
Opinião
Queremos um Brasil Nature-Positive: proteger também é inovar
Não se pode esperar que o licenciamento ambiental seja ágil, estratégico e respeitado se o próprio sistema não investe na modernização de suas ferramentas, na valorização dos seus quadros e na adoção de métodos integrados

O recente processo de aprovação do Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental pelo Senado e pela Câmara dos Deputados traz à tona um tema que pulsa no coração de quem, como eu, dedicou a vida profissional às questões ambientais no Brasil e na América Latina. Sou 100% a favor do licenciamento ambiental e da missão do Ibama - inclusive, tive a honra de fazer parte da equipe que, nos anos 2000, iniciou o licenciamento ambiental da exploração de petróleo e gás no país.
Naquele tempo, o prédio do Ibama na Praça XV, no Rio, já apresentava sinais de abandono - infiltrações, elevadores quebrados, equipamentos obsoletos. Décadas depois, a situação pouco mudou. A verdade é dura: o mundo nos trata como a gente se trata.
Não se pode esperar que o licenciamento ambiental seja ágil, estratégico e respeitado se o próprio sistema não investe na modernização de suas ferramentas, na valorização dos seus quadros e na adoção de métodos integrados, como o uso de geoprocessamento em tempo real, bases de dados interoperáveis e plataformas que comuniquem riscos, alternativas e decisões com clareza.
Antes de deixar o mercado de licenciamento ambiental, tive um processo que durou dois anos e meio para aprovar uma campanha de sísmica marinha de apenas 20 dias, em área já ocupada por grandes embarcações, em frente ao Porto de São Luís. A empresa havia concordado com todos os programas ambientais propostos. Mesmo assim, os atrasos causaram enormes prejuízos - inclusive a pequenas consultorias, como a minha, que não têm como manter por anos uma equipe multidisciplinar esperando uma decisão.
O resultado disso é um mercado cada vez mais concentrado, onde apenas grandes corporações conseguem sobreviver à espera.
É urgente dizer: defender o meio ambiente hoje é também entender o mercado, os prazos, as novas tecnologias, as mudanças climáticas e as oportunidades da transição energética.
As universidades precisam formar profissionais com olhar para o mundo real. Grande parte do conhecimento mais atual sobre hidrogênio verde, captura de carbono, ESG, economia circular e inovação ambiental está em webinars, fóruns técnicos e papers que sequer chegaram às revistas científicas ainda. O mundo não sobrevive mais à base de PowerPoint e bibliografia defasada.
Não existe projeto ambiental robusto sem plano de negócios, matriz financeira, visão integrada.
A grande diferença entre sonhos e projetos sustentáveis, no tempo e no espaço, está nos números, no planejamento, na capacidade de articulação.
Não se trata de “flexibilizar o licenciamento” para atender ao mercado. Trata-se de fortalecer o sistema ambiental brasileiro, com inteligência, atualização técnica e visão estratégica. Se quisermos ter voz nas grandes decisões do desenvolvimento sustentável, precisamos estar à altura delas.
Os profissionais ambientais não podem mais se isolar em uma bolha de resistência. Precisam liderar o diálogo com o setor produtivo, com conhecimento técnico, segurança jurídica e foco em resultados. O futuro exige uma frente ambiental capacitada, multidisciplinar e propositiva, não para aceitar tudo, mas para viabilizar o que é possível com responsabilidade.
A Natureza não precisa de discursos inflamados. Precisa de gente preparada para protegê-la, com eficiência e coragem e ferramentas atualizadas.