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Revista Brasil Energia | Novos Modelos e Tecnologias em Energia
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O que revelam os dados coletados do Mercado Livre
Com a análise de dados colhidos em 70 mil medidores, é possível conhecer melhor a dinâmica de um universo de clientes que representa cerca de 38% de todo o consumo de energia do país.
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A migração para o mercado livre dos consumidores do grupo A apresentou índices históricos em 2024: mais de 26 mil unidades consumidoras deixaram o ambiente regulado (cativo), segundo a CCEE. Esse número foi três vezes superior à transição feita em 2023.
E mais: o perfil de quem muda é claro, com 74% das migrações acontecendo no chamado varejo, onde é necessária a intermediação de um agente junto à Câmara de Comercialização. Ainda mais impressionante é que 92% das trocas no varejo envolveram consumidores com demanda de média e alta tensão inferior a 500 kW.
“Temos um momento histórico de expansão, com a migração concentrada no Sul e Sudeste. O ano passado foi o do varejo e isso vai continuar em 2025”, analisa a gerente executiva da CCEE, Adriana Sambiase (foto), em conversa com a Brasil Energia.
Em sua análise, Sambiase diz que os dados recentes da Aneel indicam que já existem mais de 12 mil pedidos de migração para esse ano, um processo que precisa ser feito com pelo menos seis meses de antecedência na distribuidora de quem os consumidores são “cativos”. E menciona que a CCEE tinha mais de 9 mil pedidos de ingresso no mercado livre em janeiro último.
Dalmir Capetta (foto), gerente de Engenharia e Operação da Medição da Câmara de Comercialização, explica que não é incomum os casos com demanda de 100 kW.
Além da demanda contratada menor, Capetta aponta para outro movimento observado, que é a migração no setor público. Um caso de destaque foi o da Embasa, empresa de saneamento da Bahia, que fez o processo ainda em julho de 2024. “Ela realizou a transição de 500 pontos de medição de carga. É um caso clássico, porque o bombeamento de água exige muita energia, mas existem outros exemplos na área pública”.
Ele também revela que a Marinha do Brasil já manifestou o interesse em avançar no processo e teria migrado algumas unidades para o mercado livre. “É o novo nicho de demanda”.
O gerente de Operação da Medição dá um quadro da situação atual no país; 80% das unidades são telemedidas, o que significa que as distribuidoras de maior porte aplicam a tecnologia de medição remota em praticamente todos os seus clientes de média e alta tensão. Os 20% restantes estão, geralmente, na base das permissionárias ou cooperativas ou ainda nas concessionárias mais atrasadas no processo.
Base da Marinha no Rio de Janeiro está entre as 18 Organizações Militares da Marinha que já migraram para o mercado livre de energia (Foto: Divulgação)
A existência de conexão física de telemedição, aliás, é um dos facilitadores do avanço da migração. “Não se trata apenas de um recurso de faturamento. Esse processo automático de obtenção de dados ajuda no planejamento da rede e na recuperação de receita”, explica Capetta. A telemedição facilita a detecção de fraudes, já que as distribuidoras podem comparar a medição final no cliente com a carga que passa pelos seus circuitos.
Os dados da CCEE indicam que haveria cerca de 70 mil pontos sendo telemedidos no grupo A e a instituição monitora aproximadamente 90% desse universo. Uma informação singular é que a soma de medidores remotos supera os 91 mil dispositivos, uma vez que alguns dos pontos têm redundância. A aferição dupla acontece em interligações internacionais envolvendo os países do Mercosul ou ainda em pontos considerados estratégicos pelo ONS, entre outros. “´É do interesse do Operador ter dados, por exemplo, da integração com a Venezuela”.
Capetta lembra ainda que a ativação da telemedição é regida pela Aneel, com a especificação dos requisitos para a coleta dos dados. A CCEE, por exemplo, recebe as informações das distribuidoras e pode, até, acessar diretamente os medidores do grupo A.
Essa, aliás, é uma das novidades da Câmara, que adota uma plataforma de coleta diferenciada, capaz de recuperar dados de 24 modelos de medidores de oito fabricantes diferentes.
“Temos um espelho do software usado pelas concessionárias e podemos acessar a memória dos medidores, trazendo as grandezas importantes para o monitoramento, mas basicamente o consumo”, revela Capetta. O acesso tem sido feito nos medidores do mercado atacadista. No varejo, onde as comercializadoras intermediam o processo de compra e venda de energia, são elas que fazem a coleta dos dados, a partir da base das distribuidoras.
Migrações em 2024: expansão concentrada no Sul e Sudeste (Fonte: CCEE)
“O novo modelo proposto pela Aneel vai considerar a apuração de informação de novos consumidores varejistas via aplicativo e armazenado em nuvem”, complementa Sambiase, destacando que a regra passa a valer a partir de julho próximo, com as comercializadoras assumindo a responsabilidade da consolidação dos dados.
Ainda sobre a plataforma de dados da CCEE, os dois especialistas lembram que a consulta dos dados ocorre em mão dupla. Os agentes varejistas podem contabilizar suas operações, sem precisar fazer isso contrato a contrato. A importância dos dados acontece ainda para as distribuidoras, que podem basear seu planejamento com os inputs gerados pela consolidação dos consumidores do grupo A.