Opinião

Imagine o mundo com o barril de petróleo a U$ 20...

Por Redação

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Atualmente a indústria mundial de petróleo passa por um grande ponto de inflexão e incertezas. Segundo estimativas recentes de analistas especializados do setor, o preço do barril de petróleo pode chegar a US$ 20 em 2016, devido à existência de excedentes em 2015 e 2016. Já a Agência Internacional de Energia prevê para 2016 um corte de produção de 500 mil barris por dia em países não membros da Opep. Em 2014 a produção da Opep, 33 milhões de barris por dia, representava apenas 38% da produção mundial de petróleo, mas a Árabia Saudita ainda é o produtor com maior poder de mercado, com 11,5 milhões de barris por dia produzidos a custos muito baixos.

Assumindo que o preço do petróleo oscile entre US$ 40 e 50 nos próximos dois anos, novos investimentos em gás natural deverão ser afetados, particularmente projetos de GNL, que poderão ser adiados ou mesmo cancelados. A não ser que os custos de capital caiam drasticamente, o que ainda não é evidente.

Preços de petróleo de US$ 40-50/barril equivalem a preços de gás de US$ 6,9-8,6/MMBtu. Aos custos  de capital  atuais de até US$ 1.400 por tonelada, projetos de GNL “greenfield” requerem US$ 5-6/MMBtu para remunerar o capital investido em liquefação, aos quais se somam preços boca dopoço de US$ 3 (shale) a US$ 5-6 /MMBtu, dependendo da localização do projeto, mais custos de transporte por navio de US$ 1-2/MMBtu. Assim sendo, o custo total da cadeia de valor de GNL ainda oscila entre US$ 9-14/MMBtu, bastante superior aos preços que o mercado estaria disposto a pagar pelo produto.

A título de referência, o preço atual do GNL no mercado spot está da ordem de US$ 7-8/MMBtu.
Preços baixos de petróleo, além de estimular a demanda por derivados de petróleo, também desestimulam a conversão de indústrias e consumidores para o gás natural. Preços baixos de petróleo também resultam em redução de investimentos em exploração. No caso do Brasil, a Petrobras reduziu o orçamento de exploração no período 2015-2019 para US$ 11,3 bilhões, em comparação com uma previsão de US$ 18 bilhões para o período 2014-2019. No longo prazo, o aumento da demanda de derivados e o desinvestimento em exploração, com redução da oferta, devem reequilibrar os preços, conforme observado em diversos ciclos de commodities. Talvez a recuperação futura leve mais tempo do que nos ciclos passados, que duravam 2-3 anos no período de baixa, porque a China está reduzindo seu crescimento econômico, o Brasil está entrando em recessão e a Índia ainda não mostrou sinais fortes de recuperação.

De toda sorte, preços de petróleo excessivamente baixos não são sustentáveis por períodos muito longos, porque a maior parte dos países produtores necessitam de preços de US$ 80-140/barril para equilibrar o orçamento nacional, o que é o caso da Venezuela, Argélia, Irã, Iraque, Rússia e Nigéria, entre outros. Em Angola, por exemplo, o governo anunciou que vai reduzir investimentos na construção de escolas, devido à redução nos ingressos com a exportação de petróleo. Dado o dinamismo da indústria norte-americana e a facilidade de mobilização de sondas terrestres, a retomada dos preços do petróleo para valores acima de US$ 60 deverá enviar um sinal econômico para o incremento das atividades de perfuração e produção de shale gas.

No caso do Brasil, do lado da oferta, os custos de exploração e desenvolvimento da produção são impactados por alta carga tributária, demora excessiva na aprovação das licenças ambientais e custos elevados da política de conteúdo local, seja pelo preço mais elevado dos produtos e serviços brasileiros, seja pelas multas aplicadas às empresas que não cumprem as metas previstas nos contratos de concessão.

Do lado da demanda, o Brasil perde uma enorme oportunidade de melhorar a eficiência do setor energético, ao ser permitido que plantas de geração de eletricidade de ciclo aberto operem na base, desperdiçando cerca de 12 milhões de m3/dia, a maior parte a preços subsidiados, volume esse que poderia ser ofertado ao mercado industrial, comercial e residencial a preços mais competitivos que os preços atuais ou ainda contribuir para evitar a importação de grandes volumes de GNL.

Ieda Gomes
ieda@energixstrategy.com

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