Opinião
Simulação ou realidade?
Por David Douek
Em São Paulo, a simples definição de volumetria e orientação de um edifício proporcionará, em um prédio de escritórios, uma redução de cerca de 15% em seu consumo de energia. Aplicada à expectativa de uma conta anual de R$ 1 milhão – não rara em prédios comerciais –, essa condição representa cerca de R$ 150 mil anuais a mais no bolso do condomínio. Ainda que esses números variem em função de fatores como clima da região e programa de projeto, a obtenção desses resultados é possível através da utilização da simulação computacional de desempenho.
Elevada à categoria de obrigatória para os empreendimentos que estejam buscando certificações de impacto ambiental, como LEED e Aqua, a simulação computacional de desempenho energético pode ser ainda utilizada para o processo de etiquetagem predial, o Procel Edifica. A etiqueta brasileira, apesar de também permitir a verificação do nível de eficiência energética do edifício por um método prescritivo, encontra na simulação computacional uma abordagem mais flexível. Incorporada à fase inicial do projeto, a simulação amplia as possibilidades de intervenção e redirecionamento da concepção da edificação, permitindo a verificação e a comparação das estratégias adotadas para atender às metas de eficiência estipuladas pelas equipes de trabalho.
A preocupação global com a sustentabilidade e a eficiência energética impulsionou, nos últimos três anos, a importância da simulação computacional, tanto no cenário acadêmico como no profissional. Indubitavelmente, a difusão da ferramenta foi amplificada pelas certificações ambientais aplicadas aos novos edifícios com características ambientalmente responsáveis. As polêmicas sobre a adequação de certificações, como o LEED, em relação à realidade de nosso país, tendem a ofuscar uma das mais significativas das suas contribuições: a difusão da simulação computacional como forma de verificar o nível de desempenho energético almejado.
Como todas as ferramentas, a simulação computacional de nada serve se não for utilizada por pessoal qualificado, abrindo mais uma porta no mercado de trabalho para a entrada de profissionais qualificados. A questão é que a simulação computacional de desempenho não traz intrínsecas as soluções de projeto necessárias às metas de eficiência. Assim sendo, os resultados obtidos dependem, e muito, da correta aplicação de conhecimento oriundo de áreas como conforto ambiental, sistemas de ar condicionado e iluminação.
Conceitos relativos às propriedades de transmissão de calor e, consequentemente, de inércia térmica, aproveitamento de luz e ventilação natural, orientação do edifício, proporcionalidade entre área envidraçada e área de alvenaria da fachada, eficiência de sistemas de ar condicionado e outros deverão ser especificados de forma adequada, e os resultados da simulação, corretamente interpretados. Infindáveis discussões sobre o desempenho projetado de um edifício são facilmente gerenciáveis através da tabulação de dados resultantes da simulação computacional.
São softwares como o inglês DesignBuilder que, ao contrário do EnergyPlus, desenvolvido pelo Departamento de Energia dos EUA, permitem a visualização das geometrias propostas. Com isso, são ainda mais úteis na elaboração de comparativos de projeto e de sua consequente apresentação a clientes que, em muitas situações, sentem-se inseguros para a tomada de decisões em função da ausência de dados tangíveis. O DesignBuilder ainda disponibiliza a ferramenta CFD (Computer Fluid Dynamics), que permite, através da análise do fluxo das partículas de ar, identificar problemas com diferenças de temperaturas internas e falhas no layout de insuflamento do sistema de ar condicionado.
A evolução dos softwares de simulação computacional está amplamente relacionada a torná-los mais amigáveis. Em geral, as simulações dependem de dados relativos a arquitetura, sistemas de ar condicionado, iluminação artificial e outros elementos que nem sempre são dominados por um único profissional. A diversidade de informações necessárias requer que o projeto seja realizado em equipe, favorecendo a contribuição multidisciplinar desde o início dos trabalhos.
Com relação ao mercado, a simulação computacional é favorável, sobretudo em função da obrigatoriedade planejada para o Procel Edifica, o qual deve consolidar um mercado para a simulação computacional e para soluções de eficiência energética em edifícios.
David Douek é fundador e diretor da Otec – Otimização Energética para a Construção