Opinião

Novos caminhos para a geração distribuída

Por Redação

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A interrupção no suprimento energético ocorrida em 19 de janeiro e que paralisou setores importantes da economia por cerca de uma hora, trouxe à luz a necessidade de novos investimentos no sistema elétrico do país. Sem ter fontes auxiliares de abastecimento capazes de atender ao aumento do consumo no horário de ponta, que naquele momento demandava 1.000 MW adicionais em relação ao planejado, o Operador Nacional do Sistema (ONS) se viu obrigado a interromper momentaneamente o suprimento energético a algumas áreas para equilibrar a demanda e a oferta de energia. Apesar de se tratar de um caso isolado, o episódio possivelmente levará a um novo modelo de geração de energia, com a introdução de tecnologias capazes de atender ao aumento da demanda e que, paralelamente, possam ser acionadas com agilidade em momentos críticos.

O governo já acena com a possibilidade de criar novos incentivos à geração distribuída, o que, se levado adiante, garantirá maior resiliência, estabilidade e segurança ao sistema elétrico central. Baseadas nos modelos utilizados na aviação comercial, as turbinas aeroderivadas surgem como forte candidatas a ocupar o gap existente, visto que podem ser instaladas rapidamente – entre algumas semanas a alguns meses, dependendo do escopo do projeto – e podem ser rapidamente acionadas – em algumas plantas a capacidade máxima de geração é atingida em poucos minutos, sem grandes impactos em custos de manutenção em decorrência das partidas rápidas e frequentes.

No cenário brasileiro, a geração distribuída a partir das turbinas aeroderivadas parece ser a melhor opção para lidar com o atual momento. Ao adotar essa estratégia, o país estaria inclusive seguindo o exemplo bem-sucedido de países que já investem na tecnologia como forma de dar mais segurança e estabilidade ao sistema central. Na Califórnia, por exemplo, termelétricas distribuídas em regiões urbanas são acionadas diariamente para suportar o horário de ponta registrado entre as 17 horas e as 20 horas, adicionando mais de 12 GW ao sistema apenas durante algumas horas. Outro exemplo é a cidade de Nova York, que conta com onze turbinas aeroderivadas, num total de 500 MW, instaladas dentro da zona urbana, que operam todos os dias para garantir a estabilidade da rede de distribuição nas horas de ponta.

Com o sistema elétrico no Brasil dando mostras de estar próximo ao limite de sua capacidade de transmissão, a geração distribuída não surge apenas como alternativa para dar mais resiliência ao sistema, mas também como um modelo que pode ser amplamente utilizado pela indústria. Com a alta no preço da energia, diferentes segmentos passam a demandar tecnologias que lhes possibilitem reduzir por completo ou parcialmente a dependência do sistema elétrico centralizado. Na prática, podemos estar assistindo a uma mudança profunda no modelo de produção e à introdução de tecnologias que até então atendiam quase que majoritariamente segmentos específicos da indústria, como o de petróleo e gás.

Para o segmento industrial, inclusive, já existem soluções que podem ser customizadas de acordo com a necessidade da planta. Hoje, é possível contratar frotas móveis de turbinas aeroderivadas, adaptando assim o sistema à demanda energética da indústria, seja ela de médio ou de grande porte. No caso de grandes indústrias, um sistema simples gerando entre 25 MW a 50 MW poderia ser rapidamente instalado, utilizando diferentes fontes como combustível, como os gases residuais resultantes da atividade industrial, gás natural, etanol ou diesel. A diversificação de fontes ajudaria a garantir flexibilidade e maleabilidade ao modelo de geração no caso de haver flutuações no preço dos combustíveis.

Seja para suprir o horário de ponta ou as necessidades da atividade industrial, o investimento em geração distribuída parece ser o mais inteligente e viável numa visão de curto a médio prazo. Nesse ponto, as turbinas aeroderivadas ocuparão um papel estratégico ao guiar o país para um modelo mais estável e seguro de geração e consumo de energia.

John McNeill Ingham é Diretor Técnico
na GE Power & Water

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