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Eólicas garantem preços estáveis e sustentabilidade às empresas

Pragmaticamente, indústrias e grandes prestadores de serviços aliam planos de tornar suas operações mais sustentáveis ambientalmente com a lucratividade e previsibilidade nos negócios. Os projetos eólicos entregam bem as duas coisas

Por Eugênio Melloni

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Complexo Cajuína, no RN: CBA adquiriu participação do parque Cajuína III, que irá fornecer 55Mwm para a fábrica da empresa em Alumínio (SP) (Foto: Divulgação)

Muitas empresas brasileiras vêm fechando acordos com geradoras de energia eólica com o objetivo de assegurar energia elétrica limpa e garantir preços favoráveis em prazos mais longos. A Motiva, por exemplo, empresa de infraestrutura de mobilidade do país, e a CBA, fabricante de alumínio, fecharam recentemente contratos com grandes geradoras para assegurarem com vantagens econômicas suas participações em complexos e parques eólicos.

Estes acordos garantem a grandes consumidores suprimentos de energia de fonte renovável, contribuindo para atingirem metas de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que amarram preços mais estáveis de energia no longo prazo, fugindo da exposição à volatilidade típica do mercado.

Esse movimento foi captado em levantamento realizado pelo Instituto Nexus, a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao apontar que 48% das indústrias do país adotaram ações voltadas ao uso de energia limpa em 2024, contra 34% no ano anterior, recorrendo à utilização de energia hídrica, eólica, solar, biomassa ou hidrogênio de baixo carbono.

O levantamento aponta que o Nordeste lidera essa estratégia, com 60% das indústrias investindo em ações envolvendo energias renováveis. Na sequência, estão as indústrias do Norte e Centro-Oeste (56% delas com ações envolvendo uso de energia limpa), Sul (53%), e Sudeste (39%).

Motiva entre os 50 maiores

A Motiva (ex-CCR), maior empresa de infraestrutura de mobilidade do país, conta com a energia dos ventos como item básico na sua estratégia para mover, de forma eficiente e sustentável, um portfólio abrangendo 37 ativos espalhados por 13 estados, compreendendo concessões de rodovias, trens, metrôs e aeroportos. Situado entre os 50 maiores consumidores de energia do país, o grupo deu um passo significativo nessa estratégia no final de 2024, quando firmou acordo com a Neoenergia pelo qual passou a ser sócio em três usinas (Oitis 2, Oitis 4 e Oitis 6), do complexo eólico Neoenergia Oitis, localizado no Piauí.

A energia gerada pelas eólicas irá atender a 60% da demanda atual da companhia, que oscila em torno de 70 MW médios. Conforme anunciado na época, o negócio com a Neoenergia Renováveis envolveu um montante de R$ 21,7 milhões para a aquisição de 2,84% do capital social da Oitis 2, 6,75% do capital social da Oitis 4 e 5,25% do capital social da Oitis 6 por parte da Motiva.

A parceria com a Neoenergia será preponderante para que a Motiva mantenha e amplie importantes objetivos em sustentabilidade alcançados em 2024, explica Diego Martins Ferreira (foto), gerente-executivo de Energia da empresa. No ano passado, a companhia zerou as emissões de escopo 2, relativas ao uso da energia pelo grupo, e antecipou em um ano o cumprimento da meta de ter 100% dos seus ativos de rodovias, mobilidade urbana e aeroportos abastecidos com energia elétrica limpa e renovável.

Esses objetivos foram alcançados também devido a investimentos em geração distribuída, migração de operações para o mercado livre e compra de certificados de energia renovável (IRECs). “Além de proporcionar energia limpa para o grupo, o acordo com a Neoenergia atende à nossa necessidade de apresentar certificados de energia renovável”, explicou Ferreira.

A energia contratada no acordo com a Neoenergia será importante para atender às demandas dos trens e metrôs administrados pela Motiva. A companhia opera concessões como as Linhas 4, 5, 8 e 9 em São Paulo, o VLT Carioca e o metrô Bahia, em Salvador. Ao todo, são quase 180 quilômetros de trilhos e mais de 120 estações sob sua gestão. Nesses segmentos, o consumo de energia é intensivo.

