Opinião
Rumo às operações carbono zero
Metas coletivas de redução são de até 21 kg de CO2 por barril comercializado; enquanto supermajors assumem metas de redução total no local de operação, desafio permanece na queima
A corrida para atingir as metas do Acordo de Paris aumenta bastante a pressão sobre os compromissos firmados para redução das emissões de carbono nas operações de exploração e produção de energia - e o licenciamento ambiental pode ser aliado no atingimento dessas metas. De acordo com a Iniciativa Climática para Óleo e Gás (OGCI), as metas coletivas são de redução de 20 kg a 21 kg de CO2 por barril de óleo equivalente comercializado. Participam da inciativa empresas como Petrobras, BP, Equinor, Exxon, Chevron, Shell, Repsol, Aramco, Total, CNPC, ENI e Occidental.
Muitas estabeleceram metas individuais para os diferentes escopos, considerando que as “supermajors” anunciaram compromissos de “net zero emissions” em grande parte dos Escopos 1 e 2, que representam, em geral, 10% das emissões totais dessa categoria, e dizem respeito as emissões produzidas no local da operação, e aquelas terceirizadas, respectivamente. O escopo 3, no entanto, ainda é o grande desafio para que as reduções realmente sejam significativas e contribuam para o resultado final almejado. Ele inclui as emissões geradas pela queima de combustível fóssil pelos consumidores e ainda não há clareza de como será gerida essa coleta de dados, e qual sua abrangência real.
Para dar início ao processo, é possível partir, em um primeiro momento, para a realização do inventário do estado da arte das emissões no momento presente, do escopo 1, que já envolve um número considerável de fontes distintas de entrada de dados para o cálculo final das emissões.
Uma vez estabelecido a abrangência de cada escopo, e coletados os dados do inventário, é necessário definir uma sistemática robusta para coleta desses dados padronizando sua entrada, considerando toda a cadeia de serviços que participa de cada operação. Muitas empresas de diversos setores, já elaboram e definem suas metodologias internas de coleta e sistematização de dados através de manuais e treinamentos, fundamentais para a robustez dos cálculos.
A forte pressão para o alcance das metas por parte dos investidores traz otimismo de que grande parte das empresas terá uma mola propulsora significativa para acelerar o processo de adequação das metas como uma nova realidade ambiental e econômica.
Do ponto de vista da gestão ambiental, muito se tem a ganhar a partir da coleta de dados sistematizada das emissões das operações. Especialmente porque até o momento, a gestão das emissões é o único modelo que reflete de maneira palpável e quantitativa, a pegada de cada etapa da operação. Vejo como promissor aliar a gestão das emissões ao licenciamento ambiental, buscando trazer mais celeridade e visibilidade ao processo que se baseia nos Estudos de Impacto.
Uma avaliação de impacto é fundamental para atividades que nunca foram realizadas antes. Porém naquelas bacias já bastante produtivas, com Programas de Monitoramento intensivos e contínuos tanto sociais quanto ambientais, não há nenhuma relevância, e sim um grande desperdício de recursos para um resultado subjetivo.
Os dados quantitativos sobre os impactos ambientais causados à atmosfera tornam claras as principais pressões da operação sobre o clima e também aproximam do entendimento dos impactos cumulativos e sinérgicos de cada operação, que seriam o calcanhar de Aquiles das agências ambientais e de toda a gestão.
O antigo conceito de capacidade de carga dos ambientes, que seria o ideal para definir o número de operações possíveis dentro de cada bacia, por exemplo, jamais foi definido ou delineado de maneira efetiva. No caso dos ambientes marinhos, uma analogia ao que temos em termos de emissões atmosféricas, seria quantificar o limite máximo que cada bacia suportaria, a partir da sobreposição das plumas de dispersão e das cargas dos contaminantes de cada operação, mapeando as zonas de mistura até onde as concentrações dos contaminantes chegariam a zero. Apesar de já termos dados suficientes para isso, falta realmente modelar.
Dessa forma, entendo que precisamos dar esse passo rumo à realidade de 2020, centralizando esforços para atingir as metas de redução do aquecimento global, incorporando ao processo de licenciamento o esforço hercúleo que será, num primeiro momento, o mapeamento das fontes e o cálculo das emissões em cada empresa.
Claudia BP Bethlem é Consultora Ambiental Independente com mestrado em Oceanografia e especialização em estimativas de abundância de mamíferos marinhos. Graduou-se em Biologia pela Universidade Santa Úrsula e fez mestrado na FURG – Fundação Universidade do Rio Grande
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