Opinião

O impacto da cultura e estrutura organizacional no sucesso da transformação digital

A transformação digital possui três pilares fundamentais: Tecnologia, Processos e Cultura, que devem ser trabalhados simultaneamente nas organizações. O pilar da cultura requer atenção dos gestores tanto para a cultura do país como para a cultura organizacional.

Por Victor Venâncio

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Uma pesquisa da McKinsey indica que cerca de 70% das jornadas de transformação digital falham.

Primeiramente, não podemos confundir os termos indústria 4.0 e quarta revolução industrial, assim como digitalização com transformação digital.

A indústria 4.0 se materializa pela adoção massiva de tecnologias emergentes aplicadas aos ativos industriais, visando melhor eficiência operacional, uma manutenção mais eficiente, melhor eficiência energética e a promoção da conectividade de dados na planta industrial. Algumas dessas tecnologias são o IoT ou IIoT, realidade virtual, realidade aumentada, cloud computing, digital twin e impressão 3D, entre outras.

Já a quarta revolução industrial é representada pelos diversos movimentos transformacionais que estamos percebendo em nosso cotidiano profissional e pessoal, com destaque para a transição energética, as tecnologias emergentes da indústria 4.0, a eletromobilidade urbana, cidades inteligentes e saúde digital, entre outras transformações que estão impactam nosso estilo de vida e refletem nas organizações.

A transformação digital possui três pilares fundamentais: Tecnologia, Processos e Cultura, que devem ser trabalhados simultaneamente nas organizações. O pilar da cultura requer atenção dos gestores tanto para a cultura do país como para a cultura organizacional.

A cultura dos países possui seis dimensões. A distância de poder entre os cidadãos, individualismo ou coletivismo, masculinidade, aversão à incerteza, orientação a longo prazo e indulgência, que regem o comportamento de 80% da população de um país, de acordo com o psicólogo holandês Geert Hofstede.

Como muitas empresas são de origem estrangeira, considerar esta análise das dimensões culturais do país na qual a estratégia de transformação digital foi desenvolvida e compará-la com as dimensões culturais do país onde será executada ajudará a reduzir a resistência às iniciativas do roadmap de transformação digital.

A cultura organizacional é o conjunto de hábitos, comportamentos, crenças e valores que se expressam perante os funcionários, clientes e sociedade através das políticas internas e externas de uma empresa.

A cultura organizacional precisa estar adaptada para suportar algumas competências essenciais em uma jornada de transformação digital, entre elas: estar atento aos estudos de cenários e tendências de futuro; suportar da estratégia à execução; promover a experiência do cliente baseada em compartilhamento de valor; atenção aos produtos e serviços digitais; ao uso estratégico dos dados (data driven organization); aos canais com o mercado (comercial, distribuição, plataformas digitais e comunicação); contar com um ecossistema de inovação aberta; adotar metodologias ágeis; ter a liderança com mentalidade digital e foco na geração receita digital.

Outro ponto a ser considerado é a estrutura organizacional.

A estrutura organizacional é normalmente muito hierárquica e expõe a elevada distância de poder, trazendo muita burocracia e gestão baseada em controle e poder, típico da era da indústria 3.0, mas que permanece em muitas empresas ainda. Esta estrutura organizacional mecanicista pode retardar o êxito da jornada de transformação digital.

As empresas nativas digitais, ou as que já se adaptaram, possuem estrutura organizacional orgânica (O2), com maior e melhor fluxo de informações entre os colaboradores, flexibilidade, nível de confiança mais elevado entre as partes e, com isso, possibilitam que metodologias ágeis serem mais efetivas. Este tipo de estrutura organizacional, também conhecida como holacracia, permite acelerar os resultados da transformação digital.

A transformação digital requer um líder com visão holística, uma equipe multidisciplinar e uma liderança corporativa que suporte mudanças estruturais pela organização.

E como está a sua empresa neste contexto? A cultura está sendo adaptada simultaneamente à otimização dos processos e adoção massiva da tecnologia?

Sua empresa não pode fazer parte da triste estatística indicada pela pesquisa da McKinsey.

Victor Venâncio é Head de Transformação Digital LatAm da IHM Stefanini, membro emérito do IBP, diretor da ISA e professor convidado de transformação digital e estratégia do MIT, UC Berkeley e Cambridge by Emeritus

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