Motiva (ex-CCR), conta com a energia dos parques eólicos Oitis 2, Oitis 4 e Oitis 6, no Piauí, para mover, de forma sustentável, um portfólio abrangendo 37 ativos espalhados por 13 estados (Foto: Divulgação)

A empresa recorre também a usinas solares próprias e de parceiros para atender a concessões de rodovias. “Nessas concessões, temos praças de pedágios e bases operacionais que funcionam em baixa tensão e não conseguimos migrar para o mercado livre. Então, para reduzir a conta de luz e tornar o uso da energia mais sustentável nesses empreendimentos, acaba sendo mais interessante ter a geração distribuída”, explica Ferreira.

O acordo com a Neoenergia foi o primeiro projeto concluído pela Motiva na modalidade de autoprodução, modelo que atende à busca da companhia por maior eficiência operacional e por soluções que amenizem as imprevisibilidades com a volatilidade dos preços da energia. Com o contrato, a Motiva assegurou um preço previsível no longo prazo. A iniciativa faz parte dos esforços da companhia para alcançar, no médio prazo, uma redução de custos de dois dígitos, explicou o gerente-executivo do grupo.

A Motiva poderá replicar, futuramente, o modelo de autoprodução em sua estratégia de expansão. Nos últimos meses, a empresa conquistou concessões no Paraná, na Sorocabana e no Mato Grosso do Sul e mira um pipeline de concessões que deverão movimentar cerca de R$ 200 bilhões em novos leilões de rodovias e trilhos.

CBA diversifica sua matriz energética

Em maio último, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), tradicional autoprodutor com hidrelétricas, também firmou contratos de aquisição de participações em ativos de autoprodução eólica. Conforme informou a companhia em comunicado, “com a conclusão das transações, a CBA reforça sua estratégia de diversificação da matriz energética, ampliando a capacidade de geração de energia nova, competitiva e renovável, garantindo assim as condições para o crescimento de longo prazo da companhia e o desenvolvimento das comunidades onde ela atua”.

Os ativos cujas participações foram adquiridas pela CBA são parte do Complexo Serra do Tigre e do Parque Eólico Cajuína III, empreendimentos da Casa dos Ventos e da Auren Energia, respectivamente.  Com a Casa dos Ventos, o acordo prevê o fornecimento de 60 MWm; a Auren Energia, por sua vez, irá fornecer 55 MWm. A energia gerada está destinada à fábrica da CBA no município de Alumínio (SP).

Fábrica da CBA em Alumínio (SP) vai receber energia dos parques eólicos de Serra do Tigre, da Casa dos Ventos, e Cajuína III, da Auren, ambos instalados no Rio Grande do Norte (Foto: Divulgação)

Os acordos compreendem um total de R$ 158 milhões e terão vigência por um período de 15 anos, com início do suprimento previsto para 2027. Os dois complexos eólicos estão localizados no Rio Grande do Norte e tanto a gestão da operação quanto a manutenção dos ativos será de responsabilidade das contratadas.

Energia eólica precisa crescer 17% ao ano (AIE)

O mercado não regulado de grandes consumidores de energia, com demanda mais previsível do que o mercado de serviço público, cresce como opção para ancorar novos projetos da geração eólica. A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que para o Cenário de Emissões Líquidas Zero até 2050, que prevê uma geração de energia eólica de 7.100 TWh até 2030, será preciso que a capacidade instalada em centrais eólicas se expanda a uma média anual de 17%.

Em 2023, segundo a agência, a geração de eletricidade eólica aumentou em 216 TWh, o que representa salto de 10% em relação ao ano anterior, atingindo patamar superior a 2.330 TWh. O crescimento das eólicas ocupa o segundo lugar entre todas as fontes de energia renovável, ficando atrás apenas da solar fotovoltaica. A adição de capacidade eólica global se recuperou em 2023 após dois anos de desaceleração.

O cumprimento das metas de expansão da energia gerada pelos ventos exigirá que a capacidade anual adicionada aos sistemas elétricos salte dos 115 GW registrados em 2023 para 340 GW em 2030. E para que este objetivo seja alcançado, a agência recomenda a intensificação e o incremento de políticas públicas para atrair o setor privado investidor, em um conjunto de esforços que deverá envolver por parte dos governos maior agilidade no licenciamento ambiental, e por parte da indústria custos mais competitivos da energia eólica offshore.

Em 2023, a China respondeu por quase 60% da ampliação da geração eólica, seguida pela União Europeia, com um crescimento de 26%. Nos Estados Unidos, a geração eólica permaneceu praticamente estagnada em 2023.

 

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