Opinião
Haverá energia para suprir o crescimento do PIB do Brasil?
Por Osório de Brito, diretor do INEE e superintendente da Cogen Rio
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu em dezembro passado que o crescimento do PIB alcançará 52,9% de 2010 a 2016, enquanto a geração elétrica atingirá, no mesmo período, apenas 35,8%. Se isso se confirmar, significa que o país poderá enfrentar sérios problemas de suprimento elétrico para atender ao crescimento do PIB vislumbrado pelo ministro da Fazenda.
Assim, haverá necessidade de expandir o parque gerador do país para além dos números hoje cadastrados na Aneel e das obras em andamento, apontados no quadro a seguir. E caso se cumpram as margens verificadas no passado, de que, para cada 1% de crescimento da economia, a geração elétrica tem de crescer cerca de 1,2%, o parque gerador, para atender aos 52,9% prognosticados, terá de crescer 63,5%.
A análise do quadro evidencia ainda que, enquanto há uma expectativa de crescimento de 15.881 MW hidrelétricos, observa-se um aumento de 19.522 MW termelétricos até 2016. Comparando essa tendência com os valores da tabela a seguir, não há dúvida de que ocorrerá aumento significativo do custo da energia elétrica, da ordem de 21% sobre os valores atuais.
Esse aumento resultará da concomitância de três fatores:
- O aumento da geração térmica, sobretudo daquela à base de combustíveis fósseis, de custo mais elevado; simultaneamente estará sendo desvirtuada a nossa matriz energética, antes uma das mais limpas do mundo;
- A ainda modesta presença projetada da biomassa da cana;
- A inexistência de novas fontes hidrelétricas próximas dos centros de consumo e a significativa concentração do potencial disponível na Amazônia, o que implica grandes problemas ambientais e a implementação de longas linhas de transmissão em áreas críticas.
Aditivamente, o ONS admite que 50% das termelétricas contratadas para suprir a região Nordeste poderão não ser implementadas, o que aumentará ainda mais a necessidade de expansão. Além disso, não há nenhum indício da implantação de um programa estruturado de eficientização energética que possa repetir o êxito provocado por uma anormalidade no suprimento elétrico brasileiro – a crise de energia de 2001/2002.
Houve redução de cerca de 30% na demanda elétrica, redução que se desfez por total inabilidade das autoridades setoriais, que não atuaram para evitar que se desperdiçasse este esforço da sociedade brasileira. O passado mostrou que a ausência da preparação de um mercado capaz de absorver o gás natural, tanto o nacional como o proveniente da Bolívia, levou o país a tentar estabelecer um frustrado Plano de Termelétricas, o PPT. Entretanto, a eficiência destas usinas não ultrapassa 60%, nas de ciclo combinado, e 35%, nas de ciclo aberto. Enquanto isso, para uma cogeração, a eficiência do uso do gás atinge, no mínimo, 75%, podendo alcançar até 95%.
Assim, diante do aumento da oferta de gás proveniente do pré-sal; sem políticas adequadas para o gás e para a energia como um todo; sem considerar a geração distribuída como uma solução complementar importante; sem um incentivo significativo visando o emprego da biomassa da cana; e sem um programa estruturado de eficientização energética, a implementação de um novo PPT à base de combustíveis fósseis poderá ocorrer. Se isso acontecer, estará longe de representar a eficientização do uso da energia e manterá a tendência de desvirtuamento da matriz energética brasileira, na contramão da tendência mundial.
Será que o país voltará a incorrer nos mesmos caminhos do passado e viver os resultados dos mesmos erros?
Osório de Brito é diretor do INEE e superintendente da Cogen Rio