Opinião

Já é possível falar no fim dos combustíveis fósseis?

Por Redação

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O mundo vive hoje um trilema no setor energético: garantir o atendimento a uma demanda crescente, que deve dobrar nos próximos 12 anos; incluir 1 bilhão de pessoas que hoje não têm acesso à eletricidade; e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) para mitigar o aquecimento global e seus efeitos negativos. Conciliar esses três objetivos é o principal desafio de governantes e investidores neste século 21.

É inegável o expressivo avanço das fontes de energia renováveis, como eólica e solar, nos últimos anos. A crescente e cada vez mais organizada pressão mundial em favor da mitigação dos impactos ambientais tem levado ao expressivo aumento dos investimentos e da capacidade instalada destas tecnologias, especialmente após a virada do milênio. Como resultado, o custo destas fontes tem se tornado cada vez mais competitivo em relação ao óleo, gás, carvão e nuclear. Mas ainda é cedo para pensar no fim dos combustíveis fósseis.

O expressivo aumento da demanda não poderá ser suprido apenas pelas renováveis. O último relatório World Energy Outlook, da Agência Internacional de Energia (AIE), projeta que o consumo de combustíveis fósseis continuará crescendo até 2040, especialmente o de gás natural, que deve avançar 50% no período. Petróleo, gás e carvão também continuarão a exigir a maior parte dos investimentos, recebendo 60% dos US$ 44 trilhões previstos nas próximas duas décadas.

Nem assim será possível incluir toda a população mundial. Mais de 500 milhões de pessoas devem continuar sem acesso à energia elétrica, segundo o mesmo estudo da AIE. Portanto, o fim dos combustíveis fósseis ainda é uma realidade distante. Antes disso, governantes, empresas e investidores precisam encontrar uma forma de garantir o atendimento à demanda por energia, de forma econômica e limpa.

Esse desafio tem enfrentado problemas, como a crise de 2008, que reduziu a capacidade financeira dos investidores e levou vários países a cortar subsídios para as fontes renováveis. O crescimento do setor foi retomado, mas ainda há problemas a serem superados, como o fato de a geração das usinas solares e eólicas ser intermitente, o que exige investimentos adicionais em energia firme, como as térmicas a gás natural, ou em novas tecnologias de armazenamento, ainda economicamente inviáveis em grande escala.

A boa notícia é que as fontes limpas estão cada vez mais competitivas. Em 2016, por exemplo, o investimento em geração solar fotovoltaica caiu 32% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Mas a queda foi motivada principalmente pela forte redução de preços dos equipamentos. A capacidade instalada no ano aumentou 20%, mesmo com bem menos dinheiro.

Por todas essas razões, é preciso ter cautela com as projeções sobre a mudança do perfil energético e sobre o futuro abandono do petróleo, do gás natural e do carvão. Há muitos obstáculos a serem superados e, ao que tudo indica, os combustíveis fósseis permanecerão abastecendo o mundo por um bom tempo.

Sérgio Malta é diretor do
Conselho de Energia da Firjan

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