Opinião

Entendendo o mercado de energia em um momento de incertezas sem precedentes

Artigo de José de Sá, sócio da Bain & Company

Por Redação

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Prever mercados é algo difícil de colocar em prática e envolve diversos riscos. Mas o desafio é particularmente complexo nos mercados de energia atuais, já que novas reservas de petróleo e gás – de repente – entram no mercado com baixos custos, impactando a indústria de energia, bem como outros setores que consomem muita energia ou se baseiam em produtos petroquímicos como matéria-prima.

A incerteza que desafia os executivos hoje decorre do fato de que os mercados de petróleo, gás natural e Líquido de Gás Natural (LGN) nos Estados Unidos já experimentaram choques de oferta nos últimos anos, devido ao aumento das fontes não convencionais. O tight oil é o que mais cresce, registrando ganhos de 42% ao ano entre 2009 e 2012. O gás de xisto, antes inexistente como fonte de fornecimento, agora é rival de todas as fontes convencionais. Os LGNs também estão com taxas de crescimento nunca antes vistas.

A magnitude da produção e a localização das formações não convencionais estão criando gargalos de infraestrutura que restringem os fluxos de petróleo e gás para gerar demanda ao mercado. Isso resultou na dissociação entre o gás natural e os preços do petróleo nos Estados Unidos, além de preços mais baratos do que no resto do mundo.

Em um cenário de tight oil abundante, a redução das importações dos EUA poderia trazer para baixo o preço global do petróleo, aumentando de 5 milhões para 7 milhões de barris por dia o petróleo em circulação. Se além disso o Canadá, o Iraque e o Brasil alcançarem seu objetivo de produção, a oferta global poderia superar a demanda de 8 milhões para 18 milhões de barris por dia, um excesso de oferta que poderia facilmente desencadear um colapso nos preços.

É difícil estimar o tamanho de um potencial colapso nos preços, mas situações de excesso de oferta antes vistas reduziram os valores do petróleo entre 30% e 70%. Uma queda do preço nesse nível prejudicaria a economia de todas as fontes de alto custo do petróleo bruto, incluindo as fontes de custo mais elevado de tight oil.

O potencial de um colapso global de mercados de gás natural e LGN também é expressivo. O gás de xisto em abundância poderia deslocar todas as outras fontes de gás natural nos EUA (com exceção do gás associado) e deixar muita quantidade para exportação.
Nosso trabalho com executivos nos ajudou a identificar as armadilhas comuns nas quais as empresas podem cair quando são confrontadas pelo tipo de incertezas que vemos na indústria de energia hoje. Algumas delas resultam da insegurança: tratar a incerteza como desconhecida; focar somente nas coisas que podem ser controladas; assumir uma postura de “esperar para ver”; e não apostar em inovação ou novos negócios.

Há, também, algumas ciladas que são causadas pelo excesso de segurança, o que também é uma reação comum quando incertezas devem ser enfrentadas: tomar posições ousadas, mas não realistas; deixar de se antecipar à concorrência; fazer grandes apostas que travam projetos futuros; ter pouco ou nenhum gerenciamento de risco; aderir rigidamente aos atuais modelos de negócios.

Estratégias em momentos de incerteza requerem o desenvolvimento de cenários de oferta e demanda que identifiquem sinais que determinam esses níveis, bem como os preços que impulsionam mercados de substituição de combustível e de importação e exportação, além do acompanhamento dos principais indicadores, a fim de prever potenciais colapsos. Identificar as decisões que as equipes terão de tomar antes de uma situação crítica torna a empresa mais ágil e com habilidade para responder rapidamente às realidades do mercado, o que, no caso, é mais eficaz do que usar o tempo para estudar os últimos acontecimentos que chacoalharam a indústria.

José de Sá é sócio da Bain & Company

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