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Novos Modelos encontram espaço na demanda dos Consumidores

Energy as a Service, Utilities as a Service e BESS alugado encontram os primeiros nichos de mercado prometendo descarbonização, eficiência, economia na conta e segurança de suprimento

Por Marcelo Furtado

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Telhado solar Revo: a empresa faz o investimento e trabalha com prazos contratuais de seis a 15 anos, oferecendo como atrativo um aluguel da planta em valor 15% a 20% inferior à conta do consumidor (Foto: Divulgação)

Aos poucos, cada vez mais empresas brasileiras, na indústria ou no comércio, e mais recentemente até pessoas físicas, aderem ao modelo de negócios de energy as a service, também conhecido pela sigla EaaS. Este nicho de mercado tem sido desenvolvido nos últimos anos por alguns ofertantes que, embora relatem barreiras culturais ao modelo, não se queixam do andamento dos negócios.

O apelo mais relevante considerado pelos clientes é o de se tornar um autoprodutor sem precisar investir no capex dos ativos. Pelo EaaS, a empresa ofertante faz todo o investimento necessário nas utilidades de geração, gestão, eficientização ou de armazenamento de energia, aí incluindo retrofit de instalações ou novas unidades, e recebe do cliente pelo aluguel das plantas ou por meio de contratos de assinatura.

O modelo livra o candidato a autoprodutor de correr atrás de um financiamento e se comprometer com o endividamento decorrente. Além disso, o EaaS entra no balanço como despesa dedutível do imposto de renda.

Às vantagens financeiras e tributárias somam-se os benefícios operacionais. Ao terceirizar o serviço de utilidades para uma empresa especializada em energia, comprometida por contrato e por penalidades a garantir eficiência e ganhos, o cliente se concentra em seu negócio.

Energy e utility as a service

Uma das empresas pioneiras nesse modelo de negócios, a francesa GreenYellow, oferece também serviços chamados utilities as a service, no qual instala no cliente sistemas novos ou moderniza outros em operação (retrofit), cobrando também por meio de aluguel das plantas (as utilities).

De acordo com Marcelo Xavier (foto), presidente da GreenYellow, já há no Brasil mais de mil projetos implantados nesse modelo. Os clientes buscam tanto descarbonizar suas atividades como reduzir a conta de energia, principalmente em sistemas de iluminação, ar-condicionado, refrigeração, central de água gelada, bombas de calor e de ar comprimido.

Tanto nos projetos greenfield quanto de retrofit, o conceito é o mesmo: em vez de o cliente fazer a gestão do consumo de energia e da performance dos equipamentos, deixa essas tarefas na mão de seu fornecedor.

A empresa, no mesmo modelo, investe e implanta usinas solares fotovoltaicas para geração distribuída para diversos tipos de empresas. Até o fim do ano, segundo Xavier, já serão mais de 250 MW em UFVs para operadores de GD compartilhada por assinatura ou para empresas de telecom e varejo que, com muitas unidades consumidoras, se compensam de créditos da geração nas suas faturas de consumo.   

Chiller no mercado Assaí: com utilities as a service da francesa GreenYellow, clientes buscam tanto descarbonizar suas atividades como reduzir a conta de energia, principalmente em sistemas de iluminação, ar-condicionado, refrigeração, central de água gelada, bombas de calor e de ar comprimido (Foto: Divulgação GreenYellow)

Para se financiar, além dos recursos do fundo de private equity Ardian, que controla 90% da GreenYellow, a empresa utiliza vários instrumentos financeiros, como project finance, emissão de debêntures incentivadas para projetos de GD solar e de greenbonds (títulos verdes) para eficiência energética.

Telhados solares e BEES

Duas outras empresas usam também o EaaS para transformar oportunidades em negócios. A Revo Energia se oferece para implantar microusinas solares para consumidores da baixa tensão (grupo B) e a Matrix explora o nicho de sistemas de armazenamento por baterias (BESS) para empresas com demandas acima de 500 kW. 

Desde abril de 2024, a Revo vem focando no nicho dos ‘telhados solares’, replicando modelo já adotado nos Estados Unidos pela Sunrun, que hoje conta com mais de 1 milhão de contratos. O diretor comercial da Revo, Silvio Antunes (foto), disse que em menos de um ano já foram fechados 720 contratos de telhados solares, parte dos quais já em operação, parte em fase de engenharia e execução.

A Revo faz todo o investimento e trabalha com prazos contratuais de seis a 15 anos, oferecendo como atrativo um aluguel da planta em valor 15% a 20% inferior à conta do consumidor. Ao final do contrato, o cliente se torna proprietário da microusina.  

