Opinião
Reviravolta tecnológica
Por André Araujo, presidente da Shell Brasil
Imaginem uma gigantesca embarcação do tamanho de 16 gramados do Maracanã e praticamente da altura do Corcovado, cerca de 600 m, instalada a cerca de 200 km da costa, em pleno oceano. Essa verdadeira ilha de aço da mais alta tecnologia que já pertenceu ao mundo da ficção científica está sendo construída na Coreia do Sul e, em breve, estará em operação na Austrália. A Prelude, como foi batizada, é um pesado investimento da Shell, e talvez seja a melhor marca de que o tempo do petróleo e gás abundantes e fáceis de serem recuperados definitivamente acabou.
A tecnologia utilizada nessa plataforma é uma inovação que permitirá desenvolver novos campos offshore de gás que, de outra forma, seriam muito custosos, prevê o CEO da companhia, Peter Voser. Afinal, a unidade flutuante de processamento e liquefação de gás (FLNG) eliminará a necessidade de plataformas de compressão a gás, extensos dutos submarinos até o continente, trabalhos de dragagem perto da costa, bem como a construção de cais, pátios de estocagem e toda a infraestrutura de armazenamento em terra com os quais a indústria tem de lidar hoje.
Superar essas dificuldades é um dilema em qualquer parte do planeta. Em nosso litoral, a riqueza do pré-sal brasileiro vai representar desafios e exigir investimentos do tamanho ou mesmo maiores que os australianos. Assim como no Japão, atingido por terremoto e onda gigante que avariaram seu sistema elétrico, ancorado em usinas nucleares.
A Alemanha também anunciou o fechamento de todas as suas usinas nucleares até 2022, decisão considerada histórica no país onde foi realizada a primeira fissão do átomo, em 1939. Essa virada energética alemã aponta para uma verdadeira reviravolta, uma corrida rumo a novas possibilidades. Até porque, mantido o ritmo atual, o consumo global de energia poderá triplicar na primeira metade desse século. E a preocupação com o meio ambiente deverá ser uma espécie de bússola na busca pelas novas fontes.
Ainda hoje, muitos países dependem amplamente do carvão, que responde por cerca de 40% da geração global de energia, mas é responsável por 80% das emissões de CO2 no setor de energia nos EUA e por cerca de 70% na Europa e na Índia. Entre as alternativas está o aumento do uso de energias renováveis, como eólica e solar. Entretanto, essas fontes só poderão contribuir com até cerca de 30% do fornecimento total do mundo em 2050, de acordo com relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Nesse sentido, a Shell vem se destacando no desenvolvimento de biocombustíveis, em particular o etanol da cana-de-açúcar, que poderá contribuir significativamente para a redução de CO2 no setor de transportes.
Outra aposta é o gás natural, que provavelmente será a solução mais rápida, menos poluente e menos onerosa. A previsão da Agência Internacional de Energia (AIE) é de que o uso do gás deverá aumentar mais de 50% até 2035 em relação a 2010 e superar o carvão como segundo combustível mais consumido no mundo. E a partir do próximo ano, a Shell espera que a produção desse combustível supere, pela primeira vez na história da empresa, a de petróleo.
Para tornar essa projeção realidade, a companhia investe em soluções que poderão fazer diferença, inclusive no Brasil, onde ocorrem novas descobertas em áreas de difícil acesso. Afinal, mais de uma década de pesquisas e de desenvolvimento garantiram à Shell um extensivo know-how, um diferencial importante, sobretudo no que diz respeito à produção offshore, liquefação de gás, transporte de GNL e entrega de grandes projetos que integram a cadeia de valor do gás – do poço ao queimador.
Um dos resultados desse trabalho é a Prelude, verdadeiro avanço na indústria de GNL, o mais limpo dos combustíveis fósseis. A plataforma possibilitará que embarcações descarreguem o gás liquefeito, refrigerado a -162°C e com volume reduzido em 600 vezes, diretamente em mercados de todo o mundo.
Vamos primeiro empregar nossa tecnologia nas águas australianas, mas nossa ambição é desenvolver globalmente mais projetos de FLNG, como os investimentos de Sunrise, com a Woodside Petroleum, e o bloco Masela, na costa da Indonésia.
Essa pode ser uma importante contribuição para diminuirmos as incertezas e aumentarmos os ganhos do futuro.
André Araujo é presidente da Shell Brasil