não é tão eficaz quanto tratar de fatos e dados.
Assim, seria interessante para o Brasil não interromper o ciclo exploratório – ou melhor, o conhecer de seus recursos –, aplicando o conceito da frequência constante e conteúdo variável (de forma simples, a teoria do ônibus). Seria como se tivéssemos ciclos constantes para concessões e partilha de produção, com repetibilidade e previsibilidade de eventos, mas apenas disponibilizando em cada evento blocos/ativos que o país estrategicamente, em cada momento, deseje compartilhar.

Outros Artigos