Opinião

Gás natural, WGC e o mercado global

A estreia de Ieda Gomes como colunista de Brasil Energia

Por Redação

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A Conferência Mundial de Gás, WGC 2012, realizada em junho na Malásia, reuniu cerca de 5 mil delegados e líderes da indústria. Seu tom foi otimista quanto ao papel do gás na energia mundial. CEOs de empresas como Shell e Exxon reiteraram a importância do energético em seu portfólio e alertaram quanto à necessidade de governos e reguladores aprenderem com os erros e acertos dos produtores nos EUA. 
Pela oferta, o otimismo ficou com o gás de xisto, que revolucionou a produção nos EUA, e seus potenciais desdobramentos em outros países; com as descobertas de gás na África e Costa Mediterrânea; com os megaprojetos de GNL na Austrália; e com a entrada dos EUA como exportador de GNL.  
A conferência discutiu a viabilidade da produção em grande escala de gás de xisto em outros países. A revolução americana do shale gas decorre de reservas abundantes e baixo custo de produção. Hoje, ele corresponde a 30% da produção de gás nos EUA. 
Segundo enquete da GL Noble Denton, 81% dos presentes na WGC crêem que a China vai ser o maior produtor mundial de gás de xisto em 2030. A Wood Mackenzie prevê que a produção de shale gas na China atinja 400 milhões de m3/dia no mesmo ano. 
A preocupação com impactos ambientais motivou França e Bulgária a suspenderem a exploração de gás de xisto. Em resposta a isso, a AIE lançou as Regras de Ouro (Golden Rules), para orientar produtores de gás. As regras incluem engajamento de comunidades locais, monitoramento constante das áreas de perfuração, tratamento responsável da água, isolamento e prevenção de vazamentos, informação sobre fluidos usados no fracionamento, eliminação de venting e minimização de flaring.
O Canadá vem trabalhando para exportar GNL. Dois projetos já foram aprovados, Kitimat LNG e BC LNG, e há dois outros em desenvolvimento, liderados por Shell e Petronas. Com eles o Canadá poderá exportar 27 mtpa até 2020. Na África, Moçambique e Tanzânia fizeram descobertas de quase 100 TCF. Tendo em vista o incipiente mercado doméstico, esse volume alavancaria projetos de GNL. 
Na demanda, o tom é otimista nos EUA. O consumo de gás para gerar energia deverá crescer 16% em 2012, atingindo 830 milhões de m3/dia. O consumo na indústria cresceu 44% de 2009 a 2012, chegando a 693 milhões de m3/dia. E os baixos preços estão redinamizando a indústria petroquímica: a Exxon anunciou novos projetos no Texas para 2016, e a Shell estuda projetos próximos às jazidas Marcellus, na Pennsylvania. 
A AIE prevê que a Ásia e o Oriente Médio liderarão o aumento da demanda, com a primeira triplicando seu consumo, para 2 bilhões de m3/dia em 2030. No curto prazo, o Japão ainda é o maior consumidor regional de GNL. A parada de suas 54 plantas nucleares gerou demanda adicional de 19 mtpa – 8% da produção mundial. A China deverá ser o segundo mercado mundial de gás natural em 2020. Segundo o presidente da CNPC, Zhou Jiping, o país já é o quarto mercado, com 360 milhões de m3/dia. A participação do GN na matriz chinesa cresceu de 2,4% para 5% entre 2000 e 2011 e deve chegar a 10%-12% em 2030. A demanda aquecida obrigou o país a importar GNL. Não por acaso o primeiro ministro da Malásia, Dato’ Sri Najib, inaugurou terminal de 3,8 mtpa em Malacca na abertura da WGC 2012.
Na Europa, o consumo de gás caiu 2,1% em 2011, e o carvão tem sido mais competitivo que o gás. Na Alemanha, onde 25% da capacidade instalada é eólica e solar, usinas a carvão têm tido preferência no despacho sobre usinas a gás. 
A WGC discutiu ainda a criação de um preço global para o GNL. Hoje coexistem três preços regionais: Ásia (US$ 16-US$ 18/MMBTU), Europa (US$ 9-US$ 10) e os EUA (cerca de US$ 2,50). 
Os preços baixos nos EUA geraram capacidade ociosa nos terminais de GNL. No primeiro trimestre as importações americanas caíram para 26 milhões de m3/dia, em comparação com 105 milhões de m3/dia em 2007. Os operadores dos terminais de importação propõem transformá-los em terminais de exportação, com a adição de trens de liquefação. O projeto da Chenière em Sabine Pass contempla quatro trens de 56 milhões de m3/dia. O preço FOB do primeiro trem seria de 115% do Henry Hub mais tarifa de liquefação de US$ 3/MMBTU. Caso HH atinja US$ 4,50, o GNL dos EUA chegaria ao Japão por US$ 10/MMBTU, enquanto o GNL australiano chegaria a US$ 15. Os consumidores asiáticos querem desvincular o preço do GNL do preço do petróleo, alegando que o gás compete com carvão na produção elétrica. Por outro lado, produtores de gás defendem esse atrelamento devido à complexidade dos novos projetos e a fatores inflacionários que elevaram em 75% os custos de produção de 2005 a 2011. 
 
 
A coluna de Ieda Gomes é publicada a cada três meses

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