Opinião

EUA e Europa: a crise é na produção?

Por Armando Cavanha Filho

Por Redação

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As notícias sobre a crise nos EUA dominaram os principais veículos de comunicação no fim de 2008. Logo a seguir, calvário semelhante foi iniciado na Europa. Convive-se com um clima de incertezas no sistema financeiro global. Mas não são a falta de pagamento de financiamentos e os orçamentos governamentais os únicos vilões desta história. O que de fato preocupa é o momento do sistema produtivo das regiões. Este, sim, é motivo de indagação.

Os EUA e a Europa possuem um mercado interno de consumo mais expressivo que as demais áreas do planeta, há mais gente com poder aquisitivo relativamente ao total de seus habitantes. A globalização, que seria uma maneira de expandir fronteiras em vendas, transformou-se no pesadelo de importar com facilidade de novos polos industriais mais baratos ao redor do mundo.

Nos EUA, a energia, aquela que depende do petróleo, amarga números importantes de déficit diário. Dos 22 milhões de barris equivalentes consumidos a cada dia, somente 8 milhões são produzidos no país, sendo o restante importado. Na Europa, a grande maioria dos países é importador absoluto de petróleo. O gás, em ambos os lugares, é fortemente utilizado no aquecimento e em outras tantas aplicações relacionadas à manutenção da qualidade de vida. Além da questão de divisas, ocorre substancial dependência externa de energia básica.

Uma boa quantidade de plantas fabris foi deslocada para países de custos mais baixos. As fábricas remanescentes passaram a focalizar mais produtos diferenciados ou com tecnologias especialistas. As plantas estratégicas e militares se mantêm locais, mas nem sempre com todos os componentes feitos em casa. Também a matéria-prima cada vez mais tem origem em mercados mais baratos e abundantes, como Ásia e Leste Europeu.

A inovação, a invenção e as patentes já possuem competição externa considerável, como no caso de eletrônicos. Apesar disso, ainda há uma boa vantagem dos EUA, Inglaterra e França na geração de ideias científicas e tecnologias. Difícil saber qual a tendência em relação a essa diferença.

Há dúvidas sobre se a mão de obra da nova geração possui a mesma determinação e formação das anteriores. Os salários cresceram e poderiam estar acima do que agregariam em valor de produção, em um mercado pagador cada vez menos produtor.

Não somente a geração de produtos, mas o provimento de serviços, como call centers e centros de desenvolvimento de software, têm sido transferidos para locais de menor custo – Índia e outros.

Os americanos nativos conhecem pouco o mundo exterior, apesar de serem bastante pragmáticos na visão comercial. Já os europeus, por sua história e civilização, conhecem melhor o mundo externo, inclusive pelas fases de imigração nos séculos passados. O fato é que muitos empresários dessas regiões adquirem ativos produtivos no exterior, inclusive no Brasil, visando recuperar a produção perdida localmente e manter suas matrizes em operação. Como donos, podem definir o que se produz com cada recurso.

A alta atividade nos serviços domésticos nos EUA e na Europa não gera riqueza nova proporcional, apenas distribui recursos existentes e de crescimento vegetativo, em um círculo limitado de trocas internas. Por mais que intelectuais digam que o mundo está na era do conhecimento, o que ainda gera trabalho em grande escala é a produção convencional, a indústria de transformação. Dominar a cadeia de fornecimento, do alfinete ao foguete, do pó ao aspirador, é uma estratégia necessária a qualquer país. Permite um crescimento com emprego, produção, vendas e tudo o que disso decorre.

Enfim, o sistemas produtivos americano e europeu estão doentes, mas não estão mortos. São povos que se mobilizaram com rapidez no passado recente, possuem sistemas de comunicação eficientes e têm no sangue o direcionamento de mercado. Reanimar a economia pode não ser uma tarefa impossível. Não se pode negligenciar os conceitos precisos que detêm sobre tecnologias e sua utilização, bem como o modelo mental objetivo de negócios que permeia as regiões.

Provavelmente, virão anos difíceis de ajustes e adaptações. Mas é provável, também, que ressurja uma economia renovada e mais forte, ao mesmo tempo que os grandes produtores externos da vez também comecem a experimentar a realidade de sociedades mais desenvolvidas. O tempo que isto leva não se sabe, mas vai ser um desafio interessante.

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