Opinião

Incertezas e impactos do acidente da sonda Deepwater Horizon

Por Ricardo Hatschbach, analista da Gávea Investimentos

Por Redação

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Os impactos financeiros, econômicos e regulatórios do acidente com a sonda Deepwater Horizon – que perfurava o poço de Macondo, no bloco 252 do Golfo do México americano, a 64 km da costa da Luisiana, a 1,5 mil m de lâmina d’água e com 5,5 mil m de profundidade até o momento do acidente – ainda são imprevisíveis, embora alguns números já comecem a se desenhar. A começar pelo que a BP, operadora da área, terá de desembolsar para recolher o óleo derramado, estancar o vazamento do poço – em ações que têm sido frustradas e podem demorar até três meses – e ainda resolver os danos socioambientais. Somente até 24 de maio, pouco mais de um mês após o acidente, a companhia já tinha gastado mais de US$ 760 milhões em resposta ao vazamento.

Desde a data do acidente até o fim de maio, o valor da petroleira britânica, medido em dólar, caiu US$ 55 bilhões. Se procurarmos expurgar outros fatores macroeconomicos as perdas seriam menores, mas, ainda sim, acima de US$ 20 bilhões, valor que impressiona do mesmo jeito.

Entretanto, esse impacto parece ser muito acima do custo total esperado – de alguns bilhões de dólares – que BP e suas sócias no projeto, Anadarko e Mitsui, terão com o acidente. O custo total ainda dependerá muito da extensão dos danos às costas dos estados do Alabama, Luisiana, Flórida e Mississipi. Mas sabemos que a Exxon, por exemplo, gastou entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões com o caso Exxon Valdez – até agora considerado o pior desastre ambiental da indústria do petróleo nos EUA, e que, ao que tudo indica, será superado pelo problema em Macondo.

Em virtude do descontentamento do governo americano em relação à solução definitiva para o vazamento – de início estimado em 5 mil barris/dia de óleo, mas recentemente revisado para um range de 12 mil-19 mil barris/dia –, em 27 de maio o presidente Barack Obama adotou medidas mais severas e imediatas em relação à exploração de petróleo nos EUA, sendo as principais:

• Suspensão imediata das sondas em operação em águas profundas no Golfo do México;
• Suspensão por mais seis meses de novas licenças exploratórias em águas profundas;
• Cancelamento da expansão da atividade offshore nos EUA e prorrogação da exploração no Alasca até 2011.

Adicionalmente, o setor de petróleo nos EUA ainda vai vivenciar algumas mudanças importantes. Apesar de ainda ser cedo para estimar o impacto financeiro sobre as empresas, é possível chamar a atenção para alguns pontos interessantes:

O regulador americano MMS (Minerals Management Service) deverá ser separado em três entidades: uma será responsável por coletar os royalties do petróleo, outra, por inspeção e segurança das plataformas, e a terceira fará o planejamento e aprovará as licenças de exploração.

A moratória da exploração por seis meses levará a uma intensa negociação entre empresas de petróleo e operadoras de sondas para minimizar as perdas financeiras com as unidades paradas. Não é simples deslocar as sondas para outros projetos, e por esta razão estima-se que as perdas das empresas de petróleo da região poderão passar de US$ 1 bilhão.

Aumento dos royalties no Golfo do México: aproximadamente, para cada ponto percentual de aumento, as empresas de petróleo operando na região terão seu lucro líquido reduzido entre 0,5% e 1% por ano.

Haverá um maior prêmio nos seguros das sondas: se assumirmos um acréscimo de 20% no prêmio, o custo adicional, para uma sonda de US$ 800 milhões, ficaria em torno de US$ 800 mil e US$ 1,6 milhão/ano, ou US$ 2,2 mil e US$ 4,4 mil diários.

Maiores custos de desenvolvimento e operacionais devido a procedimentos adicionais, maior redundância e/ou menor vida útil dos equipamentos: cada incremento de cerca de 10% no custo de construção de uma sonda ocasiona um aumento de 5% a 6% no aluguel diário da unidade.

Por enquanto, as primeiras medidas serão sentidas nas operações de águas profundas/ultra-profundas do Golfo do México. Mas é certo que o fator Deepwater Horizon levará a uma reflexão sobre regulação e regras nas regiões com maior crescimento da exploração em águas profundas, como África, Ásia e América Latina, em especial o Brasil.


Ricardo Niemeyer Hatschbach - Analista da Gávea Investimentos

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