Opinião

BP desacelera nos EUA e consolida atuação em renováveis

Para atravessar a crise, britânica preserva negócios na Europa e mira oportunidades na Ásia

Por Rodrigo Ferreira

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A gigantesca crise de demanda e de preços pegou de surpresa todos os atores envolvidos no setor, afetando sobremaneira as margens de rentabilidade das empresas de petróleo.

Algumas delas, concentradas nos segmentos de exploração e produção, terão dificuldades extremas para sobreviver, tendo em vista a baixa flexibilidade de redirecionar suas atividades para segmentos que apresentam maior resiliência aos choques do preço do petróleo. Todavia, para as majors, o cenário é bastante diferente, uma vez que atuam de maneira verticalizada, estando presentes não apenas no E&P, como no refino, na petroquímica, na distribuição e em energias renováveis.

Isso não significa, porém, que elas não serão obrigadas a reavaliar seus investimentos e reorganizar suas estratégias, adotando ações emergenciais.

A britânica BP, por exemplo, redefiniu algumas diretrizes operacionais e financeiras. Logo no início de abril, a petrolífera divulgou um conjunto de medidas de resiliência para lidar com a crise do petróleo.

Entre aquelas de caráter financeiro e operacional, cabe citar:

  1. Manutenção do programa de desinvestimentos de US$ 15 bilhões, mas com dilatação do prazo para alcançar a meta até meados de 2020;
    Redução do capex programado para 2020 em 25%, de US$ 16 bilhões para US$ 12 bilhões, sendo US$ 1 bilhão na BPX Energy (filial da BP responsável pela exploração e produção onshore nos EUA), além de US$ 1 bilhão nas atividades de comercialização, refino e petroquímica, e o restante, no adiamento de projetos em exploração e produção (E&P);
  2. Diminuição de US$ 2,5 bilhões de opex até o final de 2021 (em relação a 2019) com a digitalização e maior integração em todo o grupo como principais motores desta fase de otimização de custos.

Desde seu anúncio, a BP divulgou ao mercado o detalhamento de algumas dessas medidas permitindo uma compreensão mais aprofundada da estratégia adotada pela empresa britânica neste momento.

No segmento de E&P, a britânica confirmou a venda da sua participação nos ativos do Alaska para a Hilcorp por US$ 5,6 bilhões e avançou nas negociações dos desinvestimentos nos campos San Juan, Arkoma e Anadarko nos EUA. Além disso, a empresa anunciou a redução da sua produção de tight oil e shale gas nos Estados Unidos pela BPX Energy, em função do colapso dos preços WTI e da queda gigantesca de demanda no país – cerca de 6 milhões e 7 milhões de bopd entre março e abril.

Segundo a Reuters, a produção da BPX Energy projetava uma diminuição da sua produção de 70 mil bopd, saindo de 499 mil barris por dia em 2019 para algo próximo de 430 mil bopd em 2020.

A estratégia de redução da produção já teve seus primeiros efeitos nos resultados da BP. No primeiro trimestre de 2020, a produção caiu 2,9% (77 mil bopd), saindo de 2,65 milhões de bopd para 2,58 milhões de bopd. Provavelmente, no próximo trimestre, deve-se observar uma nova retração da extração de petróleo da empresa britânica.

Nos demais segmentos, a BP anunciou que manteria elevado fator de utilização (FUT) das refinarias – entre 95% e 96% – no primeiro trimestre de 2020, fazendo, posteriormente, uma redução conforme a evolução do consumo. De fato, nos três primeiros meses do ano, a BP processou 1,83 milhão de b/d, 96,1% da sua capacidade de 1,91 milhão de b/d.

No entanto, em razão da acelerada redução do consumo de derivados nos EUA, a petrolífera britânica, de acordo com a Reuters, divulgou uma retração de 15% das atividades de refino naquele país. Com as três refinarias, localizadas em Indiana, Washington e Ohio, que, atualmente, têm capacidade de produção de 771 mil b/d (cerca de 40% da capacidade total da empresa), o FUT da BP deve cair nos trimestres seguintes.

Na contramão do segmento de refino, a BP tem mantido os investimentos em renováveis. Nos últimos dois meses, a petrolífera, em uma joint-venture junto com a empresa chinesa DiDi, iniciou a operação de um centro de distribuição e carregamento de energia elétrica para veículos elétricos na China. Além disso, a BP confirmou um acordo para investir no projeto de captura e armazenamento de carbono Moomba de Santos, no Sul da Austrália, para capturar e armazenar permanentemente em formações geológicas 1,7 milhão de t de dióxido de carbono por ano. O próprio CEO da empresa, Bernard Looney, fez que questão de enfatizar que a empresa não reduziu seu pacote de investimentos de transição energética este ano. "Deixamos inalterados os nossos US$ 500 milhões de investimento com baixo teor de carbono em 2020"

Esses fatos mostram que a BP optou, até o momento, por realizar o ajuste na oferta de petróleo e de derivados no mercado norte-americano, principalmente pela rápida queda da demanda nos EUA e pelos custos mais elevados da produção do tight oil e do shale gas. Contudo, a empresa britânica ainda não sinalizou ajuste mais severo na produção e no refino europeu e manteve seus investimentos no segmento de renováveis na Ásia e na Oceania.

Um ajuste seletivo que procura preservar seu mercado local, aproveitar as oportunidades  principalmente na China e reduzir suas operações nos Estados Unidos, um dos mercados que mais sentem a atual crise global do petróleo.

Rodrigo Leão é mestre em desenvolvimento econômico (IE/UNICAMP). Coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA.

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