Opinião

O papel da TI nas revisões tarifárias

Por Redação

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O processo de privatizações no setor elétrico fez com que as distribuidoras de energia elétrica passassem a enfrentar um importante desafio: cumprir as rigorosas regras impostas pela Aneel para regulamentar o consumo no país. Entre uma série de mudanças ocorridas está a revisão tarifária, prevista para ser realizada a cada quatro anos e que obrigou muitas concessionárias a reduzirem suas tarifas.

Como se não bastasse a perda de receita, as companhias se tornaram responsáveis por toda a infra-estrutura existente em suas áreas de concessão. A intenção da agência reguladora era verificar se os investimentos em ativos eram compatíveis com o faturamento obtido em determinado período.

Muitas empresas não tinham como comprovar seus investimentos e acabaram penalizadas pela nova norma. Neste contexto, as organizações do setor se viram obrigadas a equilibrar dois pratos girando, como malabaristas: de um lado, precisavam garantir o fornecimento de energia com qualidade a um custo menor. De outro, manter os investimentos em infra-estrutura, de forma a suportar a crescente demanda.

A busca pela eficiência operacional passou a ser resumida pelo clichê de se "fazer mais com menos". O mercado de ações foi a saída encontrada pelas concessionárias para atrair investimentos, sobretudo os estrangeiros. A remuneração do capital, que "premia" os montantes empregados em ativos, é a isca utilizada para manter a atratividade. Em contrapartida, as concessionárias devem provar aos investidores sua capacidade de planejar e executar com excelência todos os processos que garantam um Ebitida positivo, provocando mudanças consistentes ao longo do tempo.

É aí que entra a utilização inteligente da tecnologia da informação (TI) como uma alavanca estrutural sustentável. Inovar e repensar como realizar as atividades e processos necessários à prestação do serviço público são pontos que deverão constar nesta pauta. As soluções de gestão comercial e técnica existentes no mercado podem ser grandes aliadas no gerenciamento de ativos, obras e manutenção, auxiliando as empresas a monitorar as demandas e assim gerenciar melhor a infra-estrutura.

Já existem, por exemplo, sistemas que disponibilizam o mapa da rede elétrica com alto nível de detalhamento, o que permite visualizar os pontos mais críticos e as principais necessidades de melhorias. Em 2008, as distribuidoras de energia devem reservar uma parcela de seus orçamentos para a modernização de sistemas de gestão técnica.

É o caso do Grupo Eletrobrás, por exemplo, que anunciou investimentos na ordem de R$ 330 milhões em tecnologia de ponta, cifra que inclui projetos desta natureza. O mesmo deve ocorrer em concessionárias privadas. Na prática, as soluções de gestão técnica auxiliam no gerenciamento e operação de toda a rede de distribuição, realizando a gestão de manutenção e de processos de obras, georreferenciamento, cadastro de consumidores, simulações e cálculos elétricos.

O principal benefício das soluções é a rapidez e a agilidade no atendimento ao consumidor, além da redução de custos e da centralização das informações. Trata-se de uma importante ferramenta no auxílio à gestão dos ativos de distribuição de uma concessionária. Além de controlar toda a estrutura física de uma rede, os sistemas de gestão técnica também contribuem significativamente para o combate às perdas comerciais, mal que, de acordo a Aneel, representa atualmente cerca de 4,5% do mercado anual de energia elétrica.

No Brasil, somente entre 2004 e 2005 as distribuidoras perderam cerca de R$ 5 bilhões por conta dos gatos, montante que contribui seriamente para a queda de suas receitas. No ranking mundial de perdas, resultado de um estudo recente do Laboratório de Planejamento de Sistemas de Energia Elétrica (Labplan) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Brasil ocupa o quarto lugar, atrás apenas de Paquistão, Índia e Tailândia, respectivamente. Provando o conservadorismo do setor, ainda hoje muitas empresas realizam o controle de suas redes por meio de planilhas eletrônicas, sem nenhum software de apoio. Acontece que as linhas aumentam e a estrutura física muda.

Logo, gerenciar tudo isso por meio de papel, sem nenhum outro controle, torna-se algo inviável. Isto pode tornar o atendimento ao cliente deficitário e expor a concessionária a multas por parte do órgão regulador. Segundo levantamento feito pela Elucid, enquanto as empresas estatais buscam a aquisição de sistemas de gestão, já que muitas delas possuem soluções desenvolvidas dentro de casa, as companhias privadas estão em processo de atualização constante - o que justifica as expectativas de investimentos por parte dos fornecedores.

Tudo isso mostra que a TI é uma ferramenta preciosa para auxiliar as empresas a comprovarem o montante investido em infra-estrutura por meio de amostragem, colocando um ponto final no pesadelo das concessionárias penalizadas no primeiro ciclo da revisão tarifária.

Michael Wimert é presidente da Elucid

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