Revista Brasil Energia | Novos Modelos e Tecnologias em Energia

Conteúdo oferecido por PRYSMIAN

A primeira rede subterrânea de alta tensão de 500 kV do Brasil

Taesa deve finalizar a obra até abril de 2026, reforçando a estrutura da SE Assis, no interior de São Paulo, e aumentando a confiabilidade do SIN

Por Nelson Valencio

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Subestação Assis: cabo subterrâneo dentro da subestação foi solução adotada para mitigar riscos e viabilizar futuras extensões (Foto: Divulgação/Taesa)

A Taesa vai implantar a primeira rede subterrânea de alta tensão em 500 kV do Brasil. A infraestrutura faz parte do reforço na subestação de Assis, interior de São Paulo e viabiliza a instalação de um banco de transformadores de 500 MVA, um dos maiores em corrente alternada do país.

Estratégica para o sistema elétrico, a subestação faz parte de um circuito importante, conectando linhas de alta tensão que integram usinas geradoras — hidrelétricas e termoelétricas — aos principais centros de consumo do Sul-Sudeste.

Como já recebe várias outras linhas de transmissão, a conexão aérea para o novo banco de transformadores seria difícil ou inviável logisticamente. Além de ter que contornar as redes existentes, a ativação da infraestrutura tradicional exigiria aquisição de um novo terreno e corte de vegetação em uma área ambientalmente delicada. Além disso, a instalação poderia inviabilizar futuras expansões.

“A solução foi adotar um cabo subterrâneo dentro da subestação”, resume Jell Lima de Andrade (foto), diretor de Implantação da Taesa, em conversa com a Brasil Energia. “A iniciativa requer grande cuidado técnico, de engenharia, logística e construção”.

Em função da complexidade do projeto, a transmissora fechou parcerias importantes, com destaque para a Prysmian, no fornecimento e instalação dos cabos, e com a WEG, que fabricará os autotransformadores.

De acordo com Andrade, o projeto é uma confluência de interesses: além de importante para o Sistema Interligado Nacional (SIN), a rede subterrânea reforça o perfil de inovação da transmissora e traz um ganho tecnológico para o país.

A implantação envolve ainda uma inovação financeira: a remuneração do sistema de autotransformadores. Como todo o sistema elétrico, o pagamento precisa ser feito com base no banco de preços da Aneel. No entanto, o cabo subterrâneo de 500 kV, por ser único e o primeiro no Brasil, não tem referência de mercado.

Com isso, a transmissora entrou em um regime de Valor Ordinário Contábil (VOC), onde a remuneração é baseada no investimento efetivamente realizado, o que trouxe maior segurança financeira ao projeto.

Se o alinhamento com Aneel, Operador Nacional do Sistema (ONS) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE) foram fundamentais do ponto de vista de regulação e operação, a parceria tecnológica também foi bem amarrada pela Taesa.

Laboratório de alta tensão da Prysmian, parceira tecnológica do projeto: fabricante deu suporte à área de engenharia da Taesa na otimização do layout da subestação e no dimensionamento dos cabos (Foto: Divulgação)

Daniel Azevedo, diretor Comercial da Prysmian, explica que a rede em Assis será a segunda subterrânea da América Latina nessa classe de tensão. “A solução com cabo subterrâneo traz maior flexibilidade, permitindo curvaturas dos cabos e passagem em locais restritos, manobras que a instalação em dutos não permitiria”.

Atuando como especialista, a Prysmian assumiu um contrato turnkey com a concessionária, respondendo pela fabricação do cabo, que está comissionado na China, até a ativação da rede. O treinamento de mão-de-obra e a assistência técnica também fazem parte, além dos testes da infraestrutura.

Azevedo lembra que, pela especialização técnica em cabos de alta tensão, a fabricante deu suporte à área de engenharia da Taesa na otimização do layout da subestação e no dimensionamento dos cabos.

Já os profissionais da Prysmian alocados no projeto receberam treinamento adicional em Livorno, na Itália, ao mesmo tempo em que o cabo para o projeto está sendo finalizado na China.

Laboratório móvel da Prysmian permite testar em campo sistemas de alta tensão com cabos isolados (Foto: Divulgação/Prysmian)

Com aproximadamente 2 km, ele não é longo, uma vez que a instalação acontece dentro da subestação. “Serão até 12 lances de cabo cortados em pedaços. A complexidade do projeto reside na execução dos muitos terminais de 500 kV, que exigem mais atenção, tempo e dedicação”, detalha Azevedo.

O especialista lembra que quanto maior a classe de tensão, maior a exigência e o cuidado na instalação. O risco de falhas - até pela presença de poeira – também aumenta e pesa no bolso. “A instalação exige um ambiente controlado de alto nível de rigor, o que chamamos de “sala limpa”. A ativação da rede requer ainda equipamentos e acessórios mais caros. Uma emenda de cabos, por exemplo, pode custar R$ 500 mil em redes de 500 kV.

Apesar dos desafios citados, a barreira rompida pela Taesa deve eliminar a resistência à implantação de redes de 500 kV que havia no país.

Azevedo argumenta que a necessidade de importar conhecimento e mão-de-obra tornava a solução inviável financeiramente. O “desconforto” de órgãos como o ONS, que olhavam o 500 kV subterrâneo com bastante cuidado, também pesavam contra.

Na própria Prysmian havia uma atenção pelo fato de a empresa anteriormente só ter uma fábrica - na França – para a produção de cabos com essa tensão.  

Outro entrave era a falta de equipamentos no Brasil para testar a rede de 500 kV, problema eliminado com a importação de dois reatores ressonantes pela Prysmian. Juntos, a dupla de equipamentos pode atingir 800 kV para testes de comissionamento.

No caso dos autotransformadores de potência, a inovação não envolve somente a remuneração da Taesa. Carlos Diether Prinz (foto), diretor Superintendente de Transmissão e Distribuição da WEG, lembra que os equipamentos terão papel estratégico na adaptação da tensão de uma linha de transmissão de 440 kV para 525 kV, adequando-a ao padrão de tensão predominante do sistema brasileiro.

A multinacional é responsável pelo fornecimento de três deles com potência de 500 MVA, incluindo projeto, fabricação, entrega, montagem e comissionamento. Eles serão entregues prontos para operação, inserindo mais 1,5 GVA de capacidade de transformação no SIN.

Em fabricação na unidade da empresa em Betim (MG), a 800 km da de Assis, cada um dos autotransformadores pesa 300 toneladas, o que exigirá uma operação logística especializada até a subestação.

Autotransfomadores de 300 toneladas estão sendo fabricados na unidade da WEG em Betim e exigirão logística especializada até a subestação em Assis (Foto: Divulgação/ WEG)

Com cerca de 15 mil km de linhas de transmissão em 44 concessões no país, a Taesa possui 11 projetos em fase de implantação. As iniciativas – e mais os aportes em reforços e melhorias – totalizam uma carteira de R$ 5 bilhões em investimentos.

Veja outras notícias sobre novos modelos e tecnologias em energia

Últimas