A instalação dos telhados solares é feita por uma rede de integradores espalhadas pelo país, homologados pela chinesa Huawei, com quem a Revo tem contrato para adquirir apenas inversores híbridos. Dado o ritmo dos negócios, Antunes projeta fechar 2025 com mais de 5 mil telhados solares no país e, em cinco anos, atingir meta mais ambiciosa de 500 mil instalações.

Tradicional comercializadora de energia, a Matrix criou ano passado a Matrix Digital Power, unidade de negócios para entregar soluções customizáveis aos clientes, entre as quais o serviço com sistemas de armazenamento de energia por baterias (BESS, na sigla em inglês).

O gerente comercial Gledson Torquato (foto) diz que, entre outras vantagens, alugar os bancos de baterias da Matrix serve para armazenar energia barata adquirida nos períodos fora da ponta para uso posterior nos horários mais caros.

Em menos de um ano, desde março do ano passado, a empresa já contabiliza 120 MWh de capacidade de BESS comercializados, sendo 25 MWh já em operação, com projeção de chegar a 225 MWh até o meio do ano.

Os primeiros contratos foram assinados com clientes da própria comercializadora, para testar a aceitação da tecnologia (o BESS é fornecido pela Huawei). O primeiro cliente foi um mercado municipal no bairro de Santo Amaro, na capital paulista, seguido por outros como as redes de supermercado Moranguinho e Cometa, do Ceará. Logo a oferta passou a mirar o mercado fora do portfólio da Matrix.

Outro segmento interessado no serviço de armazenamento foi o de frigoríficos. O pioneiro nessa área foi o Cofrio, do Espírito Santo, que precisava na parte da manhã de demanda adicional, o que pôde ser suprido por baterias. O cliente também queria diminuir a exposição com a energia contratada no ACL no horário de ponta e aumentar a segurança energética contra as quedas constantes.

Nesse projeto, foi implantada no início um BESS com 4 MWh de capacidade e 2 MW de potência, posteriormente aumentado para 6 MWh aproveitando o empilhamento de serviços que as baterias podem prestar ao frigorífico. A experiência capixaba fez o uso em frigoríficos ser estendido a outras empresas do setor, no Pará e Minas Gerais.

Outro caso em indústria ocorreu na empresa Gelco, produtora de colágeno. A motivação desta vez era a queda frequente de energia em suas plantas de São Paulo e Franca, no interior paulista, que colocavam em risco o insumo caro da empresa. Com a instalação de um BESS de 6 MWh/3MW em cada uma das plantas, o problema foi resolvido, segundo Torquato.

Santo Mercado, em São Paulo, usa serviço com sistemas de armazenamento de energia por baterias (BESS) da Matrix Digital Power, unidade de negócios da Matrix para entregar soluções customizáveis aos clientes (Foto: Divulgação Matrix)

O ganho principal com a instalação do BESS é maior para os consumidores do grupo A4, com tarifação em horários de ponta e fora de ponta, com demandas acima de 500 kW e faturas de pelo menos 80 mil reais.  Isso porque, explica Torquato, a grande vantagem do BESS está na tarifa fio.

Os consumidores do mercado livre nessa classificação pagam duas tarifas, a da comercializadora (energia) e a da concessionária, (demanda e encargos). Com a arbitragem de preço das baterias, de poder armazenar e despachar nas horas mais convenientes, é possível economizar na segunda, usando menos o fio na ponta.

Filão dos ônibus elétricos

Já com a A2, empresa de transporte público da cidade de São Paulo, a solução atendeu outro gargalo. Para eletrificar parte de sua frota, requerida por um plano do Governo Municipal de descarbonizar o transporte público até 2038, a empresa conta com demanda contratada de apenas 80 kW, insuficiente para atender o carregamento de um único ônibus (160 kW).

BESS na empresa de transporte público A2, de São Paulo, permite carregar pelo menos seis ônibus ao mesmo tempo durante a madrugada (Foto: Divulgação)

Para conseguir carregar o seu primeiro veículo e outros que serão incorporados à frota, a A2 fechou contrato com a Matrix Power para uma BESS com capacidade para 2 MWh (1 MW de potência). Com isso, a empresa pode carregar durante a madrugada pelo menos seis ônibus ao mesmo tempo, pagando uma tarifa de fornecimento da energia armazenada.

Quando a A2 atingir a demanda contratada de 1 MW, o sistema entrará em uma segunda fase e será aumentado em até oito vezes, para permitir o carregamento de até 70 ônibus. Torquato acredita que esse será um filão de mercado relevante, tendo em vista a meta da descarbonização nos transportes coletivos da cidade de São Paulo.

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