Suprimento garantido é essencial para atrair data centers

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Suprimento garantido é essencial para atrair data centers

Duas medidas provisórias enviadas ao Congresso - MP 1.307/2025 e a 1.318/2025 – restringem o suprimento de data centers apenas a energia renovável. No entanto, para o país atrair projetos Tier 3 e Tier 4 precisará oferecer segurança competitiva das térmicas

Por Eugênio Melloni

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Datacenter modular do Serpro (SP), que recebeu classificação Tier 3: projetos com esta certificação prevêm indisponibilidade de suprimento de energia de, no máximo, 1,6 horas por ano (Foto: Divulgação)

Especialistas consultados pela Brasil Energia dizem que, se as MPs passarem no Congresso, a exigência quanto ao suprimento exclusivo de fontes renováveis pode impactar os planos de atração de projetos de data centers para o país, uma vez que algumas categorias desses empreendimentos demandam suprimento de energia ininterrupto.

“As duas MPs são totalmente fora da realidade. Os data centers têm de contar com oferta de energia firme e com qualidade por 365 dias por ano. Por isso, no mundo inteiro, os projetos de data centers contam, como backup, com projetos de usinas térmica a gás ou até mesmo usinas nucleares”, afirmou Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

A MP 1.307/2025, publicada em 21 de julho, determina critérios para que empresas de data centers possam usufruir dos benefícios tributários atribuídos às Zonas de Processamento de Exportação (ZPE). Entre os critérios está a obrigatoriedade de que toda energia elétrica a ser utilizada nos projetos deva ser fornecida por usinas de fontes renováveis que não haviam entrado em operação até a data de publicação da MP.

A MP 1.318/2025, publicada em 18 de setembro, modifica a Lei 11.196, de 2005, que trata dos regimes de incentivo a empresas de tecnologia, para incluir as regras de funcionamento do Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter (Redata), criado para atrair projetos de data centers para o Brasil. Entre outras medidas, a MP estabelece a exigência de energia 100% renovável ou limpa com zero emissão de carbono para atender os projetos de data centers.

De acordo com Victor Ribeiro (foto),Victor Ribeiro, consultor estratégico da empresa de consultoria Thymos  se o Brasil quiser conquistar espaço importante, na disputa por projetos de data centers, deverá atrair um tipo de empreendimento que exige indisponibilidade mínima no fornecimento de energia. “São os data centers dedicados a operações críticas”, explica.

Esses data centers, segundo estudo realizado pela empresa de consultoria, são definidos como Tier 3 e Tier 4, em uma escala que leva em conta justamente a questão da disponibilidade de energia. Os projetos classificados como Tier 1 e Tier 2 apresentam pouca exigência em relação à segurança energética, muitos deles podendo ser ligados diretamente à rede elétrica.

Os classificados como Tier 3 e Tier 4, contudo, têm como característica a necessidade de oferta segura de energia. Os projetos Tier 3, que a consultoria estima que serão em torno de 60 no país, preveem indisponibilidade de suprimento de no máximo 1,6 horas por ano. Para garantir essas condições, esses projetos devem contar com geração própria de energia firme na mesma capacidade de consumo do data center.

No caso do Tier 4, a indisponibilidade é inferior a uma hora por ano. Para isso, exige-se que conte com capacidade de geração duas vezes superior à demanda do projeto. A Thymos acredita que poucos projetos dessa classificação se desenvolverão no Brasil. Ribeiro lembra que nos Estados Unidos alguns projetos chegaram a recorrer à reativação de usinas nucleares, fora de operação há anos, para a garantia de suprimento confiável.

Segundo o consultor, caso as MPs passem com as exigências em relação a fontes renováveis, haveria a possibilidade de data centers serem atendidos por geração térmica a base de biometano ou biodiesel. “Mas essa geração, por ser mais cara do que a geração a gás natural, por exemplo, apresenta menor viabilidade”, disse ele.

A Thymos estima que até 200 datacenters poderão ser instalados no Brasil. Neste ano, a expectativa é que já contem com cerca de 850 MW de capacidade instalada. Até 2035, deverão representar uma demanda de até 15 GW.

Projeto de térmica em Sergipe

Se a obrigatoriedade de fornecimento de energia renovável para data centers passar no Congresso, o projeto de termelétrica a gás natural que está sendo negociado entre a Optimus Technology Group, companhia americana de tecnologia, e a Eneva poderá ser diretamente atingido.

A Optimus está negociando com o Governo de Sergipe a instalação de um data center em ZPE no estado. Na assinatura de um protocolo de intenções entre o Governo do Estado e a companhia norte-americana, em março último, foram anunciados investimentos de cerca de US$ 1 bilhão, compreendendo, além do data center, a instalação de um centro de pesquisas.

Segundo o secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia de Sergipe, Marcelo dos Santos Menezes (foto), o data center da Optimus terá uma demanda inicial de cerca de 150 MW. Em um horizonte de 10 anos, o projeto poderá exigir até 2 GW, o equivalente a mais que o dobro do consumo de energia do estado.

As negociações em curso preveem, segundo Menezes, que 80 MW da demanda inicial deverão ser atendidos pela rede elétrica e o restante por uma usina termelétrica a ser construída pela Eneva. Ainda está em discussão se a termelétrica será construída no terreno do datacenter, o que pouparia o empreendimento dos riscos inerentes à transmissão e distribuição, ou nas instalações da Eneva, segundo o secretário. Ele acrescentou que o data center terá ainda um sistema de armazenamento em baterias.

A Eneva tem um terminal de GNL em Sergipe com capacidade de 25 milhões de m3/dia. O terminal já está ligado à rede de transportes por uma conexão de 25 quilômetros construída pela TAG. Desse total, 6 milhões de m3/dia atendem a uma termelétrica da empresa, de 1,6 GW. “Ou seja, o terminal tem condições de atender a várias demandas no estado”, afirmou Menezes.

Termelétrica da Eneva em Sergipe

Termelétrica da Eneva em Sergipe, de 1,6 GW a gás, pode atender várias demandas do estado (Fonte: Divulgação)

O secretário destaca ainda que a exigência de fontes renováveis para o atendimento aos data centers “não existe em lugar nenhum do mundo”.

“É necessário contar com uma fonte firme de energia para suprir os projetos de data centers quando a energia renovável não estiver disponível. Durante o dia, hoje, nós temos esse excesso de produção, mas à noite essa energia não está disponível.”

Apesar de contar com sistemas de baterias, o projeto do data center da Optimus vai depender da termelétrica para dispor da segurança necessária. As baterias projetadas para o data center servirão para atender a necessidades pontuais, oferecendo energia suficiente para poucas horas.

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